texto de Cilmara Bedaque
fotos de Cilmara Bedaque, Luciana Moraes e Murilo Moser (divulgação)
Todo o mundo cervejeiro tem carinho pelo #IPAday porque muitos encontros e momentos legais foram vividos neste evento. Embora eu estude cerveja artesanal e trapista há mais de 20 anos, Vange e eu fizemos o Lupulinas há apenas três anos atrás e entramos neste mundo cervejeiro conhecendo pessoas, trocando idéias e vivenciando dificuldades que não imaginávamos que existiam no meio. No primeiro #IPAday, numas mesas propícias a encontros, conhecemos os cervejeiros da Seasons, Coruja, Colorado e toda uma teia de blogueiros que só tínhamos contato virtualmente.
Os organizadores do #IPAday – Rafa Moschetta e João Becker – criaram a Academia de Idéias Cervejeiras para gerenciar seus projetos e continuaram também a ser produtores de cerveja com uma marca própria – Weird Barrel – já que antes haviam trabalhado na Colorado em Ribeirão Preto. Abriram na micro-cervejaria um pub e lá vendem seus variados estilos de cerveja a preços justos.
Mas algo deu muito errado no #IPAday realizado no último sábado (dia 22 de agosto) em Ribeirão Preto. Os problemas começaram na entrada, quando o publico ficou exposto a um sol massacrante mais de uma hora e meia, e continuaram dentro do salão já que as filas pra conseguir um pote de cerveja (marca do evento os vidros de conserva usados como copos) consumiam mais de uma hora do já sofrido comprador de ingresso do evento. Sim porque para entrar os ingressos foram vendidos em três lotes que variaram de 110 a 170 reais.
As filas para os pouquíssimos estandes de comida também eram terríveis e só não ficou pior porque o público cansado de tanto maltrato abandonou o #IPAday e nas redes sociais do evento deixou bem clara sua desaprovação e revolta diante de tantos equívocos. Alias, o publico não tem obrigação de saber se os organizadores são honestos ou não. Protestam porque pagaram e não receberam o prometido.
A situação vivida por quem comprou ingresso para o #IPAday era:
Chegando ao evento meio dia, depois de uma hora e meia na fila pra entrar, às 16 horas esse nosso exemplo comum de consumidor tinha bebido dois potinhos de cerveja! Cansadas e se achando enganadas e trouxas, essas pessoas iam embora prometendo não só nunca mais voltar, mas também dispostas a impedir que qualquer amigo se aproxime do #IPAday. Temos que computar que, além do ingresso, a maioria vinha de outras cidades e estados e, portanto, gastaram transporte e hospedagem. Ainda bem que o pior não aconteceu: quando o som fazia um intervalo, a revolta no grito de “cerveja cerveja cerveja” poderia ter descambado para a quebradeira e uma desgraça poderia ter rolado. Muitos se retiraram do evento com medo disso acontecer. O evento, nas redes sociais, virou o #FilaDay.
O Lupulinas mandou algumas perguntas pro Rafa Moschetta e, por e-mail, elas foram respondidas.
Rafa Moschetta – Devemos vários pedidos de desculpas para as pessoas que estiveram presentes no IPA Day Brasil 2015. Neste momento, estamos avaliando o que pode ser feito para amenizar a experiência negativa das pessoas. Começamos pedindo nossas sinceras desculpas. Também agradecemos à civilidade da maior parte que soube entender a situação e de fato não piorar as coisas. Sempre fizemos eventos de cervejeiros para cervejeiros e temos certeza que isso contou. Quem esteve em outras edições do IPA Day sabe que buscamos sempre melhorar e inovar.
Lupulinas – A que vocês atribuem o lastimável problema de logística que afetou o #IPAday?
Rafa Moschetta – Como em todos os anos, utilizamos a pesquisa de satisfação dos clientes para aprimorar o evento anterior. Dos cinco principais pontos fracos de 2014, conseguimos melhorar em quatro deles. Com relação ao espaço, investimos num local mais amplo e com mais conforto para os participantes. Melhoramos a infra-estrutura do palco e de som e conseguimos oferecer água gelada durante todo o evento. Também aumentamos o volume das cervejas oferecidas, acima do aumento de publico, para garantir a disponibilidade durante toda a festa.
