Diário de Bordo – Festival da Cerveja parte 2

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jgordo

O Festival Brasileiro da Cerveja em Blumenau terminou com um balanço totalmente positivo. Com um público de quase 35 mil pessoas durante os quatro dias de cervejas, shows e comilança, o festival já se configura como o maior do gênero na América Latina. O concurso do festival premiou dezenas de artesanais nacionais e a lista completa você encontra neste link.

Para o próximo ano, os organizadores pretendem utilizar mais um setor do enorme complexo de pavilhões na Vila Germânia (onde tradicionalmente acontece a Oktober Fest). Os dois setores ocupados neste ano parecem não dar mais conta da quantidade de publico e expositores. Vinte e seis cervejarias artesanais brasileiras ficaram de fora em 2014 por falta de espaço.

A cidade de Blumenau também comemorou o sucesso do encontro: “Foram quatro dias de hotéis lotados, pontos turísticos visitados e muita gente conhecendo Blumenau”, declarou Valmir Zanetti, presidente do Empório Vila Germânia.

Outro mérito do festival foi promover o encontro de produtores e distribuidores de cervejas e insumos, ampliando a rede de contatos e negócios do setor das artesanais. O espírito de colaboração e compartilhamento de receitas e idéias pode ser acompanhado em brassagens públicas (processo de cozimento, filtragem e esterilização do malte) realizadas em cervejarias da região durante o festival.

A primeira brassagem foi feita na fábrica da Bierland em parceria com a argentina Antares para a produção de uma American Pale Ale com guaraná e lúpulos da Patagônia que será lançada durante a Copa do Mundo, em junho.

A segunda brassagem ocorreu na Das Bier, uma colaboração entre as cervejarias Bodebrown e Morada (duas das prediletas das Lupulinas) que produziram uma breja típica da Colônia, a Roggen Kölsch, uma mistura de lager e ale.

Após o término do Festival, a Schornstein também fez uma brassagem para convidados, junto com cervejeiros da Associação Italiana de Degustadores de Cerveja e da cervejaria italiana BQem: uma quadruppel que será envelhecida em barris de carvalho americano.

rótulo da Dum - 2º lugar (divulgação)

rótulo da Dum – 2º lugar (divulgação)

Por fim, mas não menos importante, pela primeira vez em sua história o Festival Brasileiro da Cerveja distribuiu o prêmio Randy Mosher, designer americano e responsável pela criação do famoso urso da Colorado, que estava presente no júri que escolheu os melhores rótulos. Nós, Lupulinas, aplaudimos a iniciativa pois somos grandes entusiastas e colecionadoras de estampas. Eis os vencedores:

 

Categoria Principal

1º Lugar: Double Viena
Cervejaria: Morada Cia. Etílica
Agéncia D-Lab
2º Lugar: Grand Cru
Cervejaria: DUM Cervejaria
Agência: D-Lab
Direção criativa: Daniel Mazer e Henrique Borges
Designers: Diego Martins e Makson Serpa
3º Lugar: Brotas Beer Weissbier
Cervejaria: Brotas Beer Indústria de Bebidas.
Designer Responsável: Renato Scatolin

Categoria Rótulos de Bandas

1º Lugar: João Gordo Heffeweizen
Cervejaria: Dortmund
2º Lugar: God Save The Queen
Cervejaria: Cervejaria Küd
Designer Responsável: Fábio Guimarães – FCG Design
3º Lugar: Matanza
Cervejaria: Dortmund
Designer Responsável: Matanza

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Diário de Bordo – Festival da Cerveja parte 1

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bodebrown stande

O Festival da Cerveja, em Blumenau, começou para nós na noite anterior com o lançamento da incrível Frosty Bison, a primeira American IPA da cervejaria local Eisenbahn. O novo rótulo é uma receita ganhadora do 4º Concurso de Mestre Cervejeiro, realizado anualmente pela cervejaria que, desta maneira, apresenta novos e promissores profissionais ao mercado.

A Frosty Bison foi criada pelo cervejeiro Fabert Araújo, presente ao evento, um cara simpático que costumava fazer suas receitas em casa..

Para acompanhar a nova American IPA a Eisenbahn lançou um copo especial, semelhante ao ~copo mágico~ da Dogfish Head porém um pouco menor. O copo ressalta as qualidades das IPAs e esta deve ter sido a razão para seguir os passos da cervejaria americana. Infelizmente os copos não estarão à venda. Mas atendendo a pedidos dos consumidores, a Eisenbahn resolveu envasar sua Frosty Bison em garrafas de 500ml: mais sabor em maior quantidade. Elas chegarão ao mercado ao preço de 16 dilmas.

O aroma dos lúpulos americanos da Frosty logo aparece. A espuma da cerveja é boa, consistente, o sabor é amargo-cítrico e corpo, leve e sem arestas. Mais uma ótima IPA artesanal brasileira para festejarmos.

Ah, e vale destacar o bar-fábrica da Eisenbahn. Comprada pela Kirin Brasil, a cervejaria mantém a filosofia das artesanais. Do bar, através de um vidro, podemos acompanhar todo o processo de feitura de suas cervejas. Se for a Blumenau, não deixe de visitá-la. Imperdível.

No dia seguinte fomos convidadas para o almoço no The Basement Pub que apresentou seu novo cardápio de burgers e hot-dogs. O bar pertence aos ex-proprietários da Eisenbahn, que agora se dedicam a produzir os tradicionais queijos fundidos de Pomerode. Deliciosos, aliás. Adoramos os hambúrgers, os queijos e as artesanais que os acompanharam. Outro pico para explorar em Blumenau.

O Primeiro dia do Festival

As Premiadas

Às 21 hs, muita alegria e comemoração com a premiação das 23 cervejas que receberam medalhas de ouro. Elas passaram de 80 pontos na avaliação geral e foram coroadas como melhores do Brasil nos seus estilos. A Stout Açaí, da Amazon Beer, recebeu 91 pontos entre os 100 possíveis e foi eleita a melhor cerveja do país.

Outro resultado muito comemorado foi o bicampeonato da Bodebrown, de Curitiba, que foi eleita de novo a melhor cervejaria do país. Foram 10 medalhas:  uma de ouro, seis de prata e três de bronze. Em segundo lugar ficou a Brasil Kirin com os premios da Eisenbahn e Baden Baden. E em terceiro a Gauden Bier, com os rótulos da Dum, Morada Etílica, Pagan e seus proprios de fábrica.

A cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto (SP), foi a que mais acumulou medalhas de ouro. Foram três: Colorado Ithaca, Colorado Vixnu e Colorado Ithaca Oak Aged.

