Mensagem na Garrafa vol. 1

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gonzo capa

Quem aprecia cervejas artesanais já reparou no capricho dos rótulos. Nós, Lupulinas, vamos além e somos apaixonadas também por alguns contra-rótulos e textos que acompanham as estampas, explicando a origem e a inspiração das cervejas que vamos beber. Alguns são engraçados, outros são curiosos e informativos e há também os que beiram o pedantismo. Tudo motivo para um sorriso, um assunto, uma distração à mesa.

Este post é apenas o primeiro de uma série falando sobre contra-rótulos que achamos interessantes. Para os próximos, aceitamos colaborações. É só mandar a foto e dizeres da cerveja para o email lupulinas@lupulinas.com.br

St. Rogue Red Ale – Dry Hopped (Rogue Brewery, Oregon, Estados Unidos)
“Fukutsuru (1992-2002) R.I.P.
Por trás de uma grande cerveja existe um mestre cervejeiro e por trás de um grande bife há um touro. Fukutsuru (Fuku para os íntimos) é este touro. Primeiro do ranking norte-americano no quesito marmoreio*, Fuku é um touro wagyu japonês que deixou uma imensa prole responsável pelo fornecimento da melhor carne Kobe dos EUA e que vai bem com a St Rogue Red.
Mais de 50.000 amostras do sêmen de Fuku estão congeladas para futuras inseminações. Em seus últimos dias de vida, deram a Fuku a chance de “socializar” com algumas vacas mais novas. Em vez disso, ele preferiu tirar uma soneca.
Nós dedicamos esta cerveja a Fuku – um desajustado (rogue) até o final.”

Wasatch Evolution Amber Ale (Utah Brewers Cooperative, Estados Unidos)
“Esta cerveja é parte do nosso protesto contra a tentativa da Assembléia Legislativa de Utah de obrigar o ensino do criacionismo nas escolas públicas. Acreditamos que Igreja e Estado devem permanecer separados, até mesmo em Utah. Esta amber ale apresenta um agradável início maltado, bem equilibrado com uma dose saudável de lúpulos Tettnanger. Foi engarrafada pela primeira vez em 2002 como cerveja não-oficial dos Jogos Olímpicos de Inverno.”

Paqui Brown (Cerveceria Tyris, Valencia, Espanha)
“Paquita Brown vive al limite. Sólo bebe cerveza sin filtrar, directa del fermentador. Paqui pasa lúpulo de contrabando, sólo las mejores cosechas. Esta botella contiene su receta favorita. Una brown ale, dulce, cremosa e intensa, monovarietal de Simcoe, sin tontérias. Paqui desfruta de cada cerveza como si fuera la última.”

X Black IPA / Hi5 (Cervejaria 2cabeças, RJ, Brasil)
“Sabe aquele dia que você quer receber uma porrada no paladar? Lembra daquelas cervejas sem graça que você conhece? Agora esqueça! Esta é uma cerveja escura e intensa, com doses cavalares de lúpulo americano e um toque de malte torrado que criam uma cerveja refrescante e única. NÃO É PARA OS FRACOS.”

Green Cow IPA (Seasons Craft Brewery, RS, Brasil)
“- de doce já basta a vida -
Arte e revolução em estado líquido. Uma American India Pale Ale feita com quantidades absurdas de lúpulo, produzida para quem gosta de amargor com frescor e sem frescura. Abrir em momentos onde tudo que você quer é fazer cara de “meu deus do céu, o que é isso!?”

Gonzo Imperial Porter (Flying Dog Brewery, Maryland, Estados Unidos)
“Certa vez Hunter S. Thompson disse “Quando a parada fica estranha, o estranho vira profissa”. Taí nossa versão profissa da Gonzo Imperial Porter. Envelhecida e maturada por três meses em barris de madeira de uísque, esta ale tem um sabor bem equilibrado e um exagero de personalidade. (…) Gente boa bebe cerveja boa.”

Tokyo (Brewdog Brewery, Escócia)
“Esta cerveja é inspirada no arcade Space Invaders, de 1980, sucesso na capital japonesa. A ironia do existencialismo, a paródia do ser e as contradições inerentes ao pós-modernismo sugeridas por esse game de ação foram cuidadosamente recriadas no conteúdo desta garrafa.

Biritis (Brassaria Ampolis, RJ, Brasil)
“Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, seria um dos maiores brasileiros vivos se não nos tivesse deixado para se tornar um dos maiores brasileiros da História. Toda essa importância nunca foi ‘devidamente’ reconhecida. Até agora. A Biritis é mais que uma cerveja, é uma homenagem e um presente da família do Mussum – que tem cerveja na veia – para os apreciadores de uma boa risada e uma bela cerveja.”

Maria Degolada (Cervejaria Anner, RS, Brasil)
“Esta cerveja faz uma homenagem ao local onde a cervejaria Anner teve origem: a vila Maria da Conceição, em Porto Alegre, sul do Brasil, conhecida pela lenda da Maria Degolada. Maria Francelina Trenes foi degolada por ciúmes em 12 de dezembro de 1899 pelo seu namorado, um policial militar. No local de sua morte foi colocada uma lápide, onde ao redor cresceu a vila da Maria Degolada, protetora dos que tem problemas com a polícia e considerada uma santa pela população local.
- Agradeço pelas graças alcançadas – ”

2cabeças: a cervejaria louca por lúpulo

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Trocamos a marca por mais lúpulo.

Com esta frase a 2cabeças começou um lance original no mundo cervejeiro artesanal do Brasil. Devemos confessar: a palavra lúpulo nos é muito cara ;) e fomos ver o que está acontecendo naquelas cabeças.

A cervejaria já havia antecipado a surpresa no seu site , mas foi no Mondial de La Bière, no Rio de Janeiro, que o estande e as novas idéias chamaram a atenção da galera. Vale lembrar que originalidade é marca da 2cabeças: sua primeira cerveja produzida foi uma black IPA e não a costumeira blonde que todo micro cervejeiro faz para agradar ao mercado.

Outro aspecto inusitado é que a 2cabeças não tem fábrica própria e sempre faz sua produção – depois de inventada nos “laboratórios” da empresa – em parceria com outra cervejaria amiga. Com a Brewpub Penedon lançou no Mondial a sazonal X-Imperial Lager. Antes já havia feito a Saison à Trois com a cervejaria Invicta. No Mondial foi apresentada também a X-SessionIPA – que entra em produção contínua - com 4,7% de álcool, como as cervejas industrializadas, mas com 45 IBU (unidade de amargor) trazendo a potência de uma American IPA, deixando-a ainda mais refrescante e aromática, ideal para o clima em nosso país.

