Fazendo Cerveja na Calçada

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Ume

O Projeto Cerveja em Dupla é uma iniciativa da Acerva Paulista (Associação dos Cervejeiros Artesanais Paulistas) e do bar Empório Alto dos Pinheiros (EAP) que convida dois cervejeiros para inventar uma receita e fazer uma brassagem na calçada do bar. O clima é sempre divertido pela situação surpreendente e didático porque todos frequentadores podem chegar perto e ver o que está acontecendo.

Mas o que é uma brassagem? A brassagem nada mais é do que o cozimento do malte para extrair os açúcares necessários à fermentação da cerveja. Tem que ser feito o controle da temperatura do cozimento para uma melhor extração dos açúcares do malte. O grão moído é misturado com água quente num recipiente grande. Neste recipiente, o grão e a água são misturados para criar um mosto de cereais. Este líquido rico em açúcar ou mosto é então filtrado através da parte inferior do recipiente num processo conhecido como drenagem. Mas vamos conversar com a dupla convidada de novembro: Maíra Kimura, sócia da 2Cabeças e Fernanda Ueno, da Colorado.

Lupulinas – Qual estilo de cerveja vocês vão produzir?
Maíra – Uma Black Saison com Umê, que é uma frutinha japonesa…
Lupulinas – Que é a do umeboshi!
Maíra – Sim, que é a do Umeboshi!
(Umeboshi é uma espécie de ameixa japonesa em conserva muito ácida e salgada. É usado na cozinha e a ela se atribui vários poderes curativos)

Lupulinas – Descrevam para o leitor do nosso blog o processo que foi feito até agora e o que vem na seqüência, para que essa cerveja seja consumida.
Fernanda – A gente chegou aqui e já estavam arrumados o fogão e as panelas e já tinham moído o malte.
Colocamos a quantidade certa de água para esquentar e aí, quando chegou na temperatura adequada, a gente acrescentou o malte e ficou cozinhando por mais ou menos uma hora. Depois começamos a recirculação. No início o mosto está turvo, então precisa fazer a recirculação.
(Para fazer a recirculação, vamos extrair parte do líquido pela válvula extratora na parte inferior da panela e devolvê-lo à panela pela parte de cima, tentando mexer o mínimo possível na camada de malte. Assim esta camada de malte vai se transformar em um filtro natural, onde as cascas do malte vão ajudar no processo de contenção das partículas do líquido.)
Depois então fizemos a filtração do mosto primário e depois a filtração do mosto secundário, o enxágüe. Então colocamos em outra panela para ferver. Durante a fervura, adicionamos o lúpulo e, no final da fervura, o lúpulo de aroma, um lúpulo japonês chamado Sorachi Ace e também o Umê, ambos nos 5 minutos finais da fervura.

Lupulinas – Maíra, fala pra mim o que vai ser feito depois disso e especifica o tipo da cerveja, teor alcoólico, etc
Maíra – A gente vai agora resfriar o mosto com o uso de um chiller (máquina frigorífica). Colocamos o mosto ali dentro e vamos passando água gelada para resfriar até atingir a temperatura ideal para inocular a levedura. Se inoculamos a levedura com o mosto nessa temperatura, a levedura, que é um ser vivo, morre. Temos que baixar para menos de 30 graus. A levedura que vamos usar é específica para esse estilo de cerveja que queremos produzir, a Saison. Ela geralmente é clara, mas a gente fez uma escura. Para isso usamos uma fração do malte torrado. Portanto vai sair uma Saison Black com Umê que vai dar um toque bem ácido. Vai ser quase uma Sour. Queremos que ela fique bem seca.

Lupulinas – E quem teve a idéia de fazer essa cerveja?
Fernanda – A gente que pensou aqui.

Lupulinas – E ela nunca foi feita antes?
Maíra – Não, nunca.

Lupulinas – E depois desta brassagem como o processo continua?
Fernanda – Depois daqui, vamos resfriar, colocar a levedura e vai ficar um tempo fermentando. Pelo menos uma semana, mais de uma semana talvez. A gente quer que ela fique bem seca, tire todo o açúcar. Depois vamos colocar para maturar e na próxima Brassagem em Dupla, aqui no EAP, com outros dois cervejeiros convidados e a galera vamos beber. Fizemos 20 litros que vão ser engarrafados em garrafas de 500 ml.

Lupulinas – Maíra, é a primeira vez que você faz uma brassagem na rua?
Maíra – É, na rua é.
Lupulinas – E você, Fernanda?
Fernanda – Também. Assim na calçada, com todo mundo passando… É! Gostei!

Lupulinas – Fernanda, qual a sua experiência? O que você fez antes?
Fernanda – Eu comecei a fazer cerveja em casa em 2009, faz bastante tempo. Agora eu trabalho diretamente na produção na Colorado. Mas continuo na panelinha até hoje, eu adoro. A gente tem uma cozinha de 50 litros na Colorado para testes e quatro tanquinhos. Meus tanquinhos estão sempre cheios porque eu gosto bastante. É a parte que eu acho mais interessante fazer, receita nova, testar ingrediente novo…

Lupulinas – E você já é uma mestra cervejeira?
Fernanda – Ainda não, estou indo agora em janeiro para escola, em Daves, na California. Vou ficar 6 meses lá para fazer o curso de mestre. Em julho serei!

Lupulinas – Eu tô querendo implantar uma nova nomenclatura, a MestrA Cervejeira! (risas)

Lupulinas – E você, Maíra? Fala um pouco pros nossos leitores quem é você.
Maíra – Eu não trabalhava com cerveja. Minha formação acadêmica é de publicitária. Aí quando fui morar na Europa eu queria fazer uma coisa diferente, eu sempre gostei de cerveja e fui estudar na Inglaterra. Fiz um curso lá de quatro meses. Não sou mestrA-cervejeira, fiz um curso técnico. E eu me apaixonei, comecei a fazer um monte de cursos. Apareceu um curso de sommelier, eu fiz também. Aí quando eu voltei para cá, fiz o curso do SENAI também, de Tecnologia Avançada Cervejeira e to aí.

Lupulinas – Qual a sua função na 2Cabeças?
Maíra – Eu sou proprietária, uma das sócias. E sou cervejeira também.

Lupulinas – Você não fica com o departamento de publicidade da 2Cabeças?
Maíra – Na verdade a gente é muito pequeno, então todo mundo faz tudo.

Agora é esperar o resultado desta especialíssima Saison Black com Umê que vai receber um rótulo bem legas desenvolvido por Alexandre Nani, do ICBDesign.

PS – gracias a Luciana Moraes pela transcrição da entrevista

Fotos de Cilmara Bedaque

 

Lançamentos, festivais, festas, aniversários… Ufa! É fim de ano

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Meio de novembro e o fim de 2014 chega atropelando todo mundo. No meio cervejeiro artesanal não é diferente. Muitos eventos programados, certa euforia pelo crescimento do mercado e, ao mesmo tempo, uma incerteza quanto ao destino dos produtores artesanais que dependem de incentivos que esperamos serem aprovados pelo Congresso.

Mas vamos aos eventos:

Chegou a Cacildis™

A Brassaria Ampolis, que já produz a Biritis™, lança a Cacildis™. É uma pilsen leve e refrescante, com excelente bebabilidade e uma verdadeira porta de entrada para quem quer experimentar uma boa cerveja sem se assustar com doses elevadas de lúpulo e amargor. Feita para agradar o gosto do brasileiro que bebe cervejas da Grande Indústria, a Cacildis™ chega aos mercados em garrafas long neck e preço na base dos R$8,50. Mais de 600 pontos de venda receberão a Cacildis™ que deve se transformar na ponta de lança da Ampolis que tem o filho de Mussum, Sandro Gomes, como um dos sócios. Em breve este blog vai contar a história desta cervejaria que tem propostas sérias sem perder o humor.

15 anos da Cervejaria Wäls

Este ano foi mais que especial para os irmãos Carneiro, donos da Cervejaria Wäls. Muitos prêmios, a construção de uma nova fábrica e um bar de degustação marcaram o crescimento de seu negócio. Resolveram comemorar os quinze anos da Wäls com quinze dias de presentes para seus consumidores! Começa neste sábado, dia 15 de novembro e vai até o dia 29, uma super promoção de chope Wäls a sensacionais cinco reais! Pena que esta maravilha só pode ser viabilizada em seus domínios, mas é isto daí: cervejaria local. Então queridos habitantes de Belo Horizonte, aproveitem! A festa vai acontecer no Stadt Jever e no Tasting Room da Wäls. Aqui a programação.