Os lançamentos

A Baden  Baden, de Campos do Jordão, lançou uma levíssima Witbier. Com toques de coentro e aroma de laranja, estilo belga, esta Witbier é bem refrescante.

A cervejaria Wäls, de Belo Horizonte, preparou uma cerveja para nossa temperatura tropical: a Session Citra com um rótulo bem esperto.

A Schornstein, de Pomerode, apresentou a Blanche de Maison, uma Witbier clássica com coentro, laranja, tangerina e limão siciliano. De cara, arrebatou a medalha de prata de seu genero. Aliás, a Schorstein ganhou ouro com a sua magnifica IPA, já no mercado.

A Morada Cia Etílica, de Curitiba, mostrou a Hop Arábica, unindo o melhor da cerveja e do café.

A Dama Bier, de Piracicaba apresentou a Imperial Coffee IPA, com 9% ABV e adição de café de São Paulo.

A Way Beer, de Curitiba, levou a linha Sour me Not, composta inicialmente por três cervejas com frutas (morango, acerola e graviola).

A Baldhead, de Porto Alegre, fez sucesso com a Kojak IPA.

A Bamberg, de Votorantim, levou barris de  Franconian Raphsody, uma gostosa helles defumada.

A gaúcha Seasons agraciou os amantes de lúpulo com a XXXPA servida em chope. Nosso olhar também foi atraído pelas descoladas camisetas da cervejaria que – parabéns, Leo! – levou ouro pela Cirillo, prata pela Pacific e bronze pela Holy Cow.

Outro estande que nos chamou a atenção foi o da Lake Side, cervejaria que trabalha sem glúten e faz diversos tipos de cerveja. De cara levou o Ouro pela Crazy Rye. Em breve faremos um post só sobre esta cervejaria corajosa e criativa.

A campeã Bodebrown, de Curitiba, lançou um vídeo mostrando tudo o que vai levar para o festival. São 2 mil litros de cerveja em 18 rótulos, sendo que 5 deles envelhecidos em barris por até 18 meses. Assista ao vídeo:

 Destaques

Mais uma delícia que degustamos: a Coruja Labareda, que o talentoso Rafael Rodrigues nos apresentou com sua simpatia característica. Uma cerveja com pimenta, complexa, que traz alegrias aos sentidos e pede outro gole na sequência.

A alegria de beber mais uma vez a maravilhosa Funk IPA, da Cervejaria 2Cabeças, só não é maior que a de encontrar Maira Kimura e Bernardo Couto. Alias, parabéns pelas Medalhas de Bronze recebidas pela  Hi5 e a propria Funk IPA

Uma delícia também os sorvetes, feitos com cerveja é lógico!, da Gelataio de Curitiba.

Enfim, são muitos rótulos diferentes e nunca conseguiriamos provar todos apenas numa noite. O festival prossegue até dia 15 e no próximo post comentaremos sobre seu desfecho e as eleições para a Associação Brasileira das Microcervejarias.

Festival Brasileiro da Cerveja
Data/horário: 12 a 15 de março de 2014 (de 12 a 14 a partir das 19h e no dia 15 a partir das 15h)
Local: Parque Vila Germânica, em Blumenau (SC)
Mais informações: www.festivaldacerveja.com

O maior encontro da cerveja artesanal brasileira

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festblumenau

O mundo cervejeiro está em expectativa e trabalhando para tudo dar mais que certo no Festival Brasileiro da Cerveja, no Parque Vila Germânica, em Blumenau, entre os dias 12 e 15 de março. Além do crescimento em número de estandes e publico esperado, o Festival é o lugar onde lançamentos são feitos, palestras ampliam o conhecimento dos iniciados, shows garantem a diversão e prêmios são disputados.

Na programação das sete palestras e dois debates deste ano, a organização fez uma parceria com a Escola Superior de Cerveja e Malte, lançada nas últimas semanas na cidade e primeiro curso de nível superior da América Latina. A legislação das microcervejarias e as tendências do mercado são alguns dos assuntos que serão discutidos. A programação completa das palestras e debates você encontra aqui.

A premiação principal – II Concurso Brasileiro de Cerveja – será apresentada pelo Sady Homrich, baterista do Nenhum de Nós, e conhecido no mundo cervejeiro pelo seu amor e conhecimento às artesanais.  Este ano, 414 rótulos de 83 cervejarias disputam os prêmios, 92% a mais do que na primeira edição em 2013. Estes números mostram o crescimento do mercado, da própria indústria e o reconhecimento desta pelo evento. Trinta jurados farão esta escolha e sete profissionais são estrangeiros vindos do Chile, Argentina, Uruguai, Alemanha e Itália. Os 23 demais são brasileiros e se dividem entre sommeliers de cerveja, mestres cervejeiros e especialistas.

Mas não é só este prêmio que está sendo disputado este ano. A AcervA Catarinense e o Beer Judge Certification Program (BJCP) realizarão três exames para certificar juízes internacionais de cerveja. Essa certificação amplia o profissionalismo nas competições brasileiras.

A Cervejaria Colorado entregará o prêmio Randy Mosher de Design de Rótulos colocando em foco um dos aspectos mais interessantes desta indústria: a não padronização e a criatividade que este mercado aprecia. Serão dois prêmios: rótulos de linha e de bandas. Randy Mosher é um dos mais importantes designers de rótulos do mundo e é o responsável pelo famoso urso da Colorado e estará no Brasil presidindo este júri.

Dois palcos foram montados para receber 26 grupos de variados estilos musicais que têm ligação com o mundo cervejeiro. A programação está aqui. Oito pontos gastronômicos disputarão também a preferência do público servindo petiscos, pratos e salgadinhos que combinam com os tipos de cerveja que estarão no festival. Os restaurantes e pratos que poderão ser saboreados estão nesta lista aqui.

Em Blumenau também será o lançamento da Eisenbahn American IPA, com receita dos mineiros Fabert Araujo e André Canuto, vencedores do IV Concurso Mestre Cervejeiro Eisenbahn, novo rótulo que estará à venda nos mercados em abril. Num evento paralelo e aproveitando a presença de todos em Blumenau a nova Eisenbahn será degustada e festejará a parceria entre cervejeiros caseiros e a indústria.

Outro evento que não é aberto ao público, mas é um dos mais importantes que acontecerão estes dias em Blumenau, é a eleição da primeira diretoria da novíssima Associação Brasileira de Microcervejarias. A união de todos os produtores numa associação só fortalece negociações que terão que ser feitas visando a diminuição do preço das artesanais brasileiras e outras questões que cercam os microcervejeiros brasileiros.

Enfim, Blumenau será a capital das artesanais brasileiras entre o 12 e 15 de março e o publico pode comprar seu ingresso antecipado na internet evitando filas neste site. O preço de 12 reais inclui um copo e menores de 18 anos só entram acompanhados pelos pais.