Fizemos uma entrevista com a 2cabeças para saber mais de sua história e seus planos. Um prazer termos no mercado gente que ousa, faz de seu sério trabalho uma provocação e se diverte com isso \o/

 

Lupulinas – A 2cabeças marcou sua história pela ousadia e quebra de paradigmas que cercam o mundo cervejeiro artesanal. Conte um pouquinho sobre o inicio da empresa e a função de cada um da diretoria da 2cabeças.

2cabeças – A 2cabeças surgiu com dois cervejeiros caseiros, Bernardo Couto e Salo Maldonado, e no início de 2012 lançamos o primeiro lote de Hi5 no mercado. O sucesso foi grande, e aí começamos a nos estruturar melhor. Depois de algum tempo, conseguimos estabilizar a produção, lançar a Hi5 e a Maracujipa em garrafas. Mas nunca queremos perder a alma do cervejeiro caseiro, que é de inovar e ter compromisso apenas com qualidade. No início de 2013 tivemos a entrada da cervejeira Maíra Kimura, o que nos ajudou a crescer mais e deixou nosso time mais forte. Então, hoje dividimos muito as funções e tentamos agir o mais coletivamente que podemos, mas podemos dizer, em linhas gerais, que o Salo cuida da área comercial, financeira e novos projetos; Maíra da operação, logística e gestão e Bernardo da produção de cervejas e comunicação da 2cabeças.

Lupulinas – Afinal são três ou duas cabeças?

2cabeças – Duas cabeças pensam melhor que uma! Acreditamos no coletivo, na combinação de elementos, no equilíbrio. O nome veio disso, nunca foi por sermos duas pessoas a fundar a cervejaria. Mesmo no começo, houve a possibilidade de entrar um terceiro elemento, e não foi cogitado mudar o nome. Há uma associação às pessoas, que é natural, mas esperamos que ela perca força pois, como falei, o coletivo sempre vence. Uma empresa não é apenas o espelho dos fundadores, dos sócios ou de quem for. É o resultado de um trabalho de várias pessoas, que vão passando pela empresa.

Lupulinas – Vocês foram muito ousados em destruir a marca 2cabeças, que já começava a se firmar no mercado cervejeiro alternativo, para adotar o X (sem marca). Por que essa decisão?

2cabeças – A gente não matou o nome 2cabeças, apenas a logomarca e os rótulos. Achamos que era o momento de mudar, de buscar outros caminhos em termos visuais, e ainda há novidades que vem por aí. Aguardem cenas do próximo capítulo.

Lupulinas – Vocês vão dar novos nomes às suas já consagradas garrafinhas. O quê vai virar o quê, quais as novidades e qual tipo de cerveja não vai mais ser feita por vocês.

2cabeças – Dentro desse conceito de não marca, deixamos as cervejas com nomes genéricos, como X Black IPA. É, também, uma homenagem aos cervejeiros caseiros que não batizam suas cervejas, muitas vezes, assim como não rotulam. Mas, naturalmente, não vamos abandonar os nomes das cervejas definitivamente. Hi5 e Maracujipa tem uma história muito importante e verdadeira para a gente. Fora elas, lançamos nossa X Session IPA, que está inserida neste momento sem marca e depois entra em nova fase. Ela é uma versão de IPA mais leve, com foco em drinkability, mas sem perder o caráter de lupulagem extrema que uma IPA pede. Ela será mantida na nossa linha fixa. Já era uma receita que planejávamos lançar há meses e finalmente conseguimos!

Lupulinas – “Trocamos a marca por mais lúpulo” é o slogan da mudança da empresa. Vocês acham que esta paixão pelo lúpulo veio pra ficar no mercado cervejeiro artesanal?

2cabeças – Acho que o lúpulo representa a quebra de paradigma das cervejas de massa. A atitude, a vontade de ser diferente. Dentro deste segmento, ele é muito importante, e está cada vez mais em alta. Ele é o tempero da cerveja, e muita gente não gosta de comidas insossas como as congeladas de produção de larga escala. Muito melhor a lasanha da vovó, cheia de recheio e temperos, do que algo genérico para microondas, massificado e feito com foco em critérios como baixar custo, ser o mais neutro possível e ter um índice de rejeição mais baixo possível. Buscamos o melhor, e o melhor para mim pode desagradar a muitas pessoas. E isso é ótimo, viva a pluralidade! Não acreditamos apenas no lúpulo, mas na diversidade e na ousadia. A acidez é algo que virá, assim como a utilização de insumos locais em maior quantidade.

Lupulinas – Qual o principal entrave para baratear as cervejas artesanais brasileiras?

2cabeças – O imposto é cruel e não faz distinção do tamanho das empresas. Então, produtos mais caros de se produzir geram impostos mais altos e assim chegam ainda mais caros para o consumidor final. Para vender uma long neck de cerveja artesanal, uma cervejaria acaba pagando, muitas vezes, só de imposto mais que o preço de uma cerveja de massa custa no mercado. E aí, temos outros impostos embutidos no custo, como questões trabalhistas (há muitos mais funcionários por litro produzido em relação às grandes), custo de importação de insumos, fundamental já que não há lúpulos nem maltes especiais de origem. Temos a famigerada ST, que gera uma bitributação quando o produto sai do estado produtor. O custo de frete é alto no país. É uma bola de neve.

Lupulinas – Qual a principal dificuldade para distribuir suas cervejas?

2cabeças – Ter uma produção regular, já que não temos cervejaria própria, e acompanhar mais de perto a distribuição fora do Rio de Janeiro. Somos pequenos ainda, então acabamos não tendo braços para estarmos mais próximos. Mas temos distribuição hoje em cinco estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Já houve interessados em distribuir para outros estados, mas por enquanto estamos focando nestes para manter um controle melhor. Elas acabam chegando a alguns outros estados através de clientes que compram direto da gente, mas é algo pequeno ainda.

Lupulinas – Quem faz a distribuição da X para todo o Brasil?

2cabeças – Da 2cabeças, né? :) Não temos distribuição nacional, como falei acima. No Rio, temos a nossa distribuidora. Nos estados citados, temos representantes regionais que fazem este trabalho em parceria com a 2cabeças. Nos estados onde não temos distribuição, nossa atuação se resume a compra direta da nossa distribuidora no Rio de Janeiro. Desta forma, hoje há cervejas da 2cabeças no Mato Grosso e no Piauí.