Mikkeller série Brewed for Brazil

Esta semana estive no EAP (Empório Alto de Pinheiros, templo da artesanal em SP) para degustar os seis tipos de cerveja que a Mikkeller fez especialmente para o Brasil. Esta cervejaria dinamarquesa é conhecida pela sua originalidade e ousadia que fazem parte de suas receitas e de sua atitude como marca. Em uma união das importadoras Tarantino e Interfood, a Mikkeller chega para conquistar o Brasil cervejeiro artesanal. Promovendo a ação, os importadores levaram ao EAP o simpático Mixen Lindberg, diretor de pesquisa da Mikkeller que experimentou conosco as novas cervejas e contou um pouco da história da cervejaria. Voltaremos também a MIkkeller mais longamente neste blog.

Butantan Food Park

Este evento faz parte do lançamento da série brasileira dedicada ao Brasil feita pela Mikkeller. Os seis rótulos de cerveja, entre eles APA, Brett APA, Hoppy Larger, Coffee IPA, Session IPA e Hoppy Wit possuem graduação alcoólica média de 5%, excelente bebabilidade para o nosso clima pelo seu frescor. São artesanais, aromáticas, feitas com produtos naturais e sem uso de conservantes. Além da série brasileira, também poderá ser experimentada a famosa Mikkeller 1000 IBU, com 9,6% de teor alcoólico e 1000 IBUs (Unidade de Amargor). Esta medida de é mais uma maluquice da Mikkeller porque o paladar humano não consegue assimilar tanto amargor, mas o nome serve pra indicar que a 1000 IBU não veio para brincadeiras. Para forrar o estomago diante de tantas delícias, o Vinil Burger também vai participar do evento com sugestão de burgers e cervejas. É a boa do dia em SP. Butantan Food Park – Rua Agostinho Cantu, 47, Butantã Data: 15/11/2014 Horário: 11h às 22h Estacionamentos próximos ao local e para-bike interno.

Wikibier Festival

Este festival é para a alegria dos curitibanos e/ou pra quem puder chegar dia 15 de novembro por lá. Garanto que valerá a pena. Mais de 100 rótulos e 50 cervejarias participam do evento. Destaque para a Wensky Beer, de Araucária, que faz o lançamento da refrescante Malina, uma Fruit Bier de cor rose, feita de trigo e maturada com framboesas; a Cervejaria Invicta lança a Bavarian IPA que tem uma flor afrodisíaca em sua receita; a Bastards Brewery, com a Piná a Vivá, uma Imperial India Pale Lager,uma pedrada de 8,5% de teor alcoólico que não percebemos graças a seu equilíbrio e a nova Cervejaria Palta, que traz a XLager, que vem carregadíssima no lúpulo. O Wikibier será no dia 15 de novembro na Expo Unimed.Maiores informações aqui

Cervejaria Capitu

Neste concorrido 15 de novembro em SP a novíssima Cervejaria Capitu lança dois estilos de cerveja: uma Tilted Barn e uma Amber Ale. Ousadia dos arquitetos e mestres especialistas em cerveja, Frederico Ming e Marcelo Holl Cury que usam estilos menos comuns para o lançamento de sua marca. O evento especial será na Feira Gastronômica Comidinhas, das 13h às 20h, Rua Estados Unidos, 1626. Maiores informações aqui

Cilene Saorin: mestra-cervejeira sim. Por que não?

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Eu, Lupulina Cilmara Bedaque, conheci Cilene Saorin quando fiz um programa pro canal GNT onde ela era consultora sobre cervejas e seus estilos. Uma das primeiras mestras-cervejeiras do Brasil, Cilene invadiu este mundo masculino com muita firmeza, mas também com delicadeza e precisão. A quantidade de títulos, cursos e especializações que já fez ela prefere esconder sob o manto do amor à cerveja. Mas informamos que Cilene é do time da Associação Brasileira dos Profissionais em Cerveja e Malte desde 1999 e presidente desde 2004. Aulas, palestras, projetos e feiras especializadas recebem também sua consultoria. Também é membro do Comitê Internacional do Institute of Brewing & Distilling, na Inglaterra. Isso tudo entre outras inúmeras atividades. Fiz uma entrevista com ela, agora, pra ilustrar com histórias de pessoas tudo o que gravita ao redor do mundo da cerveja.

Lupulinas – Se você tivesse que se apresentar em uma palestra ou pro leitor do Lupulinas o que diria?

Cilene – Bom, eu normalmente me apresento com meu nome, é lógico, eu sou Cilene Saorin, uma profissional das cervejas. Sem falar muitos títulos técnicos, mas uma profissional a serviço das cervejas.

Lupulinas – Como, quando e por que nasceu este seu interesse pelas cervejas?

Cilene – Como, eu estava estudando no quarto ano de Engenharia de Alimentos, em 1992 (o que já revela muita coisa… risos) tinha uma imensa vontade de fazer um estágio em tecnologia de fermentações. A priori, poderia ser numa fábrica de queijo, vinho, iogurte, cerveja… Aí abriram duas vagas na Brahma em Guarulhos; na época e eu estudava na Mauá e morava na Zona Leste de São Paulo e mesmo sendo tudo muito longe, eu me interessei e junto a mais de 250 pessoas me candidatei à vaga. Consegui ser escolhida e neste estágio fiquei até um pouquinho depois de formada. E durante este um ano e meio eu me apaixonei pela cerveja em si porque tive muitos bons professores e, particularmente, o mestre-cervejeiro Matthias Reinold que foi meu primeiro chefe na Brahma. Um grande professor, muito paciente, porque eu era uma menina de 20 anos querendo conhecer ansiosamente tudo. E ele me punha pra recolher a levedura no final do tanque de fermentação e me fazia empurrar fermento na hora da maturação e quase desmaiar cheirando gás carbônico no tanque indoor e essas coisas… (risos) Paciente, mas malandro, me botando pra sacar que o jogo era duro… Ainda mais numa época que eu era a única entre vários homens daquela fábrica. Gostei muito de aprender sobre a tecnologia que eu já era encantada, mas fiquei particularmente engatada no desafio de vencer a barreira dos homens, de uma mulher dentro de um ambiente muito masculino…

Lupulinas – É isso, lugar de mulher é no tanque, né? No tanque de fermentação (risos)

Cilene – Bom, no meu caso, foi literalmente isso! Olha, eu me lembro de uma cena, que foi das primeiras… Eu lembro de, devia ser insuportável, quase insuportável na ansiedade, na vontade de fazer coisas. E eu, nos meus vinte, querendo estar perto, ouvir o Matias, aqui e ali, nas degustações, nas sessões de degustação. Eu só ficava de lado, não botava cerveja nenhuma na boca porque não me deixavam, no começo, só ouvindo as degustações… E lá pras tantas ele foi me dando uma colher de chá aqui ou ali. Mas isso depois de meses! Só que, antes disso, “ah você quer saber como faz mosto? Beleza! Carrega um saco de malte aqui e ali… Ajuda, pelo menos…” Porque eu não conseguia carregar um saco de cinqüenta quilos ou o lúpulo, ou isso ou aquilo, mas ficava lá o tempo inteiro controlando com as fichas de controle de processo, fazendo controles estatísticos, fazendo planilhas e gráficos em computador numa época que não existia muito dessas… Excel não existia!

Lupulinas – Exatamente! Era tudo na mão, né?

Cilene – Era tudo na mão!

Lupulinas – E me fala uma coisa… Aí, tá, você já estava lá… Estava na Brahma… Aí você falou “Bom, amei, gostei, quero continuar com isso…”, então você foi procurar os cursos de especialização…

Cilene -Demorou um pouquinho ainda. Primeiro eu terminei a faculdade, continuei na Águas da Serra um pouquinho mais, na Brahma, em Guarulhos, um pouquinho mais, até começo de 93, e aí eu fui dispensada. O Matias era o meu chefe direto, mas não o chefe que decidia se eu ficava ou não. E o chefe que decidia se eu ficava ou não decidiu que mulher não era exatamente o objetivo. Claro que isso não foi escancarado, isso foi velado.

Lupulinas – Mas a gente sabe como funciona.

Cilene – A gente sabe. O fato é que eu não desisti porque eu já estava completamente envolvida com a idéia. E aí fui buscar trabalho em outras cervejarias, dei com os burros n’agua em outras cervejarias, a exemplo da Schincariol, que também não aceitava mulheres na época, na Antarctica, que também não aceitava…

Lupulinas – É dureza.

Cilene – É! Mas naquela época, no comecinho de 94, quem nascia?

Lupulinas – Quem nascia?