As Lupulinas estarão em Blumenau e vão contar na semana que vem tudo o que rolou por lá.

Festival Brasileiro da Cerveja
Data/horário: 12 a 15 de março de 2014 (de 12 a 14 a partir das 19h e no dia 15 a partir das 15h)
Local: Parque Vila Germânica, em Blumenau (SC)
Mais informações: www.festivaldacerveja.com

 

 

Chuva, Suor e Cerveja: as boas deste carnaval

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boteco com way

O Carnaval tai e folionas e foliões já começam a ocupar alegremente as ruas. Esta é a época do ano em que Os Grandes da Indústria Cervejeira investem pesado no marketing da festa, na mulherada com bunda de fora, em blocos de rua, camarotes e associam suas marcas ao hedonismo e à zueira. Essas cervejas abundam no Carnaval e nós, Lupulinas, não estamos interessadas nelas.

Nós, que gostamos de cervejas artesanais e também de carnaval, precisamos lançar mão de alguns truques e recursos para aproveitar a festa com cervejas mais ao nosso gosto. Aqui vão umas dicas:

1. Aproveite a moda dos rolês do isoporzinho e leve suas favoritas para a rua, devidamente refrescadas num cooler ou isopor. Carregue-as para o bloco, pra dividir com amigos e amigas. Deposite os cascos vazios em local apropriado para reciclagem. Limpe depois toda sua sujeira.

2. Cole em algum bloco que passe perto de bares que vendam cervejas artesanais e assim se abasteça no meio da folia. Não mije na rua.

3. Se for assistir desfiles pela TV, encha a geladeira com delicinhas artesanais, convide a galera (e que ela venha também com cervejas boas) e seja você o rei do seu camarote. Trate bem os convidados e sirva petiscos pro pessoal não queimar a largada.

4. Se você for fugir da folia e se isolar num sítio, não se esqueça de levar caixas e caixas de artesanais para viagem e não as deixe sofrer com o sol e o calor. E se beber, não dirija.

5. Se for fazer um churrasco, peça chopp artesanal para sua festa. Há micro-cervejarias que distribuem seus barris também para pessoas físicas, como a Bamberg Express, aqui em SP.

6. Muitos supermercados de rede vendem artesanais, inclusive geladas. Se você der sorte, pode achar algumas nas prateleiras enquanto dá aquela escapadinha da folia para dentro do mercado. Rótulos como Eisenbanh, Colorado e Baden Baden são os mais fáceis de encontrar.

Por fim, recomendamos os estilos mais leves e menos alcoólicos, ideais para quem vai passar o dia inteiro bebendo, provavelmente, sob forte calor. Lagers, Pilseners, Weizen/Weiss e Pale Ales. Ah! E não esqueçam da água que dá aquela qualidade de cervejeiro fundista.

 

Sugestões : (escolhemos cervejas mais fáceis de encontrar nas prateleiras dos supermercados – somente brasileiras)

Eisenbahn Pilsen (latão especial de 473ml)
Way Pale Ale
Way Premium Lager
Bamberg Kolsch (sazonal de carnaval)
Bamberg Camila Camila
Colorado Appia
Baden Baden Cristal
Amazon Taperebá Witbier

 

In De Wildeman: o doce bar selvagem

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foto de cilmara bedaque

Os amantes da cerveja artesanal têm uma grande afeição por bares. Não comecem a esculachar. É que a maioria das cervejas artesanais bebidas in loco e não envasadas são mais saborosas e consistentes que as da garrafinha. Então um bom bar é coisa de se guardar como um bom amigo. Dessa maneira, temos uns preferidos por cidades que conhecemos e hoje vamos falar do In De Wildeman (O Selvagem), nosso queridinho em Amsterdam.

Ele fica no centro velho da cidade, em uma travessinha do calçadão da Nieuwendijk, rua comercial que sai do Dam Square. Não é muito fácil de achar, mas nem tão difícil assim. A generosidade do bar começa com uns bancos e umas mesinhas baixas pro povo do tabaco beber lá fora. Lá dentro 18 torneiras revezam as melhores artesanais e trapistas. Em seu cardápio outras duzentas e tantas cervejas disputam nossa atenção.  Além das belgas e holandesas, eles têm boas opções da Grã-Bretanha, Estados Unidos e Alemanha.

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O prédio do bar era uma antiga destilaria e foi conservado o ambiente rústico, com madeira, tonéis pelas paredes, quadros, dísticos, flâmulas e todo e qualquer material que lembre uma boa cerveja. As  paredes cheias de recordações colocadas há mais de 20 anos, um piso xadrez preto e branco e moveis desgastados completam o clima e fazem o aconchego do bar. Em um dos seus ambientes, uma estante com guias e anuários sobre cerveja ajudam a você escolher o que beber. Mas se ficar perdido com tanta opção, não se preocupe: o povo que trabalha no In De Wildeman é ótimo conhecedor de cerveja e te pergunta que gosto você quer sentir e ainda fica dando amostras (teasers) das torneiras pra não dar erro. Isso sem contar que são uns/umas holandeses lindos e bem humorados. E, se tudo isso te faltar, vai na opção “cerveja do mês ou da semana” que é impossível não ser deliciosa.

O In De Wildeman tem três salões pequenos em níveis diferentes e um balcão sem bancos. Você paga a cada cerveja que bebe para não dar confusão com o entra e sai constante. Se você preferir e/ou ficar mais tempo no bar, pode sentar-se à mesa e pedir a conta no final. Toda cerveja é servida em seu próprio copo e esta é uma atração a mais. Lá dentro não rola música, só o conversar dos grupos de amigos e mesmo de desconhecidos que começam um papo como se estivéssemos no Rio ou na Bahia. O que impera é o à vontade e a paixão pela cerveja.

Ele é freqüentado por muitos locais que vão à saída do trabalho, mas sua fama atrai pessoas de todo o mundo. Ao contrário de seu pessoal treinado e gentil, o dono não prima pela simpatia, preferindo fazer o papel de In De Wildeman (o selvagem), mas ele vai muito pouco pra lá. Está sempre a visitar cervejarias e destilarias da região pra trazer novidades para o bar.

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O IDW não serve refeições. Para acompanhar suas cervejas, eles oferecem embutidos deliciosos, queijos trapistas (excelentes, não deixe de provar) e amendoins ou similares. Mas se você tiver fome, no calçadão do bar tem fast food chines, um quiosque de batatas fritas inesquecíveis, cafés, burgers e restaurantes de churrasco argentino e um mais metidinho de cozinha internacional. Em frente ao bar tem um coffee shop para,se você quiser, fumar haxixe ou maconha, que são legalizados por lá. Amsterdam é hoje a única cidade holandesa onde a venda ainda é permitida a estrangeiros. Uma dica preciosa, porém: não intercale álcool e canabináceos: embora alguns possam estar acostumados à mistura, tanto a cerveja quanto a maconha vendida por lá podem derrubar um cavalo.