Lupulinas – Finalmente, agora, aquele “furo de reportagem” para as Lupulinas… ;)

2cabeças – Estamos preparando mudanças e tudo isto foi planejado. Trocamos a marca por mais lúpulo por que nós quisemos. Não fomos processados, como muitos falaram. Não brigamos entre nós. O Eike não comprou a 2cabeças. Não vamos mudar as receitas das nossas cervejas que estão no mercado… ufa!

O Mondial de la Bière é sucesso no Rio de Janeiro

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A mudança de última hora do local do Mondial de la Bière Rio não atrapalhou o evento. A super-lona climatizada armada no Terreirão do Samba, vizinho ao Sambódromo, funcionou bem e deu um ar mais carioca ao festival. Amantes de cerveja, produtores, importadores, comerciantes de insumos, todos estavam ali reunidos para experimentar ótimas cervejas artesanais.

À porta, junto com seu ingresso, você recebe um copo de 200 ml para degustação. Logo na entrada, e também  na outra extremidade do salão, guichês com 4 cabines cada vendem tickets (mini dinheirinhos de 1 e 2 reais) para pagar as doses de cervejas, que variam entre 5 e 8 reais. Nos guichês aceita-se dinheiro ou cartão, mas se você quiser mais agilidade, leve dinheiro porque as filas para pagamento em cash são menores. Todas as doses de degustação são pagas com esses tickets. Outros itens como camisetas, kits de cervejas, copos e garrafas avulsas para viagem são pagos diretamente nos estandes dos fabricantes.

Chegamos cedo para poder observar e caminhar com tranquilidade sob a enorme tenda. Em duas horas, o evento já estava cheio, com filas nos guichês. Por isso a dica é comprar logo no início todos os tickets que você achar necessário e ir bem alimentado. Apesar de ótimos estandes de comidas como o do Aconchego Carioca, Bar do Adão e Adega do Pimenta, eles ficam lotados e com enormes filas depois que o pessoal já bebeu umas e quer comer.

Já os estandes de cerveja funcionam com agilidade, sem grandes filas. O pessoal das cervejarias é atencioso e bem humorado, explicando pra galera seus diferentes tipos de cerveja, lançamentos, processos de feitura e etc. Conversas sobre a alta tributação que incide nas cervejas artesanais foi assunto de cervejeiros em vários estandes. Ainda vamos baratear essas delícias.

Eram mais de 300 rótulos de cervejas e por isso nós, Lupulinas, escolhemos provar os lançamentos brasileiros no Mondial. Alguns destaques:

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X-Session IPA – uma IPA da Ex-2Cabeças, na nossa opinião a melhor da cervejaria. Num original plano de marketing a 2cabeças jogou seu nome e seus rótulos fora durante este Mondial e promete tudo novo ainda este ano. Novos rótulos serão lançados e suas cervejas consagradas voltarão com nomes diferentes ao mercado. Os sócios Bernardo Couto e Maira Kimura dizem, com mistério e humor, que estão praticando a arte do desapego. Boas novas virão, temos certeza.

Noi Amara – uma Imperial IPA da niteroiense Noi, bem fácil de beber, com lúpulos cítricos americanos que garantem uma refrescância surpreendente. Seu 10.5% de teor alcóolico é totalmente disfarçado pelo equilibrio de sua receita. A Noi promete para ainda este ano mais dois tipos de cerveja na garrafa que vão se juntar aos sete tipos já presentes em seu portifólio.

Verum Session Rye Pale Ale – da Bodebrown, uma American Pale Ale de centeio surpreendente. Macia, lupulada na medida e com espuma cremosa é uma alternativa menos alcóolica que suas irmãzinhas.

1000 IBU – a Imperial IPA da Invicta superlupulada. Deliciosa, o hiper amargor é bem complexo: não é apenas amargor por amargor. Pode-se dizer que o mestre cervejeiro Rodrigo Silveira venceu um desafio, mas mesmo assim é uma cerveja para iniciados.

Colorado Titãs – no estande da Colorado, o destaque para a Vixnu, a Berthô e o lançamento da Titãs, uma English Brown Ale com cascas de laranja para realçar seu sabor cítrico.

Jeffrey – nos chamou atenção pela arte do rótulo. Uma witbier com raspas de limão siciliano adicionados na etapa da fervura. Refrescante e bem aromática (não confundir com cervejas misturadas com limão; as raspas usadas nessa cerveja deixam o sabor da fruta bem sutil).

Coruja Sempre Viva – neste caso a novidade ficA por conta de um filtro de lúpulo por onde passa a conhecida Sempre Viva. Do tipo American Lager ela é engarrafada sem filtragem e sem conservantes. É claro que o filtro, lembrando uma cuia com chimarrão, só poderia ser idéia de cervejeiro gaudério ;) *(atualização)

Com saldo positivo, pena que, sem wi-fi na super tenda e com um 3G comprometido pelas teles brasileiras, não conseguimos agitar as redes sociais, trocando informações lá dentro sobre o evento. Um ponto a ser melhorado na próxima vez.

O Mondial de la Bièrre vai até domingo (dia 17) e, segundo a curadora Cilene Saorin, veio para ficar. Ótimo: mais um evento para fortalecer a cultura cervejeira artesanal do nosso país.

 

* o Daniel Perez, q a gente encontrou lá no Mondial, nos corrige: “O nome da cerveja é Coruja Extra-Viva. Ela é uma Premium Lager, e o lúpulo usado no filtro foi o Cascade”. tks Daniel ;)

Rio de Janeiro é a capital da cerveja neste finde: Mondial de la Bière

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Cervejeiros do mundo todo têm encontro marcado no Mondial de la Bière, entre os dias 14 e 17 de novembro, no Rio de Janeiro. Evento tradicional na França e no Canadá, pela primeira vez o Mondial vem visitar os trópicos com mais de 40 expositores e 400 rótulos de cerveja. Em uma super tenda climatizada na Praça Onze, muitas cervejarias artesanais brasileiras estarão mostrando sua qualidade e fazendo companhia às importadas. Neste ano, na França, das dez brejas premiadas três foram brasileiras: Bodebrown Perigosa Imperial IPA (Curitiba-PR), Colorado Ithaca (Ribeirão Preto-SP) e Wäls Petroleum (Belo Horizonte-MG).

O Mondial, além desta variedade enorme de rótulos, oferece palestras, cursos, vivências em petit pub, lojinha para compras das preferidas e um sensacional desafio a um júri que escolherá a melhor cerveja do festival, independente de estilo e numa degustação feita às cegas.