Cilene – A Petrópolis nasceu em 1994! Eu botei o meu currículo na mão de um cara que resolveu me dar um emprego. E aí eu comecei na fábrica de Petrópolis, no Rio de Janeiro, pros idos de maio, junho de 94… Terraplanagem ainda, os tanques de fermentação e maturação chegando… Eu tenho fotos de terra batida dessa história!

Lupulinas – Você ficou lá até quando?

Cilene – Só depois de dois anos e meio, ralando e recebendo muitos bons ensinamentos, eu tive três chefes ao longo desses dois anos e meio de Petrópolis… Foram anos duros, devo dizer… Mas foram três chefes muito diferentes entre si, o último deles super linha dura, que não me ajudava muito no sentido paternal da palavra, mas por outro lado, é o jeito dele, eu não…

Lupulinas – Você tinha alguma colega?

Cilene – Eu tinha uma colega que era de laboratório e que, na verdade, naquela ocasião, não era exatamente, eu poderia dizer, super colega, porque ela me via às vezes, eu sentia isso, ela me via como uma ameaçadora de cargo, sabe? Quando eu não tinha a menor intenção… Hoje em dia ela me vê completamente diferente e tal. Mas é engraçado porque nessa época era uma grande ameaça. E éramos duas mulheres apenas na fábrica! E, ao longo desses três chefes, o último deles, que foi um chefe duro, eu nem o condeno muito, mas foi um chefe muito duro, aprendi muito com ele… E nesse aprendizado com ele, o que talvez eu mais tenha recebido em ensinamento foi que a minha determinação é que a poderia valer toda a minha vida.

Lupulinas – Na hora do vamos ver…

Cilene – Porque se eu recebia, e recebia mesmo, barreiras através da palavra, através de gestos, através de interrupções de trabalho… O tempo inteiro “para de fazer isso, menina! Faça isso que eu estou mandando e cala a boca!”… [risos] Se a cada vez que eu recebia uma ordem dessas, eu parasse de ser determinada no que eu queria, eu já teria desistido, eu teria feito qualquer outra coisa da minha vida.

Lupulinas – Aham, sem dúvida. Isto te fortaleceu!

Cilene – Sim!E em meados de 96, no segundo semestre, eu saí da Petrópolis, dois anos e meio depois, e fui pra Espanha pra fazer um mestrado em tecnologia cervejeira por conta própria. Nesses dois anos e meio de Petrópolis eu não recebi absolutamente nenhum incentivo da cervejaria, a não ser um pequeno incentivo, que eu não descarto e foi extremamente importante, de um líder administrativo, com o consulado brasileiro na Espanha que conseguiu uma vaga, com um valor mais ameno pra mim, no abrigo lá da cidade universitária. Porque se eu não tivesse conseguido esse desconto, eu não teria conseguido pagar a minha subsistência na Espanha por todo aquele tempo.

Lupulinas – É incrível, né? Não, mas essas coisas realmente só nos deixam mais fortes… Você citou aí que várias vezes você é a única mulher. Isso é uma coisa que eu sinto que está mudando bastante nos últimos anos, né? Porque você encontra mestras cervejeiras por aí, jornalistas, blogueiras, sommeliers, tem várias formações na área…

Cilene -Porque, naquela época, nos anos 90, a única formação ainda ligada às cervejas era de mestre cervejeiro.

Lupulinas – Não existia o conceito de sommelier…

Cilene – Muito pouco, o conceito de sommelier nasceu em 2004 com Doemens, na Alemanha. Até então o tema cerveja era muito dedicado, muito atrelado ao profissional técnico. E aí, esmagadoramente, um mundo masculino.

Lupulinas – Se você tivesse que comentar hoje, se você tivesse uma sobrinha, filha, ou sei lá, o que você falaria pra uma menina que hoje estaria começando, gostaria de entrar, começar nessa carreira?

Cilene – Perguntaria a ela: você realmente gosta da idéia de trabalhar com essa bebida? Você gosta realmente da cerveja? Nos pormenores, desde a mais popularesca até a mais complexa e rebuscada que há, sem nenhum preconceito? Então vá! Porque se é movida pela paixão, se tiver que defender uma cerveja popularesca, popular mesmo, de bar, de boteco da esquina, a boa e velha loira, gelada, ou se tiver que defender uma wine, envelhecida ‘x’ anos numa barrica de madeira carvalho tenha a mesma paixão!

Lupulinas – Mas a boa e velha loira gelada da esquina, tem muita gente que bota no pau!

Cilene – É, exatamente, que tem preconceito!Me desculpe, Cil, eu coloco a cara pra bater. Mas eu defendo. Porque eu acho que tem lugar pra todos e tudo.

Lupulinas – Exatamente.

Cilene -Tudo e todos. Eu defendo a ponderação e a pluralidade. E absolutamente defendo a pluralidade. Se existem as cervejas popularescas, é porque existem pessoas que amam e se divertem e são felizes com ela. Da mesma forma que com a barley wine ou a porra que seja… E se você entende a cerveja nessa essência, em toda sua importância histórica, gastronômica, filosófica, política, enfim, amiga, vai em frente! Porque é assim que eu entendo e assim, mesmo eu não ganhando tanto dinheiro, porque eu não estou rica, muito pelo contrário, eu não estou o tempo inteiro feliz com algumas situações, porque todo trabalho é assim, mas, mesmo assim, o saldo final é porque existe um motor humano aí chamado paixão que te motiva e impulsiona.

Lupulinas – Não existe nada melhor na vida do que trabalhar com o que você gosta, né? Mas deixa eu te fazer uma pergunta complexa: é o mercado da artesanal brasileira. A gente vê a cerveja artesanal crescer no mundo todo, o consumo, a produção, o conhecimento, as pessoas estudando o assunto, as experiências… A dita cerveja experimental… E a gente está vendo, de maneira bem incisiva, isso acontecer aqui no Brasil agora. Eu acompanhei isso nos Estados Unidos e estou vendo que a coisa está, de certa maneira, se reproduzindo aqui. Ela ainda é mais cara que a produzida pelos americanos. Por inúmeros fatores, ainda é mais cara. Você vê alguma possibilidade da cerveja artesanal, num país grande como o Brasil, ser consumida em um volume considerável?

Cilene -Mais viável?

Lupulinas – É, uma coisa que se espalhe mais um pouco mais, que esse conceito do beber menos e beber melhor funcione… Porque é isso que eu sinto… Às vezes eu levo alguns amigos pra um bar de cerveja artesanal e eles começam a perceber que eles bebem devagar, que não é aquela sofreguidão daquele monte de chopp, aquele monte de bolacha uma em cima da outra que, no final das contas…

Cilene – Tem o seu valor…

Lupulinas – Tem o seu valor!

Cilene – Tem o seu momento…

Lupulinas – Mas eu estou falando sobre o valor mesmo, você entendeu? Ela não é tão mais cara assim porque você não bebe a quantidade que você bebe de chopp, né?

Cilene – Exatamente!

Lupulinas – Fica aquele concurso de bolacha num bar e um chopp de Brahma, num bar, é 8 reais, é 7, sei lá.. E você bebe… Os meus amigos bebem 10, 12, fácil, entendeu? E quando levo num bar de cerveja artesanal, eles começam a beber mais devagar porque eles sentem não só o sabor como também a porrada do álcool, que é outro departamento, né?

Cilene - Claro…

Lupulinas – Você acha que é muito difícil… A minha pergunta ficou longa, mas você acha que é muito difícil conseguir passar esse conceito pras pessoas do menos e melhor?

Cilene -Eu não acho difícil e não é modismo, como muita gente também estabelece num primeiro momento, sem entender as circunstâncias… Eu claramente enxergo como uma possível tendência. E quando eu falo possível é porque ela não é certa. Ela é uma tendência, mas ela não é certa. E eu vou te explicar por quê. A pergunta é complexa e a resposta é também um pouco. Existem alguns aspectos importantes pra estabelecer esse movimento deflagrado de consumo de cervejas com mais apelo gastronômico, digamos assim, produzidas por cervejarias de pequeno porte, artesanais ou de grande porte. Um exemplo é a Hoegaarden, que é uma cerveja de muita expressão, personalidade, uma marca global, produzida por grande cervejaria, num estilo que é muito pouco conhecido…

Lupulinas – Foi a discussão que teve nos Estados Unidos, né? A cervejaria grande produzir artesanal… O que é o artesanal?

Cilene – Exatamente!

Lupulinas – A cervejaria pode ser grande! Eu fui na Flying Dog, eu caí de costas! A fábrica é enorme!