Em 2012 tivemos a sorte de mais uma vez passar pelo IDW nas comemorações do Jubileu de Prata do bar. Seu prestígio é tão grande que a americana Flying Dog, uma das cervejarias mais inovadoras do mundo, fez uma receita especial pra festejar o aniversário. E assim nasceu a edição limitada da Wildeman Farmhouse IPA, uma cerveja personalíssima com sabor de pão fermentado e bastante lúpulo. Remete às origens da feitura da cerveja e foi apreciada pelos profissionais do copo. Tivemos a sorte de bebê-la fresquíssima na torneira e também engarrafada nos Estados Unidos. A Flying Dog fez um filme promocional comemorando o Jubileu e acrescenta que ela “tem gosto de insanidade”.

Enfim, o In De Wildeman é um dos cantinhos bons que existem pelo mundo e, se você tiver oportunidade de conhecê-lo, não deixe para depois. Ah! dentro do bar funciona um competentíssimo wi-fi.

PS >>> Este post dedicamos ao Nick que sempre nos serviu com alegria e à holandesa JJ.

Serviço:
Kolksteeg 3 1012 PT Amsterdam – http://www.indewildeman.nl/
Abre das 12h00 às 2h00, exceto segunda, aberto só até a 1h00.
Fecha aos domingos.

Lager: a favorita da galera

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Muita gente fica confusa quando o assunto é o tipo da cerveja que bebemos ou queremos beber. Básicamente as cervejas podem ser lagers ou ales. Vamos, neste post, falar só das lagers que são as cervejas mais consumidas do mundo. No Brasil, só pra dar idéia da popularidade, 99% das cervejas consumidas são do tipo lager (e industrializadas, já que o hábito de beber artesanais, embora cresca ano a ano, ainda não faz parte do dia a dia do brasileiro, por inumeros motivos que ainda abordaremos aqui no Lupulinas).

Basicamente, o que diferencia uma ale de uma lager é o processo de fermentação das cervejas. As ales passam por um processo de alta fermentação em temperatura ambiente. As lagers são menos fermentadas e o processo ocorre sob temperaturas frias. Graças a este processo de (baixa) fermentação, as cervejas estilo lager resultam geralmente mais límpidas e menos opacas. Quanto à coloração as lagers variam, de amarelo claro até completamente pretas e, em geral, são menos alcoólicas que as ales. Outra diferença entre os dois tipos é que a levedura é colocada acima do mosto nas ales e abaixo dele nas lagers.

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Outro ponto é que, graças sua leveza, as lagers pedem para ser bebidas refrigeradas, enquanto as ales devem ser servidas em temperatura ambiente. Obviamente essa observação é um tanto eurocêntrica. Aqui no Brasil, a verdade é que refrescamos as ales e gelamos as lagers porque o calor de verão assim exige. Tudo é adaptação.

Para melhor explicar os tipos e subtipos de cerveja lager, resolvemos emprestar esse infográfico bacaninha do livro “Brasil Beer – O guia das cervejas brasileiras“.

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Pois então, camaradas, temos lagers escuras (bocks e dunkels), douradas (vienna) e as claríssimas (dortmund e pilseners). Elas variam também na adição de lúpulos, com o amargor variando de 8 a 35 IBU (exceto as tchecas, mais lupuladas, que alcançam 45 IBU).

Talvez o mais conhecido subtipo de lager dos brasileiros seja a pilsener (também chamada de pilsen), bem clara, não muito amarga e levemente aromática. Ela deve seu nome a cidade de Pilsen, República Tcheca, onde foi criada em 1842 por um cervejeiro local, da região da Bohemia. Mas o que as indústrias no Brasil afirmam ser pilsen soaria como insulto entre os tchecos. A mistura de milho descaracteriza totalmente a pilsen brasileira industrial.

Nós, Lupulinas, gostamos especialmente das tchecas. Fomos até Praga em busca de suas famosas lagers. No Pivovarský Dům (literalmente, “Casa do Cervejeiro”), bar-cervejaria não muito longe do centro, experimentamos duas clássicas lagers tchecas: a clara e a escura (há também a opçao de misturar as duas). Bebidas assim, fresquíssimas, direto da torneira onde os caras fabricam a cerveja, é uma experiência única. A cervejaria não envasa, mas você pode levar um growler pra casa ou para o hotel (falaremos mais de Praga em outro post).

Outra famosa e deliciosa cerveja que provamos em Praga foi a lager do U Fleku, bar-cervejaria perto do Teatro Nacional. A U Fleků Flekovský Tmavý Ležák 13° (sim, é este o nome da cerveja) é bem escura, límpida, redondíssima, leve e só encontrada em suas torneiras (eles não engarrafam).

A verdade é que há um mundo de lagers a ser explorado e para isso selecionamos algumas artesanais brasileiras para a galera:

LAGERS ARTESANAIS BRASILEIRAS (tipo e estado em que são porduzidas)

Biritis – Vienna Lager – RJ
Way Premium Lager – Premium American Lager – PR
Way Beer Amburana Lager – maturada em barril de amburana – PR
Schornstein Pilsen – American Lager – SP
Backer Capitão Senra – Amber Lager – MG
Baden Baden Crystal – American Lager – SP
Bamberg Camila Camila – Bohemian Pilsen – SP
Colorado Cauim Pilsen – Pilsener com féculas de mandioca – SP
Coruja Extra Viva – Lager Premium – RS
Jan Kubis – Amber Lager – PR
Eisenbahn Pilsen – Lager – SC
Eisenbahn 5 – Amber Lager com dry hopping – SC
Falke Bier Red Baron – Vienna Lager – MG
Invicta – German Pilsener – SP
Mistura Clássica Mary Help – Vienna – RJ
Morada Double –  Vienna – PR
WÄLS Pilsen – Pilsen Bohemia – MG
WÄLS X-Wals – American Lager – MG

Os Novos Cervejeiros de Júpiter

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david na chopeira (divulgação)

No mundo da cerveja artesanal a maioria das empresas começa de maneira orgânica. Ou é um grupo de amigos que já aloprou testando formulas e formulas ou é uma família, normalmente dois ou três irmãos que, da brincadeira, passam para a coisa séria. Essa característica faz parte, principalmente, de uma nova geração de cervejeiros que sublocam espaços em fábricas já estabelecidas.