Entre os participantes teremos cervejarias brasileiras como a Colorado, Júpiter, 2cabeças, Bodebrown, Coruja, Insana, Wäls, St. Gallien e Noi e bares e restaurantes como o Aconchego Carioca, Adega do Pimenta e Bar do Adão. Nas palestras e cursos, nomes conhecidos do mundo das brejas como as mestres cervejeiras Cilene Saorin e Kátia Jorge, a somellier Paty Albehy, o dono da italiana Birrificio Baladin Farm Brewery Teo Musso e Katia Barbosa, sócia do Aconchego Carioca.

O Mondial é aberto ao público e os ingressos estão à venda no www.mondialdelabiererio.com onde você encontrará todas as informações para se divertir e aprender muita coisa sobre o mundo cervejeiro.

Pre-para que a festa promete ser boa!

Nós, Lupulinas, estaremos no calor do Rio e mandaremos informações refrescantes sobre o Mondial.

 

Mondial de La Bière
14 a 17 de novembro de 2013
Quinta, 14/11: 16h às 23h
Sexta, 15/11 e sábado, 16/11: 11h às 23h
Domingo, 17/11: 11h às 20h
Praça Onze – Rua Benedicto Hipólito, s/n

Westvleteren: Melhor Cerveja Do Mundo Que Só Se Bebe Ali Perto Onde Os Monges A Produzem

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destaque westvleteren

fotos de Cilmara Bedaque

 Nós, Lupulinas, adoramos fazer turismo cervejeiro. Visitar pequenas cervejarias pelo país e pelo mundo é garantia de nos depararmos com regiões, cidades e situações que não constam nos roteiros e guias regulares. Para isso, o automóvel tem sido um grande aliado, já que as fábricas, mosteiros e micro-cervejarias se localizam em pequenas cidades do interior deixando a hospedagem mais barata e a viagem mais divertida :)

Um dia, decidimos que era o momento de conhecer a tão falada Melhor Cerveja Do Mundo Que Só Se Bebe Ali Perto Onde Os Monges Produzem. Fomos então para Westvleteren, oeste da Bélgica, quase na fronteira com a França, na Abadia de Saint Sixtus, em frente ao In de Vrede, bar-restaurante onde se bebe a tal Melhor Do Mundo.

É bom que se saiba que os monges produtores de cerveja trapista são da Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância (amamos este nome) e que, mesmo existindo 170 mosteiros desta ordem no mundo, apenas sete têm licença para produzir a renomada iguaria líquida. Seis deles ficam na Bélgica (Rochefort, Westmalle, Westvleteren, Orval, Achel e Chimay) e um na Holanda (La Trappe).

Poperinge, a capital do lúpulo belga

Vínhamos fazendo pequenas escalas pelos Países Baixos, desde Amsterdam, e resolvemos nos hospedar em Poperinge, pequena cidade de 12 mil habitantes a 11 km da abadia. Pouso calculadamente estratégico, bem perto da Melhor do Mundo. Por recomendação do amigo Edu Passarelli, ficamos no Café de La Paix que, além de pequeno hotel, é também um restaurante com ótimas cervejas locais. Se você preferir fazer um bate-e-volta, vindo de cidades mais conhecidas e turísticas, há boas opções: Westvleteren fica a 70 km de Bruges (um encanto de cidade e com três ótimos bares/cervejarias, sobre os quais falaremos em outro post), a 135 km de Bruxelas e 280 km de Paris.

Vale pernoitar em Poperinge, cercada pelas plantações dos melhores lúpulos da Bélgica e uma cidade muito agradável, cheia de história. Logo na praça principal nos surpreendeu a estátua de um ser, digamos, peculiar: uma espécie de Don Quixote gnomo, montado de costas num burro e carregando uma rocha no colo. Descobrimos depois que a figura era um tal de Squire Ghybe, ser asqueroso que representa as três cidades vizinhas rivais (Gent, Bruges e Yeper), potências da indústria tecelã que governavam a província de Flandres (o burro) de maneira equivocada (de costas) carregando a cidade de Poperinge (a rocha).

In de Vrede e Saint Sixtus

Como não existem ônibus, carroças ou trens para Saint Sixtus, foi indispensável o uso do carro e um GPS porque os monges trapistas desta abadia não gostam de placas indicativas e outras facilidades que observamos em outros monastérios que visitamos. Chegar a Westvleteren é uma espécie de Corrida Maluca praticada com prazer pelos amantes da cerveja em todo o mundo (mesmo os 11 km desde Poperinge foram cheios de voltinhas).

Depois de nos perdermos e nos acharmos, encontramos a abadia, que passava por algumas reformas e muitas dificuldades financeiras. Das sete abadias com certificados para a fabricação de cervejas trapistas no mundo, o mosteiro de Westvleteren é o único que não exporta nem comercializa suas bebidas fora da região. Eliminando custos, as garrafas não têm rótulo. Isso lhe confere certa mística, mas também limita a entrada de grana. Apesar disso, eles não pretendem aumentar a produção que é trabalho de apenas dez dos trinta beneditinos que vivem no monastério.

É para o sustento dos monges e para a manutenção da produção que, em frente à abadia, funciona um grande bar que serve exclusivamente os três tipos de cervejas Westvleteren e vende copos, queijos e outros itens. Atenção, porque não é restaurante. Para acompanhar as cervejas, você pode escolher o maravilhoso queijo trapista feito com a própria cerveja, alguns embutidos, conservas e só.

Se você quiser levar bebida para o hotel ou para o Brasil, prepare-se: é dificílimo sair dali com garrafas. Quem sai com um pacote de seis, por exemplo, tem que ter agendado a compra e deve trazer de volta os cascos no dia seguinte, sob pena de ser banido para sempre (Tá, esse papo de ser banido é um exagero, mas é verdade que é quase impossível sair com garrafas de Westvleteren). Enfim, beba o que você quiser beber ali mesmo. Serão momentos inesquecíveis. Só para sofrermos, informamos que cada Wesvleteren custa um euro e sessenta centavos, menos que uma Skol na balada /o\

Qual o segredo da Melhor Cerveja do Mundo? Apostamos que há algo naquela levedura, guardada a sete chaves pelos monges desde 1838. Por sorte, ela também pode ser apreciada nas cervejas St Bernardus, da vizinha cidade de Watou que, até 1992, fabricava as Westvleteren (que depois voltaram a ser produzidas na abadia de Saint Sixtus, exigência para ostentar o selo “trapista”). Assim se você quiser saber, de longe, qual o sabor da Melhor do Mundo, beba uma St Bernardus, facilmente encontrada aqui no Brasil nas melhores casas do ramo.

Trapistas e Abadessas

Fugindo de nosso estilo resolvemos descrever as sensações que tivemos em Westvleteren experimentando a sacrossanta cerveja e suas aparentadas.