Cilene – Pois é! A questão é: o artesanal, no sentido semântico, está em poucas mãos. Este conceito, nos Estados Unidos, está sendo largamente discutido porque algumas das mais expressivas micro cervejarias, até pouco tempo atrás, já não são mais micros! O fato é que, independentemente do volume de produção, quando você tem uma receita e um perfil sensorial muito particular de uma marca produzida por qualquer que seja a cervejaria, quer seja de pequeno ou de grande porte, e ela é bem respeitada e estabelecida, ela pode ser bem feita… Inclusive do ponto de vista técnico, muitas vezes, devo dizer algo que, pra alguns pode ser uma coisa polêmica, mas eu defendo facilmente que muitas vezes as chances de uma cerveja, qualquer que seja ela, ser bem feita numa grande cervejaria é maior do que numa pequena, a menos que essa pequena tenha uma tecnologia de ponta aplicada.

Lupulinas – Aham, entendi.

Cilene – Porque quando a gente fala de volume, sobretudo, mesmo em pequenas cervejarias, você vai numa, como você falou, na Flying Dog, eu duvido que você tenha visto qualquer coisa que não tenha sido produzido à base do botão. É tudo automatizado hoje em dia. E quando você faz a automação você traz uma acuidade, melhor dizendo, uma precisão muito maior na produção. E isola os erros involuntários do ser humano. Você traz uma repetibilidade, um bem feito, uma chance de bem feito maior. Claro que isso é pano pra manga! Mas, de qualquer forma, sem entrar muito nesse viés, mas o fato é: qualquer boa cerveja, ela pode ser feita por qualquer cervejaria, de pequeno ou grande porte. Esse é um aspecto importante que a gente tem no mercado brasileiro de uma maneira muito ampla. A gente tem todas essas cervejarias aí pra bem fazer cervejas. Considerando essa competência técnica, que tem se desenvolvido cada vez mais e melhor, e esse é um aspecto muito importante pra crescer o mercado, você tem que ter bons produtos pra apresentar ao mercado…

Lupulinas – Existem algumas escolas de cerveja no mundo, né? Belga, alemã, americana, dinamarquesa, inglesa, enfim… Pessoalmente, você tem alguma preferência por alguma escola? Alguma que você tenha paixão?

Cilene -Eu tenho absolutamente respeito a todas. Mas, paixão, não. De verdade, a minha paixão, ela é na essência da cerveja. Tanto que eu comentei antes: se você, em algum momento, precisar de mim pra defender as cervejas populares, você vai me ver lá defendendo as cervejas populares. Da mesma forma que as cervejas produzidas por pequenas empresas, num tom artesanal, de diferentes pegadas, de forças alcoólicas e aromas e amargores e qualquer coisa… Eu defendo as cervejas. O velho mundo teve tempo de sobra pra nos trazer sabedoria. Cada um desses núcleos do velho mundo, a saber, Alemanha, Inglaterra, Bélgica, esses grandes líderes do Velho Mundo, trazem uma sabedoria enorme, cada um na sua praia. Um através da ortodoxia, por exemplo, da lei de pureza alemã que foi capaz de fazer o estilo de cerveja mais popular do mundo. Quer sabedoria melhor que essa? Ao contrário, o extremo oposto, a Bélgica, na sua inventividade extrema, fazendo cerveja com o que lhe der na telha, traz uma amplitude, uma diversidade absurda. E é válida, igualmente válida.

Lupulinas – E na Bélgica estão os monastérios, os trapistas lotados de tradição!

Cilene – Exato! E os ingleses, que muitas vezes são negligenciados, como uma cerveja que “ah, não é muito lá nem cá, fica no meio do caminho”, do ponto de vista filosófico da produção de cervejas, talvez estejam, de fato, no meio do caminho das duas… Nem tão lá, nem tão cá. Nem 8, nem 80. E não há sabedoria nesse meio do caminho também? Você faz uma degustação às cegas com várias English Pale Ales, com Indian Pale Ales, Scotch Ales, e vê uma complexidade absurda! Pois há valor em todas elas. Nem mais nem menos, na minha visão. E do Novo Mundo, eu vejo os Estados Unidos como líder, como adolescente. Aquele típico da puberdade, sabe? Que vê tudo meio à base do exagero… [risos] “Vamos fazer a cerveja mais amarga!”, “Vamos fazer a cerveja mais alcoólica!”, “Vamos fazer a cerveja mais mais!”, “Vamos fazer a cerveja mais mais sempre!” Então tem essa pegada adolescente. E que tem uma auto-estima pra lá de exacerbada!

Lupulinas – Sim! Porque eles entendem também de publicidade…

Cilene – Pois é! Adolescente! [risos] E, na sociedade, adolescente não é importante também? Pra dar uma chamada na bunda dos velhos e falar…“Mexam-se!” E foi exatamente isso que os Estados Unidos fizeram com o Velho Mundo! E faz com o resto do mundo, inclusive com o Brasil. Ou seja, não existe preferência, existe uma vontade e de enxergar o que há de bom em todos eles e aproveitar o que há de melhor em todos eles.

Lupulinas – Como que você rebateria um comentário querendo diminuir um pouco o estudo da cerveja artesanal, a harmonização de pratos, a interação entre a cerveja e a gastronomia? Enfim, toda essa série de conceitos que, pra muita gente é pura frescura! Então defenda isso, assim, sucintamente.

Cilene – Tá. Ignorância é pura falta de conhecimento e entendimento sobre qualquer que seja o assunto. Ignorância é uma merda. Se a gente tiver oportunidade de entender um pouco mais da cultura ampla dessa bebida, do ponto de vista histórico, filosófico, gastronômico, a gente vai saber entender que perdem os que são preconceituosos e diminutivos em relação ao tema, eles vão sacar que estão perdendo tempo na vida pra ser feliz. Ponto.

Lupulinas – Ponto mesmo. Final, acabou nossa entrevista, [risos] Arrasou! Vamos desligar o bagulho!

 

E continuamos a beber a sensacional cerveja que Cilene trouxe do Canadá (uma Glutenberg, série Gastronomique Saison Froide, seca e refrescante, sem glúten e extremamente aromática, absolutamente maravilhosa) e depois continuamos o papo no De Bruer apreciando artesanais brasileiras e comendo delicinhas da casa.

PS – miga, esqueci de fazer fotos! /o\

Entrevista transcrita por Talita Castro (@tuttyupie).

Foto: Escola Superior de Cerveja e Malte.

Festivais e festas pra nenhum cervejeiro reclamar da vida

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No mundo da cerveja, muitos festivais e festas ficam concentrados para o final do ano. Só de Oktoberfests pelo Brasil afora, a agenda de um cervejeiro fica repleta. Então, vou fazer um resumo de eventos que acontecem em outubro e novembro para facilitar a programação e também comentar algumas novidades de nossas cervejarias artesanais.

Pra começar, vamos falar do XX BrooklinFest, festa cervejeira e de tradição alemã, que acontece nas ruas do bairro paulistano do Brooklin neste fim de semana (18 e 19 de outubro), das dez da manhã às dez da noite. Na festa, tradicionalmente, a presença da cervejaria Ashby, apresentando ao público cinco tipos diferentes de cerveja: Pilsen, Pale Ale, Porter, Weiss e Ale Forte; além do Cooler de Vinho e quatro tipos de chopp: Pilsen, Porter, Weiss e Pale Ale. O quadrilátero compreendido pelas Ruas Joaquim Nabuco, Barão do Triunfo, Princesa Isabel e Bernardino de Campos será tomado por mais de 200 atrações entre apresentações musicais, danças, teatro, circo, artesanato e gastronomia de diversas partes do Brasil e do mundo, além de exposições e exibição de filmes ao ar livre.

Se você gosta ou nuca experimentou os diversos estilos que a cervejaria americana Founders lança no mercado, corra! Compre uma lata ou garrafa porque serão as últimas da Founders aqui no Brasil. Motivos estratégicos fazem com que os donos da cervejaria parem de distribuí-la em nosso país :/

Esta é para os sériemaníacos: A Fox-Sony Pictures Home Entertainment, a Mr. Beer, rede brasileira de cervejas especiais, e a Cervejaria Dortmund se uniram para criar o Kit Breaking Bad, com uma cerveja de rótulo exclusivo. A edição limitada, de 1500 kits é vendida exclusivamente pela Mr. Beer, e o estilo da cerveja especial é German Pils, com 4,5% de teor alcoólico e lúpulos e maltes alemães.