A Cervejaria Júpiter nasceu na casa dos Michelson depois de muita zona com panelas e lúpulos e maltes que David, o primogênito, fazia. Pouco a pouco, primeiro como pilotos de teste e depois com funções estabelecidas, Rafael e Alexandre foram mordidos pelo gosto e prazer de fazer cerveja artesanal.

Sua primeira criação foi lançada em julho de 2013 e logo conquistou os especialistas. Usando a fábrica da Dortmund, em Serra Negra, a Júpiter APA – American Pale Ale – mostrou personalidade não só no conteúdo da garrafa como também em seu rótulo. Obra também de David Michelson que resolveu abrir a Júpiter depois que foi demitido da revista Época, onde era editor de multimídia, num dos passaralhos que rolaram na grande imprensa. Ganhamos nós porque o cuidado gráfico da Júpiter faz com que a marca salte aos nossos olhos.

A Júpiter APA usa lúpulos americanos e passa pelo processo de dry hopping*  Ela não é filtrada e nem pasteurizada, no copo fica entre dourada e alaranjada e tem um aroma inconfundível, entre as nacionais. O toque cítrico do lúpulo usado nos faz pensar em maracujá, mas tudo é bem suave e equilibrado.  ABV 5,4 IBU 37

O segundo rótulo, Júpiter IPA – India Pale Ale – usa a técnica que a Dogfish Head criou e aprimorou. Chama-se lupulagem contínua e David explica o que é isso na entrevista abaixo. O toque refrescante comparece com aroma de limão e abacaxi e um final seco sempre pede outro gole. O rótulo é do mestre Ciro Bicudo e, além de bonito, traz informações preciosas para o consumidor. ABV 6,5 IBU 70

Lupulinas: Vocês são três irmãos tocando a Júpiter, certo? E chamaram o Vitor Marinho pra ser mestre cervejeiro?
David: Pra ser rigoroso, o Vítor não é exatamente um mestre cervejeiro, porque teria que ter cursos como especialista. Mas ele é uma grande promessa, um grande talento. É uma questão de tempo e mais anos de bagagem.

Lupulinas:  Logo no começo vocês já sentiram necessidade de engarrafar a cerveja? Digo isso porque é normal nos Estados Unidos, os artesanais ficarem anos só no barril.
David: Aqui a cervejaria tem que ter linha de envase porque a cultura de chopp no Brasil é muito incipiente. Por exemplo, na Irlanda, tipo 75% da cerveja É consumida em barril. No Brasil, eu precisaria ver o número certo, mas acho que é tipo menos de 5%.

Lupulinas: Vocês acham que é pela cultura ou também por causa do transporte e da logística?
David: É cultural. Primeiro que, por exemplo, pro sujeito servir chopp num bar precisa ter toda uma infraestrutura para os barris. A gente tem uma cultura de boteco, uma portinha só, e geralmente não tem espaço pra essa infra. Outra coisa é que a manutenção de chopeiras exige conhecimento e treinamento e as cervejarias pequenas não têm condições de bancar essa estrutura nos bares.

Lupulinas: E como foi a decisão de passar de uma produção caseira para uma cervejaria de fato, que envasa e vende suas cervejas?
David: Eu trabalhava na Época e, num ano fui eleito funcionário exemplar em 2010 e, no ano seguinte, durante um passaralho, fui demitido. A gente já fazia cerveja em casa, curtia muito fazer, fazia vários lotes e convidava uma galera pra experimentar e palpitar. Depois que eu fui demitido, em novembro de 2011, fiquei dois meses sem nenhum frila e, pra não pirar, resolvi ocupar todo o meu tempo fazendo cerveja: um dia eu brassava, no outro dia eu remendava equipamento, no outro eu desenhava o rótulo, no outro eu lavava garrafa, e tudo feito no panelão, em casa. Aí comecei a ler um monte de livro sobre produção, história das cervejarias, comecei a fazer as contas, ter umas idéias, chamei meus irmãos e disse: “acho que dá”. Depois, me inscrevi no curso do Senai (cervejeiro) em Vassouras, fiz um intensivão de um mês lá. Daí, quando cheguei, comecei a encher o saco do Vítor (que trabalhava na Cervejaria Nacional e hoje está na Dortmund) pra colaborar com a gente como consultor, pra fazer pequenos acertos nas receitas.

Lupulinas: Como está a produção de vocês?
David: A gente produz 1800 litros de APA por mês, desde que começamos, e continuamos assim. A IPA a gente produz um lote de 3000 litros de cada vez, mas não conseguimos ainda produzi-la com regularidade por questões técnicas e fabris (por isso ela some de vez em quando do mercado). Mas nós estamos aumentando os pontos de venda (cheque a página do site). A gente queria entrar no mercado com um preço super competitivo, com a garrafa custando 10 reais nos pontos de venda, mas a gente não conseguiu. E nós mesmos que distribuímos (por enquanto).

Lupulinas: Vocês produzem a APA na Cervejaria Dortmund, né?
David: Sim Elas saem da câmara refrigerada da Dortmund e um caminhão com isolamento térmico traz o lote para o nosso estoque refrigerado (e compartilhado com outras cervejarias), que fica em Itapevi. Agora a gente quer fazer um acordo com alguma distribuidora e ampliar nossos pontos de venda porque a gente só tem essa Kangoo com compartimento refrigerado pra dar conta da distribuição.

Lupulinas: As cervejas da Ambev não são transportadas por caminhões refrigerados, né?
David: Não. E nem são todas as importadoras que trabalham com carga refrigerada.

Lupulinas: E por que o transporte refrigerado é tão importante? Por causa do Lúpulo?
David: Sim, especialmente por causa do lúpulo. A cerveja que é transportada fresca não perde o sabor nem o aroma dos lúpulos.

Lupulinas: Vocês se inspiraram na Dogfish Head para fazer uma cerveja com lupulagem contínua?
David: Totalmente. Era uma brincadeira que a gente fazia nos lotes feitos em casa. A gente ficava lá que nem maluco, colocando um tiquinho de lúpulo a cada minuto da fervura. Quando passamos a produzir em cervejarias, continuamos com a lupulagem contínua, numa escala maior. Aliás, o Sam Calagione (cervejeiro da Dogfish) elaborou esse conceito da lupulagem contínua assistindo a um programa de culinária na TV. O apresentador dizia que, em vez de colocar os temperos todos na panela de uma vez, o lance era ir temperando a comida aos poucos, durante todo o processo, para extrair uma gama maior de sabores e aromas. A cerveja tem muito disso também: se vc coloca o lúpulo faltando uma hora pro fim da fervura, vc extrai amargor; a 20 min do final, vc extrai sabor; se vc adiciona o lúpulo no finzinho da fervura, vc extrai dele o aroma. Assim, o que o Calagione fez com a lupulagem contínua foi extrair todo tipo de sabores e nuances do lúpulo. A gente também faz hop tea que é um outro tipo de dry hopping. Na parte da maturação, fase em que normalmente se faz dry hopping, a gente faz tipo um chá de lúpulo a 60/70 graus para adicionar à cerveja.