WESTVLETEREN BLONDE – garrafa de 33 cl 5,8%alc – Altamente lupulada, álcool esparramado e redondo, espuma persistente e generosa agarrando-se ao copo. Cítrica, levemente picante, mas de maneira harmoniosa com outros ingredientes, esta blonde deixa um sabor levemente amargo e delicioso em sua boca.

WESTVLETEREN BRUIN 8 – garrafa de 33cl 8% alc – dark ale – Cor marrom, chocolate bem escuro, como é característica das darks, com espuma consistente e generosa. No olfato, caramelo e marzipã, levemente perfumado. Muito lúpulo ou a qualidade do lúpulo usado nos lembra o tempo todo que estamos bebendo um líquido feito à base desta planta. Na boca, um chocolate e álcool muito bem balanceados como se um licor sem açúcar estivesse em nossa boca. Mais que chocolate sentimos a presença do cacau.

WESTVLETEREN BRUIN 12 – garrafa de 33 cl 10,2% alc – ainda uma dark ale de cor marrom parecidíssima com a 8. O aroma frutado lembrando frutas pretas nos remete às amêndoas que estão presentes também em seu sabor. Alta complexidade em seu paladar revelando um lúpulo de excelente qualidade e uma receita de raro equilíbrio. Talvez a melhor cerveja que tenhamos bebido em nossas vidas até agora. Maltada sem ser enjoativa graças às arestas proporcionadas pelas especiarias e pelo lúpulo. Aquece.

ST BERNARDUS PATER 6 – garrafa 33 cl 6,7% alc – abadessa – uma cerveja de alta fermentação, refermentada na garrafa, da região de Watou. Boa espuma, leve, de coloração marrom turva. Na boca, é redonda, sem arestas e com boa acidez. Não é doce, nem caramelizada e seu amargor é leve.

WATOU’S BIERRE BLANCHE – garrafa 33 cl 5% alc – cerveja típica da região. Alta refrescância, aroma e gosto de limão dominantes. Uma verdadeira limonada com lúpulo.

ST BERNARDUS Abt 12 – garrafa 33cl 10% alc – abadessa refermentada na garrafa com espuma densa e cremosa, aroma lupulado e cacau. Cor marrom escura e opaca. No paladar, amêndoas, secura e álcool bem amarrado ao lúpulo.

ST BERNARDUS TRIPEL 8 – garrafa 33 cl 8% alc  - servida com levedo num copinho à parte, no In De Wildeman, bar de Amsterdã, que merece um post no futuro. Os toques de marzipã e amêndoas, presentes na levedura do copinho, são bem mais sutis no copão. A dica é beber um pouco da levedura do copinho intercalando com goles da cerveja e ir adicionando aos poucos a levedura ao copão.

 

Na saída de Poperinge atravessamos campos e campos preparados para a nova safra de lúpulos recém semeados. As estruturas de madeira que servem de apoio ao lúpulo, uma planta trepadeira, erguiam-se lado a lado da estrada. Uma boa imagem para despedida que só nos deu a brilhante idéia de voltar na época da colheita.

 



In de Vrede

Donkerstraat 13

8640 Westvleteren

Telefone In de Vrede: 057/40.03.77

 

Abbey Saint Sixtus of Westvleteren

Telefone Westvleteren: +32 (0)70/21.00.45

 


 

#OPORTUNIDADE de 8 a 17 de novembro acontece a Semana da Cerveja Belga em São Paulo e Campinas,  promovida pelo Consulado da Bélgica. Muitos rótulos com descontos.

Mais informações https://www.facebook.com/events/1380225542202210/?ref=22

 

 

Bier Diversidade

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caminhao

Afinal, como podemos chamar essas cervejas diferentonas aí que vocês gostam? São especiais, premium, gourmet? Essas perguntas sempre acompanham quem gosta de cervejas artesanais. Mas, por mais difícil que seja definir, sabemos o que elas não são: não são gourmet, nem especiais e muito menos premium.

Cervejas artesanais são geralmente produzidas por micro cervejarias, fora do esquema da Grande Indústria. Elas, em sua grande maioria, não usam malte de milho ou arroz nas suas receitas, ao contrário das cervejas “normais” da Grande Indústria. As cervejarias artesanais apostam na variedade de estilos, de receitas milenares a novas misturas, sempre fugindo da padronização da Grande Indústria que só consegue dividir suas garrafas entre louras, ruivas e morenas.

Micro cervejeiros no mundo inteiro tentam encontrar uma definição exata para poderem se organizar e enfrentar no mercado a Grande Indústria. O consenso sobre o que é afinal uma cervejaria artesanal (craft brewery) ainda não foi alcançado. Isso porque as bebidas, os processos de feitura e o tamanho dos negócios variam muito e nem sempre uma regra pode ser estendida a todas às artesanais (algumas belgas excelentes como a Gouden Carolous Classic, por exemplo, levam milho na sua composição).

Nós, Lupulinas, como roqueiras que somos, amamos as artesanais pelo seu espírito de cerveja de garagem, cerveja de raiz, cerveja moleque, independente e underground. Sim, existem artesanais que são produzidas no método champenoise usando rolhas e, por serem muito caras, acabam cultuadas como símbolos de status. Mas existem aquelas como as da Caracole, que conhecemos no interior da Bélgica, baratas (para o padrão europeu) e consumidas por camponeses locais. São fabricadas ali mesmo, numa micro cervejaria de beira de estrada e com rótulos criativos e lisérgicos.

Cerveja Artesanal também é Rock

A garagem e o underground estão completamente entrelaçados na mais recente cultura cervejeira artesanal. Já é praxe lançarem rótulos homenageando bandas como AC/DC, Iron Maiden, Pearl Jam, Sepultura,Raimundos, Ozzy, Wander Wildner, entre muitas nacionais e gringas. Não é raro encontrar um roqueiro entre os apreciadores ou fabricantes de cervejas artesanais, como o baterista da banda Nenhum de nós, Sady Homrich, que assina uma coluna e organiza eventos sobre a cultura cervejeira.

Cerveja Artesanal também é Arte, Literatura e Nerdice, tudo junto.

Não bastasse a Flying Dog ter sido fundada por um astrofísico aventureiro, George Stranaham, a cervejaria homenageou o escritor Hunter Thompson na sua Gonzo, uma Imperial Porter bem preta e forte. Para quem não sabe, Thompson inaugurou um tipo de jornalismo, apelidado de Gonzo, em que a imparcialidade e a objetividade são completamente abandonadas e o autor se mistura à história contada. Ídolo de toda uma geração de jornalistas e escritores, Hunter Thompson conheceu o dono da cervejaria Flying Dog quando se mudou para uma fazenda vizinha à de George, no Colorado. Segundo o site da cervejaria, eles “tornaram-se grandes amigos e conversavam  sobre explosivos, armas avançadas, política, futebol, uísque e cerveja”. Completando a parceria pop-rock-literária, a Flying Dog investe na arte dos rótulos – outra característica das artesanais – e todos eles são assinados, desde 1997, pelo artista gráfico Ralph Steadman.