Desde o dia 8 e até dia 26 está rolando a Oktoberfest de Blumenau, a maior do país e a segunda do mundo. Destaque para as cinco cervejarias artesanais locais que estão distribuídas nos três pavilhões da Vila Germânica. Informações detalhadas no site

O Delirium Tremens, franquia da famosa cerveja do elefantinho rosa e de um dos bares mais famosos do mundo, está devidamente inaugurado em São Paulo. Em breve, uma resenha do bar aqui neste blog. Ah! E aproveitando o assunto, nossos parabéns ao Empório São Paulo listado como um dos 21 melhores bares de cerveja artesanal no mundo. Confira aqui

Curitiba é reconhecida como cidade que tem um dos maiores pólos cervejeiros do Brasil. Dia 15 de novembro, na Expo Unimed Curitiba, acontece o IV Wikibier Festival com mais de 100 rótulos nacionais e internacionais, além de restaurantes, shows e outras atrações. Os ingressos e maiores informações você consegue no site e em outros 15 pontos de venda em Curitiba.

A Cervejaria Júpiter já tinha mandado para o Lupulinas seus novos lançamentos que envolviam uma parceria com a fábrica de pimenta De Cábron. Ainda uma experiência, os dois estilos que nos mandaram chamaram nossa atenção há alguns meses. Agora, já no mercado, com a receita totalmente definida pelo mestre-cervejeiro Victor Marinho, você pode saborear a Habanero Dubbel. No paladar um caramelo pronunciado mais especiarias, rapadura e lúpulo. Depois do gole vem o apimentado da habanero, descrito no rótulo como capiroto, que te deixa com os lábios flamejantes e aquela vontadinha de mais uma dose. Experimente. Outra novidade é que, em breve, David Michelsohn da Júpiter, será sócio de um novo bar onde não faltarão as deliciosas Júpiter, é claro!

Pelo segundo ano, o Rio de Janeiro sedia um dos maiores encontros cervejeiros do mundo: o Mondial de La Bière, originalmente um evento canadense. De 20 a 23 de novembro, produtores, distribuidores e consumidores de artesanais se encontrarão no Terreiro do Samba em um espaço com mais 30% do que foi ocupado no ano passado. Além dos 600 rótulos nacionais e internacionais, várias palestras e bate papos e shows e restaurantes, enfim uma festa completa. A destacar a presença do dinamarquês Jeppe Jarnit Bjergsø, da cervejaria Evil Twin, que aparece entre as dez melhores e mais criativas do mundo. O Lupulinas, como fez ano passado, vai cobrir o festival e contará tudo pra vocês. Maiores informações e ingressos no site

A Cervejaria Serra de Três Pontas começou a produção da Hop Lover, uma Imperial IPA feita com os lúpulos Citra, Simcoe e Amarillo e 90 IBUs (unidade de amargor). Esperamos ansiosamente pelo resultado já que eles são responsáveis pela Cafuza já resenhada no Lupulinas.

Também no Rio de Janeiro, de 27 a 30 de novembro, o Brasil receberá pela primeira vez o Belgian Beer Weekend Rio, um dos maiores eventos de cervejas belgas do mundo. Quarenta cervejarias, com mais de 200 rótulos, oferecerão “generosas doses em copos de vidro a preços acessíveis a todos os bolsos”. As aspas são do idealizador do evento Xavier Depuydt, conhecido como “o embaixador das cervejas belgas no Brasil”. Mais de 25 mil pessoas do Brasil e do exterior são esperadas na área climatizada de cinco mil metros quadrados do Centro de Convenções Sul América (Cidade Nova). A praça de alimentação tem a idéia de te transportar para a Bélgica, o que será um prazer. O Lupulinas também estará presente e depois te conta tudo. Maiores detalhes no site

É isso. Festivais e festas pra nenhum cervejeiro reclamar da vida.
Votem bem!

 

 

 

 

Daniel Wolff: profissional amador da cerveja

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O Lupulinas conheceu Daniel Wolff em uma viagem a Blumenau para o Festival Brasileiro de Cerveja. O respeito e a admiração pelo trabalho do cara já vinha de um tempo, mas a simplicidade e a simpatia nos ganharam de vez. Nessa entrevista o que acho importante é deixar claro como boas idéias e dedicação a elas pode resultar em sucesso. Daniel Wolff, um cara que ama cervejas é hoje um profissional à serviço delas e que ganha dinheiro com isso.

Lupulinas – Daniel, quando e por que nasceu seu interesse por cervejas artesanais?

Daniel – Sempre gostei de cervejas, durante a adolescência – calma!! rs não bebia na época – mas gostava de colecionar latinhas, também tive a oportunidade de realizar intercâmbios para países como Dinamarca, Holanda, Bélgica e Inglaterra, tipicamente cervejeiros e ainda morei em Munique na Alemanha. E a cada vez que voltava pro Brasil, vinha a pergunta: – Por que não temos aquela diversidade de marcas e sabores aqui? Dai que veio a vontade de montar um site sobre cerveja, o Mestre-Cervejeiro.com.

Lupulinas – Seu primeiro trabalho nesse meio foi como blogueiro? Quando você sentiu que poderia dar um passo maior neste mercado?

Daniel – Não chamaria de blog, pois na época que montei o Mestre-Cervejeiro.com, não tinha esse tipo de plataforma, era um site sobre cerveja. Devido a minha formação e trabalho na época, sou designer gráfico, tive uma certa facilidade para fazer isso, foi um caminho natural. E num momento o site começou a ter um volume legal de visitas, comecei a ser requisitado para fazer colaborações pra imprensa e também a empresas de eventos me chamar para falar de cerveja. Larguei tudo no segundo ano do site para trabalhar só com cervejas.

Lupulinas – Os negócios foram bem sucedidos de cara? Conte um pouco sua experiência no inicio do mestre-cervejeiro.com

Daniel – Nasceu como um hobby de uma coisa que mais gosto de falar e aprender na vida, que é cerveja, também as viagens e estar com o público que tem a mesma afinidade. O site nasceu sem pretensão comercial, queria viver disso, mas nem sabia como. As oportunidades foram surgindo em cima do que eu mais gostava de fazer. Não tinha um plano de negócio, nem uma planilha de quanto eu tinha que ganhar ou vender. O que precisei fazer foi correr atrás de especialização na área, a infra para manter o site e a marca eu tinha, era só desprender tempo e tinha entradas através de eventos. O que surgiu depois foi a idéia de ter um ponto de venda de cervejas, o que acabou rolando em 2009. A primeira loja Mestre-Cervejeiro.com que foi em Curitiba, nisso visualizei o potencial para expansão em franquias, dai começou uma nova etapa do trabalho bem diferente do início do site e muito mais técnica, e para isso peguei consultoria de Franchising e Varejo, Jurídica, de arquitetura e de comunicação. Resultando na operação de franquia, o modelo que é hoje.

Lupulinas – Hoje o mestre-cervejeiro.com é uma empresa que oferece vários serviços ao mercado das artesanais. Fale um pouco deles e qual é o carro-chefe da empresa?

Daniel – Hoje a marca Mestre-Cervejeiro.com é de uma rede de franquia de lojas de cervejas especiais, chegamos a 15 lojas, entre abertas e que estão para abrir, em diversos estados do Brasil. A prestação da consultoria que era feita anteriormente para diversas empresas do mercado hoje é feita somente para as nossas lojas. Além disso, para fortalecer a marca e aproveitar o nosso know-how, promovemos o próprio curso de formação de sommelier de cervejas em parceria com a Universidade Positivo em Curitiba, workshops sobre cerveja e negócio em todo o Brasil, e ainda as viagens para visitar destinos cervejeiros.

Lupulinas – Nos últimos dez anos o mercado de artesanais no mundo e no Brasil mudou bastante. Cresceu e se consolida a cada ano. Quais são as perspectivas da mestre-cervejeiro.com e deste mercado?

Daniel – Esse é o 10o ano da marca Mestre-Cervejeiro.com, acompanhamos de perto essa evolução doo mercado de cervejas no Brasil e no mundo. E as perspectivas são as melhores possíveis. O mercado tem muito para crescer, como todos sabem as cervejas especiais não representam nem 1% do volume atual do mercado geral de cervejas no Brasil, e o segmento cresce mais de 40% ao ano. Em relação a marca Mestre-Cervejeiro.com estamos em plena expansão dentro do modelo de franquias, a nossa meta desde ano é fechar com 30 franquias, temos candidatos do Brasil todo para isso. Estamos com muita experiência do mercado, acompanhamos ele desde o início, e agora com uma base muito forte para dar suporte as franquias e continuar promovendo a Cultura da Cerveja. Este sempre foi o nosso principal pilar de comunicação e a cada dia estamos aperfeiçoando os nossos canais de contato com o público para entregar conteúdo cada vez com mais qualidade.