Lupulinas: Quais são os planos para 2014? Vão fazer novos lançamentos?
David: Pro primeiro semestre, temos uma meia dúzia de lançamentos. Duas cervejas sazonais serão feitas em parceria com a Cervejaria Nacional, pra vender na torneira deles. Vamos lançar também uma witbier com tangerina pra talvez lançar no Festival de Blumenau. Vamos lançar tb duas cervejas com pimenta (uma com habanero e outra com chiplote) em parceria com a De Cabrón. Na última semana de março sai nossa session IPA, só nossa, sem parceria e será cerveja de linha como a APA e a IPA. Em julho, no aniversário de um ano, queremos lançar uma stout mais tradicional.

*dry hopping é a colocação de lúpulo durante a fermentação, maturação ou até mesmo no barril da cerveja. O lúpulo prensado é colocado dentro de uma bolsinha com tecido bem fino para que depois seja fácil de retirar. Quantidade e duração variam de acordo com a receita.

Yes, nós temos cervejas!

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fotos: cilmara bedaque

Muitos leitorxs nos perguntam qual é a cerveja boa. A resposta é muito difícil porque existem muitas cervejas sensacionais pelo mundo todo e, além disso, essa opinião envolve preferências e momentos. Sem contar que, enquanto escrevemos este post, mais e mais brejinhas estão sendo inventadas pelos mestres artesanais \o/

Um lugar na Vila Madalena nos chamou a atenção o ano passado porque, além de vender só cervejas artesanais brasileiras, o seu dono – Oliver Buzzo – traz com orgulho essa proposta no slogan do bar: De Bruer – 101 cervejas brasileiras.

Unindo o agradável com o melhor ainda ;) resolvemos conversar com o Oliver bebendo algumas brasileiras que, quando vocês encontrarem, não deixem de experimentar. É uma pequena lista com estilos diferentes de cerveja e que não pretende ser um ranking das melhores. É só a constatação que a artesanal brasileira está em um nível que não tínhamos há três anos.

Lupulinas: Bares especializados em cervejas artesanais normalmente oferecem também cervejas importadas. Seu bar é o único que conhecemos que vende apenas artesanais nacionais e inclusive faz disso um slogan.
Oliver: Essa proposta é única do Brasil, pelo que eu acompanho. Mas acho que esse ano mais um maluco resolve abrir um bar só de nacionais artesanais.

Lupulinas: E por que ninguém mais faz isso?
Oliver: Porque ninguém acreditava que era possível. Falei com muito dono de bar e os caras me falavam “cara, não é possível, o público quer cerveja importada e não existem tantas cervejas artesanais brasileiras boas como as importadas”. Eu abri o De Bruer no final de novembro de 2012 e naquela época era essa a realidade mesmo, havia poucas artesanais brasileiras.

Lupulinas: O que você fazia antes de abrir o bar?
Oliver: Eu era home brewer, mas nunca fui um bom cervejeiro (risos). Mas eu tava no meio da moçada. Eu criei uma webTV  (2011/12) e no meu tempo vago eu gravava em vídeo a atividade da moçada. Aí, porque eu estava no meio cervejeiro, eu saquei que tava muita coisa acontecendo e que viria muita cerveja artesanal brasileira em 2013 e que seria possível o bar viver disso. E foi o que aconteceu. Em meados de 2013 apareceu um monte de cerveja boa e o bar se sustenta apenas com as brasileiras.

Lupulinas: Uma das reclamações que a gente ouve dos produtores e também dos donos de bar (as duas pontas do negócio) é a distribuição precária. Como você percebe esse gargalo?
Oliver: Hoje, em São Paulo, capital, a distribuição está bem organizada. Só. Só existe um lugar no Brasil que você tem acesso às cervejas artesanais, principalmente brasileiras. Nem no Rio tem. Em Curitiba, onde a gente tem os maiores produtores de artesanais brasileiras, não tem uma cena de bares onde você possa tomar cerveja artesanal ou local. Todo mundo que tá distribuindo, tá em São Paulo. Mas é também porque o maior mercado consumidor de cervejas artesanais é aqui. Agora acho que a tendência é se espalhar para o resto do país.

Lupulinas: Nós somos um país enorme e existe essa “obrigação” de distribuir o produto para o Brasil inteiro, como faz a grande indústria. Mas isso meio que contradiz um conceito original da cultura cervejeira artesanal que é “consuma a cerveja local, da sua região”. O que você acha?
Oliver: Concordo. Mas aí conversando com os produtores, você ouve que “não conseguem vender” a cerveja que fabricam no local. Você vê uma cervejaria tipo Bamberg e nota que eles não conseguem vender para a população local, que não tem o hábito de artesanais. Aí a Bamberg manda tudo aqui pra São Paulo. São Paulo compra toda cerveja artesanal de Curitiba, um absurdo. Às vezes falta Bodebrown em Curitiba. E quando chega ao Rio, o preço é exorbitante.

Lupulinas (com o auxilio luxuoso de Pedro Alexandre Sanches): Você disse que em 2013 mudou tudo, mudou muito, como assim?
Oliver: Qual era o maior problema antes para as cervejarias artesanais? Pela legislação, os órgãos do governo não fazem distinção entre o cara que produz 100 mil litros de cerveja e um que produz 100 milhões. Então, para construir uma cervejaria, nossa, cara, você não acredita no nível de exigências que o governo faz. Tem que lidar com vários órgãos de governos nas três instâncias, municipal, estadual e federal. Uma loucura. Leva anos. Então, o que acontece? A produção de cerveja artesanal era um hobby muito caro. Se você olhar a 1ª geração de cervejeiros artesanais brasileiros, são todos “filhinhos de papai”, todos (sem querer desmerecer por isso). Porque o pai bancava, ou então era negócio da família de muitos anos. Custa milhões montar uma cervejaria, por causa do equipamento e da burocracia.
Em 2012 comecei a perceber uma segunda geração, de classe média, que queria entrar nesse negócio de fazer cerveja, mas que não tinha acesso. Esse pessoal, em 2013, encontrou um caminho, que é o cigano: eles alugam espaço ocioso em cervejarias que já existem e se tornam parceiros. Eles desistiram de brigar com os governos a cerca da carga tributária e passaram para esse esquema. Mas a questão burocrática depende também. Tem prefeituras que o cervejeiro conseguiu conversar com o poder local para conseguir incentivos e derrubar barreiras.