Cerveja Artesanal também é Cultura Local

Outra boa idéia das artesanais é incorporar alimentos e iguarias locais e/ou sazonais às suas receitas. Aqui no Brasil, isso tem resultado em muitas e agradáveis surpresas. As cervejas paraenses Taperebá Witbier e IPA Cumaru, da Amazon, contém cajá e baru, respectivamente. A Cauim, da Colorado, leva mandioca e a MaracujIPA, da carioca 2Cabeças, usa maracujá na fase do dry-hopping.

Nosso destaque neste quesito vai para a Cacau IPA, feita pela curitibana Bodebrown, do pernambucano Samuca Cavalcanti, um apaixonado pela cultura artesanal cervejeira. Para começar, o logo da cervejaria é um bode, animal que as Lupulinas curtem bastante. Mas não é só isso: a micro cervejaria tem feito algumas de nossas artesanais brasileiras preferidas, entre elas a Perigosa, a Hop Weiss e a Cacau IPA, eleita a melhor India Pale Ale do Brasil durante o IPA Day Brasil de Riberão Preto em 2013 (estivemos lá e provamos da bica). Feita em parceria com a americana Stone Brewing (sim, parcerias entre artesanais também são comuns), a Cacau é escura e densa. A ela é adicionado cacau de Ilhéus em “nibs” (flocos da amêndoa do cacau seca e torrada), mas não tema: os lúpulos cítricos não deixam a cerveja ficar doce ou enjoativa. Pelo contrário, a Cacau IPA é amarga na medida, aveludada e perfeitamente equilibrada.

Estas são algumas das características da cerveja artesanal. A diversidade é a chave contra a padronização. Querer comparar uma pilsen industrializada com uma artesanal é como dizer que uma porção de chicken nuggets equivale a uma galinhada caipira. Preferimos galinhada.

Cerveja de Trigo: suave e macia como os campos de lá

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A cerveja de trigo é a porta de entrada para novos consumidores de cerveja artesanal. Provavelmente porque, sem muito lúpulo, ela não se caracteriza pelo amargor pronunciado, facilitando o paladar do querido novato (beijo, Pedro Alex :)) Nascida e consumida principalmente na região sul da Alemanha, a famosa Baviera, ela foi apelidada de Weissbier (cerveja branca) por ser mais clara que as Ales consumidas na Idade Média, mas também atende pelo nome de Weizenbier (cerveja de trigo). Dá tudo na mesma. Ela veio pra ficar, ganhou o velho mundo, atravessou oceanos e chegou às Américas.

Para nosso clima ela é excelente. Primeiro, porque é uma cerveja refrescante e seus componentes cítricos, com toques de banana e laranja, combinam com o clima tropical. Mas não é só isso: elas casam muito bem com peixes ou frutos do mar, com pratos apimentados ou petiscos picantes, sendo uma companhia perfeita para a vida praiana. Considerando que temos oito mil quilômetros de litoral, sua carreira promissora está apenas começando no Brasil.

Além da cevada, usual em outros tipos de cerveja, a Weissbier (chamada também de Hefeweizen, Weizenbier ou Hefeweissbier) contém malte de trigo, o que lhe confere um aspecto turvo porque o trigo não é tão facilmente filtrável. Mas não se importe com sua aparência opaca: é nela que reside toda a graça e complexidade das Weiss. E é no fundo da garrafa – que deve ser guardada de pé na geladeira e não balançada antes do consumo – que fica o depósito espesso de leveduras que deve ser misturado ao copo na hora de servir. Como geralmente as cervejas de trigo vêm em ampolas de 500 ml é recomendado aquele copo alongado, para o aproveitamento deste néctar depositado no fundo da garrafa. Se você não o tiver à mão ou for dividir, basta compartilhar também a levedura, fraternalmente.

As marcas alemãs mais conhecidas ao redor do mundo são Paulaner, Erdinger, Schneider Weisse, Weihenstephan e Franziskaner, sendo esta última a preferida das Lupulinas. Tivemos também o prazer de experimentar a Watou’s Wit, uma belga fabricada em Poperinge, a capital do lúpulo. Bem refrescante e com um toque de limão maravilhoso. Uma boa relação custo-benefício aqui no Brasil é a lata da Oettinger Hefeweizen, honesta e equilibrada.

Mas a delícia mesmo é que as cervejas de trigo começaram a ser fabricadas no Brasil por cervejarias artesanais que têm oferecido uma variedade incrível. Misturando ingredientes locais, como pede a tradição do artesanal, listamos abaixo algumas de nossas preferidas (lembrando que, assim como novas marcas saem e entram no mercado, estamos em constante atualização).

As Brasileirinhas

- Eisenbahn Weizenbier (Cervejaria Eisenbahn, Blumenau, SC) – bem aromática é nossa brasileira de trigo preferida. Bem mais densa e encorpada do que as similares nacionais, tem boa acidez, com acentos de banana e cravo. É naturalmente turva, além de possuir uma linda cor dourada. É bastante refrescante também. ABV 4,8

- Hop Weiss (Cervejaria Bodebrown, Curitiba, PR) – o mestre cervejeiro conseguiu adicionar mais lúpulo (inclusive fresco, através de dry hopping) a esta cerveja de trigo de maneira bastante equilibrada. Nem o frutado e nem o amargor se sobressaem, sobrando frescor. Adoramos porque apreciamos adição de lúpulos (tradicionais amantes de Weiss podem estranhar, contudo).  ABV 4,9 IBU 34,1

- Bamberg Weizen (Cervejaria Bamberg, Votorantim, SP) – bastante leve, refrescante, com banana discreta (mais no aroma que no sabor) e sutil amargor e boa acidez que a deixam menos frutada. ABV 4,8

- Appia – (Cervejaria Colorado, Ribeirão Preto, SP) – o diferencial é a utilização de mel em sua composição. ABV 5,5

- Wäls Witte (Cervejaria Wäls, Belo Horizonte, MG) – refrescante, de receita belga, traz ao paladar gosto de laranja e especiarias. ABV 5 IBU 20

- Witbier Taperebá (Cervejaria Amazon, Belém, PA) que como o nome indica leva em sua receita a fruta amazônica taperebá, também conhecida como cajá. Bem refrescante, ela segue a tradição das receitas belgas. ABV 4,7

 

P.S.: Não incluímos a Hoergaarden nesta lista porque ela tem uma fabricação diferenciada e ganhará um post só dela. #kiridinha

 

 

Dogfish Head: criatividade e sabor

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Quando alguém vai fazer turismo nos Estados Unidos, pensamos em destinos como Nova York, Miami e Califórnia. Que diabos nós, Lupulinas, fomos fazer no estado de Delaware? A resposta só poderia ser: beber cerveja. \o/

Quem assistiu a série Mestres Cervejeiros na TLC deve se lembrar das aventuras de Sam Calagione pelo mundo inteiro atrás de novas receitas e parcerias para sua cervejaria Dogfish Head (algo como Cabeça de Cação, embora o logo da cervejaria seja o cação inteiro). Pois foi para beber as Dogfish in loco, fresquinhas, que nós fomos parar em Delaware.