Lupulinas – Se você fosse aconselhar a quem está abrindo um bar de artesanais hoje o que você diria?

Daniel – O trabalho com cervejas, apesar do glamour que muita gente acha que tem, é um trabalho com qualquer outro. Tem concorrência, bons fornecedores, fornecedores ruins, dificuldade de contratação de pessoas engajadas com o trabalho, ruptura de fornecimento de produtos, a facilidade que todos têm hoje para divulgar na web e por ai vai. Diria para procurar entender melhor os seus objetivos e capacidades para gerir um negócio onde a exigência do publico é grande. Todos querem pegar essa onda, portando tem que se preparar para isso e principalmente fazer por paixão.

À nossa saúde!

Beber é uma delícia, mas vamos ler sobre cerveja?

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Quando enveredamos por um novo ramo do conhecimento percebemos existir um mundo para descobrirmos. Em relação às bebidas esta é uma verdade incontestável. Existe um livro mais que interessante que é o “História do Mundo em Seis Copos”, escrito por Tom Standage – editor de tecnologia da revista The Economist – que explica a importância do vinho, chá, café, cerveja, destilados e até Coca-Cola, mostrando o papel que cada uma dessas bebidas exerceu em diversas épocas e civilizações.

Beber cerveja é uma delícia para muitos, mas que tal ler e aprender um pouco sobre o assunto? O Lupulinas fez uma seleção de livros que estão no mercado e só valorizam o ato atlético de levantar o copo. É uma bibliografia feita somente com livros em língua portuguesa (brasileira) e não está listada de forma classificatória. Escolha para ler de acordo com seu nível de conhecimento e interesse.

Guia Ilustrado Zahar de Cerveja
Michael Jackson
Editora Zahar
288 páginas
Não espere música e dança ;) Este Michael Jackson é jornalista e um dos maiores pesquisadores da cultura cervejeira em todo o mundo. É conhecido no meio como Beer Hunter (Caçador de Cerveja) e catalogou toda a produção dos Estados Unidos e Bélgica influenciando várias regiões produtoras em todo o mundo. Um clássico que explica os estilos, a história e a produção da cerveja.

Larousse da Cerveja
Ronaldo Morado
Editora Larousse
360 páginas
Este livro é ideal para iniciantes aprenderem a história, os estilos, o processo de produção e a cultura de todos os países que produzem cerveja. Além disso, traz um guia de cervejarias, bares e curiosidades que tornam sua leitura leve e divertida.

O Livro da Cerveja
Tim Hampson
Editora Globo
352 páginas
Escrito por uma equipe de especialistas e organizado pelo inglês Tim Hampson, este livro cataloga mais de 800 cervejarias em todo o mundo com mapas, fotos, sugestões de roteiros e glossário. É outro clássico para os caçadores de boas cervejas.

Atlas Mundial da Cerveja
Stephen Beaumont e Tim Webb
Editora Nova Fronteira
256 páginas
Mais recente que os anteriores citados nesta lista, o Atlas pretende ser um guia definitivo sobre a cultura cervejeira. Traz informações da tradicional cerveja trapista belga à vietnamita bia hoì sem preconceitos. No total fala de mais de 500 cervejas espalhadas por 30 países. Avalia também o crescente mercado artesanal brasileiro com degustações feitas pelos autores que são figuras respeitadas no meio e que transitam pelo mundo tradicional e experimental da cerveja.

Brasil Beer – o Guia de Cervejas Brasileiras
Hélcio Drumond e Henrique Oliveira
Editora Gutenberg
304 páginas
Em recente segunda edição aumentada e revista, este guia é uma mão na roda para quem gosta de fazer turismo cervejeiro. O livro lista por este Brasil afora mais de 700 cervejas, 160 cervejarias e dezenas e dezenas de cidades interessantes, com amplos roteiros, serviços de hospedagem, táxi, bares e tudo o mais necessário para este tour. Além de contar história das micro-cervejarias, ele oferece roteiros nas regiões produtoras mais interessantes do Brasil. Lá você encontra passeios incríveis na serra gaúcha ou catarinense, roteiro do Rio de Janeiro a Minas Gerais e inúmeras curiosidades e utilidades para estas viagens. Indispensável para quem quer viajar pelo nosso país e, na parada, saborear uma artesanal local.

Cerveja Para Leigos
Marty Nachel e Steve Ettlinger
Editora Alta Books
376 páginas
Tradução do original “Beer for Dummies”, este livro atende às expectativas tanto de um iniciante como de um conhecedor da cultura cervejeira. Dividido em cinco partes, o livro fala sobre os ingredientes e o processo de fabricação; os estilos; um guia sobre como servir e degustar; receitas que usam a cerveja como ingrediente e por fim dá alguns rudimentos para que o apreciador fabrique sua própria birrinha.

1001 cervejas para beber antes de morrer
Organizado por Adrian Tierney-Jones
Editora Sextante
960 páginas
Da famosa série “1001” este tijolo de conhecimento da cultura cervejeira tem um único inconveniente: graças a seu peso é impossível sair com ele por ai bebendo e estudando cerveja. Escrito por uma equipe de 40 especialistas, este guia é o mais completo catalogo de cervejas produzidas em todo o mundo. Edição caprichada, como todas desta série, traz fotos de todos os rótulos experimentados e informações completas sobre a degustação de cada cerveja. Imprescindível se você quiser ter uma biblioteca cervejeira.

O Catecismo da Cerveja
Conrad Seidl
Editora Senac/São Paulo
385 páginas
Este nome religioso veio por conta do pesquisador austríaco Conrad Seidl considerado o “papa da cerveja”. Um dos mais antigos livros sobre o assunto ele ensina, de maneira clara, os principais conceitos sobre a cerveja e o comportamento e costumes dos povos que a produzem. Indicado para iniciantes.

Cerveja e filosofia
Steven D. Hales
Editora Tinta Negra
287 páginas
Neste livro, com apresentação de Cilene Saorin, uma das mulheres que mais conhecem o assunto no Brasil, saímos do lance de guias e adentramos uma discussão ampla sobre a cultura cervejeira. Organizado pelo norte-americano PhD em filosofia Steven D. Hales e escrito por vários especialistas, neste livro é analisada a importância da cerveja na sociedade e porque ela é considerada a bebida que mais aproxima as pessoas e os povos. É um livro que não indica. Reflete.

A Mesa do Mestre Cervejeiro
Garrett Oliver
Editora Senac/São Paulo
548 paginas
Este é um livro para quem gosta de experimentar combinações entre cerveja e comida. Escrito pelo mestre-cervejeiro da Brooklyn Brewery, neste livro você aprende sobre a feitura de uma artesanal, sua história, estilos e sua versatilidade para acompanhar os mais diversos pratos da gastronomia mundial. Imprescindível para quem gosta de cozinhar e experimentar.

texto: Cilmara Bedaque

fotos: divulgação

Novidades do Mundo Cervejeiro

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Mondial de La Bière
Novembro ainda está longe, mas o primeiro lote de ingressos para o Mondial de La Bière, no Rio de Janeiro, já está à venda. Esta é a segunda vez que o encontro acontece no Brasil, lá mesmo no Terreirão do Samba, onde rolou o evento em 2013. Serão apresentados mais de 650 rótulos em uma extensa programação que inclui workshops, bate-papos e concursos. A organização espera receber mais de 23 mil amantes de cervejas especiais entre os dias 20 e 23 de novembro. Este primeiro lote será vendido por 35 reais. Maiores informações:www.mondialdelabiererio.com

A Cerveja Gaúcha: Apóie sua Cervejaria Local!
O Rio Grande do Sul vem se destacando no mapa de pólos produtores de cerveja artesanal em todo o Brasil. Atualmente, mais de 50 cervejarias estão em operação e nos dias 19 e 20 de setembro, em Santa Cruz do Sul, nasce o Festival da Cerveja Gaucha. O objetivo é juntar em um só lugar produtores e apreciadores da artesanal gaudéria e fortalecer o mercado local. Nesta edição, 26 cervejarias artesanais estarão reunidas.
Santa Cruz do Sul/RS – Parque da Oktoberfest, pavilhão 2
Dias 19 e 20 de Setembro de 2014, sexta e sábado.
- Dia 19/09/14 • abertura 17h | encerramento 1h
- Dia 20/09/14 • abertura 15h | encerramento 1h

Cervejaria Coruja
A Coruja está comemorando 10 anos de vida e aproveita a data para renovar seus rótulos e lançar três novos tipos de cerveja: a Noctua (Extra Dark Lager), a Hop Otus (Otus Lager mais lupulada) e a Strix IPL (India Pale Lager). Além de todas estas novidades, a Coruja está colocando no mercado um modelo exclusivo de garrafas e inaugurando seu novo site. Boa sorte, ao Rafael e seus sócios! A partir de outubro, o consumidor já encontra as novas Corujas nos supermercados e lojas especializadas.