E foi assim. Temos assunto para muitos papos ainda e muita cerveja brasileira boa para experimentar. Vamos citar algumas que foram muito bem saboreadas naquela noite:

. Black Rye IPA (Bodebrown, PR)
Uma black IPA feita com malte de centeio tostado e que é um soco forte e seco. Uma preta que não é doce e é aromática. Não é rala, nem densa: o álcool diz “oi”, e os lúpulos, “beleza, fera”. Para beber lentamente. ABV 8,3  IBU 80

. Jan Kubis (Cervejaria DUM, PR)
Lançamento de 2013, uma lager sensacional da cervejaria curitibana DUM. Refrescante, leva muito malte de cubada e lúpulos cítricos. O nome é homenagem a um soldado tcheco que lutou na resistência contra a invasão nazista. ABV 5,3 IBU 52

. Green Cow IPA (Cervejaria Seasons, RS)
Provamos essa excelente IPA direto da torneira, durante o IPAday2013 em Riberão Preto. Agora, engarrafada e com um lindo rótulo fluorescente estampando uma vaca verde, ela continua deliciosa. Recomendamos.  ABV 6,2 IBU 62

. Hoppy Day (Cervejaria Tormenta, PR)
Em 2013 a Cervejaria Tormenta deixou de ser caseira para começar a engarrafar e distribuir. A Hoppy Day é uma Ale levíssima e refrescante (nos lembrou uma session IPA), com profusão de lúpulos cítricos e herbáceos. Passa por dry hopping. Com humor avisam no rótulo: “ATENÇÃO!  Como toda cerveja lupulada, ela deve ser consumida o quanto antes. Lúpulo fresco é sempre mais gostoso!” ABV 6,5 IBU 61

. 1000 IBU (Cervejaria Invicta, SP)
Não é novidade que a Invicta faz cervejas maravilhosas. Para comemorar dois anos de existência, a cervejaria se superou e lançou em 2013 a 1000 IBU, uma imperial IPA que é uma porrada de lúpulo. Surpreendentemente, o amargor da cerveja é bem distribuído e permanente, misturando-se muito bem ao álcool. ABV 8  IBU ? (embora mestres cervejeiros admitam q seja impossível um IBU acima de 100, o nome faz uma provocação a este horizonte infinito de amargor)

. Rauchbier (Cervejaria Bamberg, SP)
Rauchbier é na verdade um estilo de cerveja que, por tradição, leva maltes defumados, daí seu sabor que lembra levemente um bom pedaço de bacon. Esta rauch da Bamberg já ganhou muitos prêmios (inclusive  de segunda melhor rauch do mundo) e pode acompanhar uma feijoada ou um charuto (sério, já fizemos isso). ABV  5,2  IBU 25

. Witte (Cervejaria Wäls, MG)
Uma cerveja nacional de trigo feita à moda belga. De cor amarela, clara e turva, tem um sabor levemente cítrico e picante. Levíssima, é ideal para o verão e para acompanhar peixes e frutos do mar. ABV. 5 IBU 20

Ficou por último neste post, mas não é coisa pra ser deixada pra trás: a cozinha do De Bruer é excelente e faz a companhia perfeita para um bom papo, um lugar gostoso e cervejas com inúmeras possibilidades. Neste dia experimentamos um tapa delicioso e um hamburger de carne suína que fez nosso amigo Pedro Alex mais feliz \o/

DE BRUER

Rua Girassol, 825 – Vila Madalena – SP
Fone: (11) 3812 7031
Horário de funcionamento
Segunda a Quarta das 18:00h à Meia Noite
Quinta a Sábado das 16:00h à 01:00h
Domingo das 16:00h às 23:00h

 

La Trappe: um piquenique no monastério

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Fundado em 1884 em Tilburg, Holanda, o mosteiro Onze Lieve Vrouw van Koningshoeven fabrica a deliciosa La Trappe. Certificada com o selo trapista, a La Trappe é bastante acessível para quem quer provar na bica as receitas dos monges locais. Eles ressuscitaram a terra exausta de uma quinta do rei, que não proporcionava mais os bons frutos de outrora, e tornaram o local uma fonte de boas cervejas. Desde então a deliciosa La Trappe é servida ali e vendida ao mundo em garrafas com ingredientes puros e naturais: lúpulo, cevada, fermento e água da fonte de Koningshoeven (em holandês, “fazenda do rei”).

Por coincidência, visitamos a La Trappe num feriado – Dia da Rainha – e a cidade toda estava em festa. O sol deu as caras e a galera decidiu ir pra rua. Numa parte da cidade a rave comia solta, mas no biergarten da La Trappe a vida parecia um piquenique. Logo no estacionamento (não asfaltado) enxergamos quintilhões de bicicletas estacionadas, não apenas porque a cidade é plana e, como todas da Holanda, bicicleteira, mas porque ao lado do mosteiro há vastas áreas verdes de parques e trilhas para ciclistas. Deu até vergonha estacionar nosso automóvel alugado ali, mas enfim, estávamos numa longa viagem pelos monastérios que produzem cerveja trapista.

No jardim e na brasserie, que ficam ao lado do mosteiro, várias mesas coletivas recebem famílias, grupos de amigos, casais, ciclistas, gente comum e incomum, convivendo de boa. Um enorme gramado serve para estender toalhas ao estilo piquenique e as crianças brincam enquanto os adultos bebem. O clima geral é de risos, conversas animadas e confraternização. Não há garçons coletando pedidos. Quer beber? Adentre o salão das bicas, peça seus chopes e leve-os para mesa. Se quiser comer algo, peça ali mesmo no balcão e você receberá uma senha (na verdade um número estampado numa garrafa de madeira) e o prato chegará a você – para isso servem os garçons ali (e para recolher os copos e mais copos).

Mas vamos falar do que importa: as cervejas!

PUUR – refrescante e orgânica, ligeiramente frutada sem ser doce, perfumada, não filtrada,  ótima espuma que se agarra ao copo, levíssima e lupulada. Limpa a boca. Teor alcoólico de 4,7%.
TRIPPEL – com aroma de amêndoas e caramelo, parece ser mais leve que qualquer outra trippel trapista porque em sua receita são usados coentro e outras ervas. Seca com teor alcoólico de 8% é dourada e com grande permanência na boca.
ISIDOR – assim chamada em homenagem ao monge Isidorus, primeiro fabricante de cerveja da abadia, marcou os 125 anos da cervejaria em 2009. Agradou tanto que passou para a lista de tipos sempre oferecidos. Com 7,5% de teor alcoólico é uma ale âmbar, levemente adocicada com um toque de caramelo, que continua a fermentar após o engarrafamento e tem um sabor rico, ligeiramente amargo, embora frutado.
BOCK – ficou perfeita com o frango em molho de amendoim que a Vange pediu. É sazonal e única bock trapista feita no mundo. Tem uma cor vermelho escuro, um sabor intensamente rico e um aroma maltado. Variedades de lúpulo aromáticas e tipos de malte queimado tornam sua amargura delicada que combina surpreendentemente bem com o seu tom ligeiramente doce. Tem 7% de teor alcoólico.
DUBBEL – ficou maravilhosa com o burger da Cilmara. É marrom escura e com espuma bege. O uso de malte caramelo proporciona um toque aromático suave. É suave sem perder o corpo e intenso sabor. Tem 7% de teor alcoólico.
BLOND – Dourada cintilante, nem parece estar ainda fermentando na garrafa como todas La Trappe. Uma cerveja quase perfeita ao unir a complexidade de seu aroma e gosto à simplicidade de sua receita. Bons ingredientes e pronto. Amargor suave e 6,5% de teor alcoólico.