Em Washington DC, alugamos um carro e em pouco menos de 3 horas chegamos em Rehoboth Beach (pronuncia-se “rirrôbo”), um pequeno balneário onde fica o pub de Caligione. Antes atravessamos a Chesapeake Bay Bridge, uma ponte maravilhosa de 7 km de puro aço que separa os estados de Maryland e Delaware. Ficamos num hotelzinho barato a poucos quarteirões do bar, sabendo que iríamos freqüentá-lo em cada um dos três dias de estadia.

O ambiente do pub é acolhedor, a poucos quarteirões da praia de Rehoboth, com estacionamento para os clientes e WI-FI gratuito. Logo na entrada, uma lojinha vende cervejas engarrafadas e mercadorias promocionais: copos (inclusive o novo copo especial, desenhado para acentuar o aroma e sabor das India Pale Ale), camisetas, bolachas, flâmulas, abridores, camisetas e até coleira para seu cachorro! Os funcionários são atenciosos e gentis, sem aquela pressa característica do serviço das capitais. Entre freqüentadores, casais de todas as idades, orientações sexuais e famílias com crianças (ao menos durante o dia).

A comida é boa com pratos principais, sanduíches ou snacks. Além das ofertas ‘on tap’ (chopp) diárias, todas as cervejas da DH estão disponíveis em garrafas de 660ml ou em packs de seis de 330ml. Uma boa pedida é experimentar as sazonais, mais difíceis de encontrar no Brasil, ou então algumas receitas que a cervejaria não engarrafa, como a History of Past Years, feita a partir de pão fermentado, estilo Kvass, como as feitas na Europa Oriental do século 10. Para quem se preocupa com sustentabilidade, a cervejaria faz questão de propagandear seus esforços pró-ecológicos, usando ingredientes locais na manufatura de suas sazonais.

O som ambiente é rock’n roll e, nos fins de semana, o pub tem música ao vivo com bandas iniciantes e, às vezes, até artistas mais conhecidos e amigos de Sam que vão ali beber cerveja e dar uma canja. Morremos ao ver um cartaz que anunciava a passagem de Bill Callahan pelo pedaço. (Que tal, Lorena? *-*)

Mas, além do pub, é obrigatória uma visita à fábrica, que fica em Milton, ainda em Delaware, a 20 minutos de Rehoboth Beach, onde são produzidas diariamente 9.000 caixas de cerveja (24 garrafas em cada caixa), além das que vão direto para os barris de chope. Os tours podem ser marcados antecipadamente ou você pode arriscar chegar sem agendamento, esperar um pouco e se encaixar em algum grupo (12 pessoas por vez). Eles acontecem de hora em hora e são bastante informais, começando ali mesmo na recepção/loja, onde aprendemos o básico da feitura das cervejas e as particularidades de cada estilo.

O guia é descolado, conta a história da cerveja e da cervejaria. Lá ficamos sabendo que, fundada em 1995, o investimento colocado na DH só foi recuperado depois de 12 anos de muito trabalho e dedicação.

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Depois, adentramos a fábrica (única exigência é ir de calçados fechados e usar óculos protetores que eles fornecem ali mesmo) para ver em detalhes todas as etapas dos processos de cozimento, fermentação, adição de lúpulos e etc. Dez enormes tonéis de aço da altura de dois andares são impressionantes e comandados por três engenheiros que ficam no centro operando computadores que misturam todos ingredientes através de canículas espalhadas por todo o teto da fábrica. Isso sem falar no xodó de Sam: dois enormes tonéis de carvalho, à prova de bala ¯\_(?)_/¯ usados para dar um toque amadeirado em algumas receitas que passam por envelhecimento típico dos vinhos. Logo de cara é demonstrado o orgulho em fazer cerveja com malte de cereais que não milho, soja ou aveia, que fermentam muito rapidamente e por isso é usado pelas grandes cervejarias brasileiras. A fábrica, que começou pequena, hoje é completamente automatizada e continua a se expandir, sem perder sua vocação artesanal e sustentável. Até o bagaço descartado é reaproveitado e alimenta o gado da vizinhança e os kegs (barris de chope) são reciclados.

Vale ressaltar a escultura retrô-futurista Steampunk Tree, do artista Sean Orlando, que encontrou na entrada da fábrica da Dogfish Head morada permanente. É uma atração à parte e mostra o compromisso de Caligione com a arte, presente também nos rótulos de suas cervejas, simplesmente maravilhosos. Infelizmente, pelas leis estaduais, a fábrica só pode oferecer quatro “samplers” (copinhos de 100 ml) de suas cervejas a cada visitante. Ou seja: se você quiser continuar bebendo, terá que voltar ao pub ou comprar garrafas ali mesmo para levar para casa ou para o hotel (o que já é um bom consolo, difícil mesmo é não levar quase tudo que tem na loja).