Cevada Pura Cervejaria – Lemondrop
A Cevada Pura Cervejaria está lançando a Lemondrop, uma Pilsen single-hop com o lúpulo Lemondrop que garante uma cerveja refrescante com amargor equilibrado e aroma cítrico de limão.
A festa de lançamento será nesta quinta-feira, dia 18 de setembro, no Mestre-Cervejeiro.com em Piracicaba, a partir das 18:09h (hahahaha)
Rua Dona Eugênia, 402 Loja 01
Tel.: (19) 3432-1728

Sazonais Bamberg
Alexandre Bazzo, um dos mais competentes produtores de artesanais no Brasil, tem sempre no portifólio da Bamberg as sazonais que são lançadas em sua época apropriada.

Bamberg Die Wiesn
Estilo lançado na Oktoberfest de Munique, a Die Wiesn tem sua versão brasileira nesta mesma época. É uma cerveja para festa, com corpo médio, refrescante e fácil de beber. Maturada durante um longo tempo, os maltes suavizados são a estrela desta cerveja. O lúpulo usado, o tradicional Hallertauer, confere um suave amargor e notas florais e cítricas.

Weizenbock Dunkel
Feita com 55% de malte de trigo, esta é uma cerveja que tem sua origem na Franconia, região que produz receitas que a Bamberg trata com respeito e carinho. Elas variam desde as mais claras, mais leves e refrescantes, até às escuras, com maior porcentagem de álcool e feitas para serem consumidas ao apreciar carnes e pratos gordurosos ou apimentados. A escura Weinzenbock Dunkel tem 8,2% de álcool e já ganhou Medalha de Prata no Japan International Beer em 2013.
A destacar nestas duas sazonais da Bamberg os rótulos caprichados que, ao mesmo tempo, unificam toda a arte gráfica da cervejaria.

Bodebrown – Double Perigosa Wood Aged
Com impressionantes 15,1% de álcool, essa cerveja é envelhecida por nove meses como se fosse um bebê vinho, em barril de carvalho francês. Ela é sazonal e tem edição limitada porque só sua fermentação leva quatro meses e é uma versão inspirada na tradicional Perigosa Imperial IPA que os irmãos Cavalcanti produzem há algum tempo em Curitiba. Eles garantem que a Double Perigosa Wood Aged, mantida em 12 graus, vai durar dez anos e que seu sabor só melhora com o passar do tempo. A Bodebrown já é uma das cervejarias mais premiadas do Brasil e a Double Perigosa contribui para isto:
- Medalha de Platina de melhor cerveja do festival no Mondial de La Biere 2014. Montreal, Canadá.
- Medalha de Ouro no South Beer Cup 2014, em Belo Horizonte.
Os pedidos podem ser feitos no site

8º Paladar Cozinha do Brasil
No próximo fim de semana, dias 20 e 21 de setembro, rola o 8º Paladar Cozinha do Brasil, em São Paulo. Os melhores e mais famosos chefs do país e grandes nomes da cerveja estarão juntos para celebrar a cozinha brasileira.
Serão 82 atividades com a participação de 102 palestrantes. Vai ter música ao vivo, comida de rua, a presença de restaurantes como Dalva e Dito, Mocotó, Dona Onça, Meats e barraquinhas vendendo produtos especiais. Você pode se inscrever para oficinas e palestras, como também ir ao evento para saborear comidinhas, cervejinhas e encontrar amigos. É uma festa que tem lugar para todo mundo: dos que nunca entraram na cozinha, mas gostam de comer e beber, aos que não saem de uma.
Programação completa, inscrições e compra de ingressos:http://goo.gl/XPYG7g
Universidade Anhembi Morumbi
Rua Casa do Ator, 275, Vila Olímpia
Palestras e oficinas: das10h às 21hs
Mercado Paladar: das 12h às 22h.

 

 

 

 

 

 

 

Em Brasília, o poder é o Grote Markt!

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texto e fotos de Cilmara Bedaque

Fui pra Brasília receber uma homenagem à Vange no Dia da Visibilidade Lésbica. Tantas vezes participamos das lutas e comemorações deste dia, mas desta vez era beeem diferente. A morte dela teve um impacto avassalador na minha vida. Mas o que interessa pra este blog é cerveja artesanal e, depois de homenagens (que deveriam ser chamadas de mulheragens né, @anamdo ?) e com a certeza que me faz continuar este blog sem Vange, parti pra desbravar os bares de cerveja artesanal no Planalto Central.

A princípio, uma surpresa em constatar a existência de pelo menos dez bares oferecendo cervejas artesanais brasileiras e importadas. Mas como estava em uma condição especial, não suportando muito barulho, @cynaramenezes me levou a um bar que ela costuma freqüentar: o Grote Markt. Fui sem grandes expectativas e, mais uma vez, surpresa total. Quatrocentos rótulos de cerveja de todo o mundo me esperavam, inclusive delícias só experimentadas em viagens à Bélgica não encontradas em muitos bares aqui em São Paulo. Fiquei encantada em beber uma Caracole Dark Strong Ale que não via desde minha última viagem a Falmignoul que fica pertinho de Dinant, na Bélgica.

Querendo saber quem era responsável por tal seleção, a sensacional Flora, que atende no bar com muita precisão e simpatia, me levou até Paula Figueiredo, a proprietária. Ela me contou que o Grote Markt existe desde 2010 e foi pioneiro em Brasília no comércio de artesanais e que seu conhecimento do assunto foi adquirido de maneira instintiva, autodidata, através de viagens pelos centros cervejeiros artesanais pelo mundo. Muitas andadas pela Bélgica e Holanda, alias experiência praticada também por Vange e eu. O nome Grote Markt quer dizer Grande Mercado em holandês.

O Grote que existe hoje é uma ampliação do original, mas conserva sua intimidade com apenas 12 disputadíssimas mesas, algumas opções de petiscos (empanadas argentinas, goulash, salsichões e outros) e os 400 rótulos de cerveja que podem ser bebidos por lá ou levados para casa, gelados ou sem gelo. Se você não sabe nada sobre cerveja artesanal, pode contar com Paula e Flora que sabem fazer coincidir de boa o que você deseja beber para uma cerveja que exista no Grote. Com certeza este é um dos diferenciais do Grote que se encaixa totalmente no conceito primeiro da cerveja artesanal que é “beba menos, beba melhor”. Sim, porque as artesanais são mais caras, mas você bebe muito menos quantidade e investe na qualidade dos ingredientes usados em suas receitas.

Amante de IPA como eu, Flora me sugeriu uma dobradinha incrível que nunca havia experimentado: a Evil Twin Yin e Yang que deve ser bebida misturada pelo próprio cliente. Em uma garrafa você tem uma maravilhosa Imperial IPA (Yang) e em outra uma Russian Imperial Stout (Yin). Misturadas no copo você ganha uma Imperial IPA Black absurdamente arredondada, sem arestas e trazendo delírios gustativos ao seu cérebro. Hahaha. (Sua porcentagem alcoólica de 10% contribui incisivamente para tais exageros). A maluquice foi invenção do dinamarquês Jepp, dono da Evil Twin Brewery e irmão gêmeo do Mikkel que é proprietário da Mikkeler, duas cervejarias que estão revolucionando o mercado das artesanais em todo o mundo. (Nota mental: ir brevemente à Dinamarca.)

Para finalizar, depois de um patê e umas salsichas deliciosas, uma Eel River IPA Organic, vinda diretamente do norte da Califórnia, que utiliza energias renováveis em sua produção e cevada e lúpulos orgânicos, sem a utilização de agrotóxicos. Na minha lembrança, a certeza que voltarei no Grote para beber uma Poperings Hommel Bier, experimentada somente em Poperinge, uma cidadezinha belga conhecida como a “Capital do Lúpulo”. Alias esta preferência por cervejas belgas não impede que Paula tenha em seu bar excelentes artesanais vindas dos Estados Unidos. Paula me disse também que trabalha com importadores e distribuidores espalhados por todo o Brasil com cervejas de ao menos 15 países. No Grote também você pode encontrar copos, toalhas de bar e kits especiais.