Infelizmente não bebemos lá a Witte de trigo e nem a envelhecida em barril de carvalho. O monastério também oferece tours para quem estiver interessado no processo de feitura da cerveja. Tem duração de 45 minutos, com degustação de algumas destas maravilhas ao final.

Turismo

Como estávamos circulando os países baixos de automóvel, nos hospedamos em Tilburg mesmo, num motel perto do mosteiro. Mas se você quiser estabelecer base numa cidade um pouco maior e com atrações turísticas escolha Rotterdam. De lá a Tilburg, onde fica a La Trappe, são apenas 50 minutos de trem – praticamente um pulo para quem freqüenta o trânsito brasileiro.

Rotterdam é bruta e linda. Uma das maiores cidades portuárias da Europa, ela foi massivamente bombardeada durante a Segunda Guerra. O esforço de reconstrução envolveu experimentos arquitetônicos e muitos prédios ali são bem malucos. A visita ao Kinderdijk, um canal com antigos moinhos, é obrigatória. A vista panorâmica da cidade e do porto, do alto da torre Euromaster, dentro de uma cabine que nos virava para todos os lados da cidade é incrível. Depois beber uma cervejinha, enquanto o sol se põe, completa o programa.

Ah, você ainda pode ter a er… sorte que tivemos e ver um povo praticando rappel na torre. Vistos de baixo eles pareciam bonecos pendurados na torre por alguma ação de marketing. Lá em cima, já no bar da Euromaster, vimos quando eles adentraram o ambiente pela janela. Em carne e osso. Cada um com seu esporte ;)

HoHoHo – Papai Noel de bermudas

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renas beer

 Desde os tempos pagãos, em que celebrávamos o solstício de inverno, beber cerveja durante a noite mais longa do ano é tradição.Cristãos souberam aproveitar a deixa e a feitura de cervejas especiais continuou firme e forte. Até hoje mosteiros fabricam suas especiais de Natal e algumas microcervejarias artesanais aderiram com tudo à idéia.

As chamadas sazonais enriquecem o cardápio de tipos produzidos pelas cervejarias. Natal no hemisfério norte é época em que o frio começa a pegar e, por isso, muitas Xmas Ales são fortes e encorpadas. Aqui no Brasil, embora vivamos num país tropical, temos o costume de consumir perus e outros assados bem calóricos. Mas podemos ser mais espertos e passar a colocar na mesa pratos mais tenros e leves. E, para revolucionar de vez, deixar nosso Papai Noel de bermudas e beber uma cerveja feita aqui, com nosso clima em sua receita.

Nós, Lupulinas, fizemos um apanhado de algumas cervejas de Natal fabricadas por cervejarias artesanais brasileiras. Incluímos na lista algumas cervejas fabricadas com o método champenoise que são feitas o ano todo porque o espoucar de rolhas nos remete às festas e comemorações.

Brasileirinhas

A cervejaria Schincariol, que está investindo em algumas artesanais que ela comprou, apresenta dois rótulos para o Natal: a Eisenbahn Weihnachts Ale, produzida pela primeira vez em 2003, e a Baden Baden Christmas Beer que está em sua sexta edição. Infelizmente, a Schincariol só garante sua distribuição pelas regiões Sul e Sudeste e enquanto durarem seus estoques.
Einsenbanh Weihnachts Ale – cerveja de estilo belga, com sabor encorpado e marcante. Seu teor alcoólico é de 6,3% um pouco acima dos 4,5% de uma pilsen normal e possui paladar acentuado de lúpulo.
Baden Baden Chrismas Beer – foi feita pensando numa ceia mais leve e é uma cerveja de trigo tipo Ale, refrescante, um pouco frisante, clara, de corpo leve, de aroma frutado e com um sabor levemente seco. Mesmo um peru assado fica, por contraste, muito bem acompanhado.

Bamberg Weihnachts – Alexandre Bazzo, um dos donos da Bamberg, pensou em fazer uma sazonal totalmente diferente das que têm no mercado. Sua receita não é baseada em nenhuma outra existente. Diz Alexandre que só quis fazer uma cerveja que combinasse com nosso clima e a ocasião. Originalmente ela não é de nenhum tipo, mas é avermelhada, cristalina, levemente frutada, com 30 de IBU, 6% de teor alcoólico e destaca o malte, seguindo uma tradição alemã. Ela é comercializada em garrafas de 600 ml e é deliciosamente refrescante graças ao lúpulo alemão da região de Hallertauer.

2cabeças + Mistura Classica + Have a Nice Beer = Have a Nice Saison – Esta inovação será degustada exclusivamente pelos associados do clube Have a Nice Beer: a Have a Nice Saison, desenvolvida numa parceria entre as cervejarias  2cabeças e a Mistura Clássica. Clara e refrescante, ela traz aromas cítricos e florais, com final seco. Ideal para uma noite de Natal em pleno verão, garantindo um bom acompanhamento para aves.

Gringas

Nas prateleiras das lojas especializadas pode-se achar também cervejas sazonais de natal gringas como Delirium Christmas, BrewDog Hoppy ChristmasGouden Carolus Christmas e outros rótulos. Todas na tradição do Hemisfério Norte, bem encorpadas e alcoólicas.

Rolhas para que te quero

Mas há também cervejas de produção contínua, não-sazonais, que casam muito bem com ceias e almoços de Natal de todos os tipos. Feitas através do método champenoise (onde se refermenta a cerveja na garrafa tapada com uma rolha), temos à venda no Brasil, entre outras, as gringas DeuS Brut des Flandres, La Trappe e Malheur Brut.  As brasileiras Wals Brut e Eisenbahn Lust também farão bonito na mesa com um peru, um tender e etc. Por serem cervejas de fabricação lenta e sofisticada, seus preços são bem altos.

É isso. Pre-para e põe pra gelar moderadamente.