Cervejas que experimentamos no pub e na fábrica da Dogfish Head:

- Namaste: fraquinha, sem revelar grandes surpresas além das notas cítricas. ABV 5 IBU 20
- Positive Contact: muito boa, lembra uma típica abadessa pela quantidade alcoólica e pela complexidade. ABV 9 IBU 26
- Province Windsor Ale: uma especial de primavera, amarga na medida, com álcool deliciosamente mesclado aos maltes ingleses escolhidos. ABV 8,2 IBU 44
- Aprilhop: uma IPA sazonal levemente frutada com toques de damasco, bem gostosinha. ABV 7 IBU 50
- 60 minute IPA: maravilhosa, bem fresca (na pressão, muito melhor que a engarrafada), um dos carros-chefe da casa e nossa preferida. ABV 6 IBU 60
- 90 minute IPA: uma Imperial IPA mais alcoólica, lupulada e pungente que a 60 minutes. ABV 9 IBU 90
- 75 minute IPA: simplesmente uma mistura das duas IPAs citadas acima. Coisas de Sam. -
Indian Brown Ale: uma Ale encorpada e com amargor na medida. Combinou bastante com a noite fria. ABV 7,2 IBU 50
- Raison D’Etre: próxima ao vinho na fermentação e na alma. Não gostamos muito por conta dos toques doces de uva passa, um tanto enjoativos. ABV 8 IBU 25
- Sah’tea: com forte gosto de chá, outra cerveja que não nos conquistou. ABV 9 IBU 6
- History of Past Years: Vange gostou e Cilmara, não. Azedinha, parece pão líquido. Cilmara acha boa para “limpar a serpentina”. ABV 4 IBU 2

*ABV= graduação alcoólica *IBU= amargor

Maiores informações sobre as cervejas, fábrica e tours, no site da Dogfish Head dogfish.com

PS: se você não quiser ficar só no turismo cervejeiro, Rehoboth Beach tem uma praia linda (ventosa e com mar bravo, mesmo em dias quentes) e mais de uma dezenas de Outlets com lojas famosas e preços abaixo dos cobrados nas capitais e grandes cidades dos Estados Unidos. A neblina por lá é tão característica que em um cruzamento no meio da cidade colocaram um farol. Mesmo. Desses que ficam no mar.

 

 

CERVEJARIA NACIONAL: onde você vê ser feito o que vai beber

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Fomos visitar a Cervejaria Nacional depois de ficarmos bem impressionadas com a Mula que experimentamos no IPA Day 2013 em Ribeirão Preto. Sim. Mula é o nome da IPA – Indian Pale Ale – um dos cinco estilos de cerveja fabricados pela CN, todos homenageando um personagem do folclore brasileiro.

A Cervejaria Nacional nasceu em 2006 e, desde 2011, está instalada em Pinheiros num espaço confortável, sem firulas, mas cheio de boas idéias. No primeiro andar, está instalada a fábrica com seus tanques e aromas onde são produzidos cinco mil litros de cerveja por mês. No segundo andar, onde você pode ver a fábrica através de vidros, um balcão, mesas e um palco bem esperto para bandas de rock, blues e jazz que se apresentam depois das nove da noite. No terceiro andar, a cozinha do restaurante e um enorme salão que abriga grupos maiores e também quem queira um ambiente longe do agito.

Mas o grande atrativo realmente é você ver todo o processo de fabricação do que vai beber, ali, logo atrás do vidro. Todas as cervejas (servidas como chopp) foram criadas pelo sócio e mestre-cervejeiro Luis Fabiani e são produzidas ali mesmo por Guilherme Hoffman. E você pode acompanhar o processo desde a moagem do malte até a filtragem e fervura do mosto, passando pela adição do lúpulo, fermentação e maturação da mistura.

Para os apreciadores o cheiro do mosto que invade a casa no primeiro andar é melhor que um Chanel 5 ou um campo de lavanda.

Os cinco estilos fabricados pela Cervejaria Nacional são:

- Y-îara Pilsen que, como o nome indica, é uma seguidora do estilo tcheco, com leve amargor e boa presença de lúpulo.

- Kurupira Ale, uma Brown Ale amendoada e menos seca que as inglesas de mesmo estilo.

- Domina Weiss, feita de trigo e fiel ao estilo alemão, não filtrada, com um sabor cítrico bem refrescante e ideal para nosso verão. A espuma consistente se agarra ao copo e, embora seja bem alcoólica, não sentimos no paladar.

- Sa´si Stout, encorpada, feita com malte torrado e com bom equilíbrio entre este e o amargor do lúpulo.

- Mula IPA, carro-chefe da casa e já vendida em garrafas que você pode levar pra casa \o/. Em nossa opinião, uma das melhores produzidas aqui no Brasil. Mas preste atenção que, embora não sintamos no paladar, a graduação alcoólica é de 7,5%.

Todas são preparadas sem conservantes, antioxidantes, estabilizadores e enzimas usados nas grandes cervejarias. São servidas em copos de 320 ml e 550 ml, com preços variando entre R$10,00 e R$17,00. A boa é chegar na happy hour – entre 17h e 20h – onde você bebe duas pelo preço de uma, gastando o mesmo que gasta em uma ampola (de milho, hahaha) no boteco. Ah! E se você quiser experimentar estes cinco tipos sem ficar totalmente trelelê, a CN tem um simpático sampler com copinhos de 120 ml a um custo de R$25,00.

Além destes estilos, a CN oferece também algumas sazonais feitas também em sua fábrica, um belo cardápio de importadas em garrafas, outras convidadas de outras cervejarias servidas também como chopp e, para agradar a outros grupos, caipirinhas, coquetéis e destilados.

Mas beber sem comer não dá em boa coisa e, seguindo a criatividade das bebidas, a cozinha é responsabilidade do chef Alexandre Cymes que pensou em pratos que somassem quando apreciados junto às cervejas da casa. Algumas receitas inclusive usam as cervejas em sua preparação. E dá-lhe, como aperitivo, Costelinha com molho barbecue de Kurupira Ale; Pão de bagaço de malte com manteiga de cerveja e molho picante de ervas, Croquete de Carne bem sequinho, um delicioso Caldinho de Feijão e muitas outras boas invenções. Se quiser comer mais profissionalmente, pratos como Fish and chips, com o peixe empanado na Domina Weiss acompanhado de fritas, aïoli e saladinha de rúcula; Risoto de Costelinha e muitas opções de carnes, peixes e aves. Pra não deixar ninguém em jejum, saladas e sanduíches completam o cardápio.

Com um site informativo e bonito, qualquer dúvida pode ser desfeita e mais a programação e novidades no
http://www.cervejarianacional.com.br/

PS: a Cervejaria Nacional acaba de inaugurar um serviço muito comum nas fábricas lá da gringa. A venda de um growler – garrafão de 2 litros – que você compra uma vez e depois pode ficar levando pra casa o estilo de cerveja que quiser. Caprichado, revestido de cerâmica e com uma bela tampa contra vazamentos, o garrafão sai por R$70,00 e qualquer estilo de cerveja da CN, R$21,00 o litro.

Cervejaria Nacional
Av. Pedroso de Morais, 604 – Pinheiros – São Paulo
Telefone: 11 4305-9368
Telefone para reservas: 11 3628-5000
Horário de funcionamento: 2ª a 4ª das 17h00 às 24h; 5ª das 17h00 à 01h30; 6ª e Sábado das 12h00 à 01h30 e feriados a partir das 12h.