Enfim, estando em Brasilia, não perca a chance de conhecer um dos bares mais honesto, simpático e competente que eu conheci. Parabéns, Grote! E parabéns à Brasília que está com um mercado cervejeiro artesanal em total desenvolvimento!

Grote Markt – Brasilia
CLN 409 – Bloco A – Loja 19
Asa Norte
segunda a sexta – das 14:00h às 02:00h
sábado – das 11:30h às 02:00h

 

Viva Vange Leonel

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No templo da cerveja, na Abadia Saint Sixtus, em Westvleteren, oeste da Bélgica, Vange e eu experimentamos as melhores trapistas do mundo.

Dia 14 de julho perdemos Vange Leonel.
O Lupulinas segue com ela no coração.

Cafuza, a cerveja brasileira que é o retrato da nossa miscigenação

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Outro dia, no bar do Oliver (De Bruer), bebemos uma cerveja que é uma lenda entre os cervejeiros brasileiros. O nome, o rótulo, seu estilo, tudo é especial na Cafuza. Criada por dois paneleiros (como chamamos iniciantes criadores de receita cervejeira) a Cafuza surgiu em 2012 e hoje com a chegada de outro paneleiro amigo ela é produzida pela novíssima Cervejas Sazonais em parceria com a Cervejaria Invicta. Levamos um papo com Leonardo Satt que conta a história do inicio de sua paixão por artesanais e a evolução da Cafuza no meio cervejeiro. E, nós Lupulinas, damos a dica certeira: quando encontrar uma Cafuza não deixe pra depois! Ela tem uma personalidade única, o equilíbrio perfeito entre malte e lúpulo e, embora, tenha 8% de teor alcoólico o que fica na boca é um gosto de malte torrado, chocolate e lúpulo. Ela é uma das melhores artesanais que experimentamos pelo mundo. Uma delícia, não só para quem é lupulomaníaco, mas também para quem aprecia a arte de fazer uma cerveja realmente redonda.

Lupulinas – Como foi que voce se apaixonou por cerveja a ponto de querer produzir a sua propria?
Leo – Nunca fui de beber muita cerveja. Na faculdade bebia apenas socialmente mesmo, em alguns eventos e festa. Na verdade eu não gostava de cerveja. Até descobrir a cerveja artesanal. Ai descobri pq não bebia cerveja, pois só conhecia as comerciais de massa sem sabor. Isso foi em 2007. Não tenho certeza qual foi minha primeira cerveja especial que tomei, mas há grandes chances de ter sido uma Erdinger. Desde então comecei a vasculhar blogs e fóruns de cerveja, e procurar novos rótulos e novas lojas, pois essa época era muito escassa de variedades. Até que em algum fórum alguém disse que fazia sua própria cerveja.

Lupulinas – Quais cursos fez ou o que voce leu pra chegar ao conhecimento que tem do processo de criação e produção de uma receita?
Leo – Em 2007 comecei a pesquisar sobre o assunto. Fiz um curso básico de produção no Bar Brejas, em Campinas, em 2010, pois não existia curso na cidade de São Paulo ainda, comecei a ler todos os livros disponíveis até então, entre eles o mais famoso HOW TO BREW, do John Palmer, até que comprei os equipamentos e comecei a produzir. As primeiras levas não ficaram exatamente como eu esperava mas estavam bebíveis. Acredito que só após a 5ª leva que as pessoas começaram a gostar da minha cerveja. E o aprendizado continua até hoje, sempre que algum livro é lançado fora do Brasil (pois a disponibilidade aqui ainda é muito pequena) eu compro.

Lupulinas – Em nossa opinião, a Cafuza é uma das melhores cervejas que experimentamos. Conte a historia de sucesso vertiginoso que a Cafuza teve.
Leo – O legal desse meio é sempre conhecer pessoas novas. Conheci muita gente nesse meio, e muitos até se tornaram amigos. E em muitas vezes chamamos esses amigos em casa para brassarmos juntos, fazer um churrasco, beber cervejas de outras levas. Uma vez eu comprei um pacote de 250g de lúpulo (pacote fechado) para fazer uma imperial IPA, mas como era muito lúpulo para 20L, dividi o pacote com o Bruno Moreno, que queria fazer uma India Black Ale. Foi ai que surgiu a idéia de fazermos uma Imperial India Black Ale, colaborativa entre nós dois. O Bruno montou a receita e eu o processo de produção, entre temperaturas de brassagem e fermentação. A partir daí foi natural o nascimento da Cafuza, uma miscigenação de India com Black. Fizemos várias levas, alguns ajustes, e enviamos garrafas para conhecedores de cerveja, donos de bares, sommelieres, e tivemos um retorno muito positivo da parte de todos.

Lupulinas – Como uma parceria se estabelece na criação de uma cerveja?
Leo – O sonho de quase todo cervejeiro caseiro é ter uma cervejaria, e isso não necessita de enormes e caros equipamentos. Eu tenho a minha cervejaria que se chama Prima Satt, e o Bruno tem a Serra de Três Pontas. Numa dessas brasagem em conjunto, chamamos o Luciano Silva, da Cervejaria Noturna, para brassarmos no mesmo dia da Cafuza, outra cerveja, a Mameluca (uma Rye India Pale Ale). Começamos as 8:30 e acabamos as 20:00h. A entrada dele foi natural, e nesse momento soubemos que poderíamos nos juntas oficialmente para criar a Cervejas Sazonais, uma Holding cervejeira, composta pelas cervejarias: Serra de Três Pontas, Noturna e Prima Satt.

Lupulinas – as primeiras produções da Cafuza foram de panela. Depois voces partiram para uma associação com a Cervejaria Nacional e serviram Cafuza na torneira. Agora a remessa nasce de uma nova companhia e em parceria com a Invicta. Quantos foram os litros produzidos em cada fase e quais são os projetos da nova Cervejas Sazonais?
Leo – Depois da repercussão que a Cafuza fez, fomos convidados pela CN para produzir 400L (que eles chamam de Sazonal). O dia do lançamento foi uma festa bem agradável, com muitos familiares e amigos presentes. Então começamos a visitar cervejarias que estivessem dispostas e que tivessem capacidade para produzir a Cafuza, até que chegamos na Invicta. Foi uma brasagem difícil, pois precisamos brassá-la 3 vezes para encher o fermentador de 3.000L. Começamos na quinta feira as 14:00 e acabamos na sexta as 18:00. Paramos apenas para dormir.

Lupulinas – Como os sócios se dividem nas funções que são necessárias em uma micro cervejaria artesanal?
Leo – Todos fazem de tudo um pouco. Trabalhamos sob demanda e todos se ajudam para nos sobrecarregarmos por igual. Como fazemos parceria com microcervejarias, conseguimos focar mais nos produtos em produção, produtos e a serem lançados, vendas, promoção de vendas, distribuição, e menos na administração do negócio em si como compra de insumos, processo de produção (apesar de acompanharmos o processo todo).

Lupulinas – A Cervejas Sazonais tem a radicalidade de suas receitas já como marca. Fale sobre as maravilhas que voces já fizeram em conjunto ou separadamente e quais escolas cervejeiras fazem a cabeça de voces.
Leo – Temos uma pequena queda pela escola Americana, mas o mercado cervejeiro é muito amplo e queremos abranger a maior quantidade de estilos possíveis, e quem sabe, criar alguns novos, mantendo sempre a personalidade. Esse é e será um grande desafio para nós pela restrição de equipamentos disponíveis no Brasil para as loucuras que queremos criar. Mas não será impeditivo.

Lupulinas – Como voce mesmo diz, os planos são muitos e podemos esperar grandes lançamentos radicais. Lança uns spoilers pro nosso leitor…
Leo – O próximo lançamento será a Green Dream, da Cervejaria Noturna, uma IPA com 7,5% ABV e 80 IBUs (International Bitterness Units). Mas temos algumas (muitas) receitas prontas e outras em desenvolvimento nos melhores laboratórios cervejeiros existentes, que são as cozinhas de nossas casas.

Lupulinas – Nós, Lupulinas, adoramos um rótulo criativo e bem excecutado. Percebemos que voces tambem! Quem fez o rótulo da cafuza?
Leo – Cilmara, com relação ao rótulo da Cafuza, queríamos mostrar realmente a obra de arte que é essa miscigenação dos nosso povo. Esse é um quadro antigo, com mais de 150 anos, e achamos que representaria bem a ideia que gostaríamos de passar, da mistura de negros e índios.

Cafuza
Estilo: Imperial India Black Ale
ABV 8,5%
IBU 110
produzida pela Cervejas Sazonais em parceria com a Cervejaria Invicta

Fotos: Divulgação.