O quinto ponto era justamente reduzir as filas. Falhamos. Tentamos uma estratégia que acabou agravando o problema.
Lupulinas – Vamos aos números: quantos ingressos foram vendidos? Quantos estandes e quantas cervejas participaram do evento? Quantas pessoas estavam trabalhando nas torneiras?
Rafa Moschetta – Tivemos pouco menos que 2700 pessoas no evento. Foram 42 IPAS divididas em 11 estandes. No auge da festa, tínhamos 68 pessoas trabalhando nas torneiras. O que dá uma proporção de uma pessoa servindo 40. É importante destacar que, com relação a 2014, aumentamos o número da equipe proporcionalmente acima do aumento de ingressos. Descobrirmos da forma mais dura que esse aumento poderia ser maior.
Além da quantidade, também existe a dificuldade de capacitar a mão de obra. Porém, acredito que essa não foi a causa principal. Este ano aplicamos um formato de estandes menores, com menos rótulo diferentes em cada um e distribuindo uma cerveja muito desejada por estande. Acabamos criando um efeito indesejado. Muita gente na mesma fila tanto para pegar uma cerveja muito desejada quanto por outra cerveja.
Lupulinas – E a fila da entrada? Por que as pessoas tiveram que ficar mais de uma hora no sol esperando a porta abrir?
Rafa Moschetta – Abrimos o evento com cerca de 20 minutos de atraso, mas tivemos um problema técnico com o prestador de serviços responsável pelo controle de acesso. Apenas duas das 11 posições de credenciamento estavam funcionando. Ou seja, a fila da entrada deveria ter andado cinco vezes mais rápida, pelo menos. E uma das novidades deste ano foi fazer a votação da melhor cerveja por um sistema digital que dependia desse credenciamento. Um erro nosso foi insistir até o limite para tentar credenciar todos na entrada, com menos de 20% do sistema funcionando. Isso atrasou bastante e deu a impressão de que as portas não haviam sido abertas.
Lupulinas – Vocês são pessoas queridas e vistas como honestas e totalmente inseridas nos preceitos da cerveja artesanal. Se as pessoas que foram ao #IPAday entrassem com processos vocês estariam falidos. Como vocês se dirigem a estas pessoas e o que farão para que o evento continue existindo?
Rafa Moschetta – Recebemos com muita dor as acusações de que todo o problema foi simplesmente fruto de ganância. Isso não é verdade e quem nos conhece sabe disso. Desde o primeiro IPA Day temos encarado os desafios de sermos pioneiros na criação de grandes eventos de craftbeer no Brasil. Felizmente, temos tido mais acertos do que erros, mas estamos apenas iniciando nossas carreiras e ainda temos muito a contribuir.
Sempre procuramos agir com o máximo de transparência. Atendemos todos que nos procuraram durante o evento. Vamos continuar agindo assim. Além da tradicional pesquisa de satisfação, estamos abrindo um canal de comunicação para todos que quiserem participar das discussões com idéias de melhorias ao longo do próximo ano. Estamos pensando na melhor forma de criar esse fórum de discussões e quem quiser fazer parte pode enviar um email para contato@academiadeideiascervejeiras.com
Já decidimos que as pessoas que estiveram no IPA Day 2015 terão acesso à venda de ingressos exclusiva do lote promocional para o A Pint With The Queen e IPA Day Brasil 2016. Sabemos que para manter o evento vivo, temos que restabelecer a confiança dos hopheads. E já começamos a trabalhar nisso! Um Brinde a todos!
O Lupulinas bate palmas aos acertos que foram: a sensacional escolha dos rótulos, a fartura de água no evento, o som equilibrado que vinha do palco com bandas legais e o espaço refrigerado do Espaço de Eventos Royal Park. Pena que nada disso pode ser desfrutado pelos apreciadores do lúpulo no Brasil. Desejamos que os acertos aconteçam nos próximos eventos.
E olha que não é a primeira vez que isso acontece em um evento cervejeiro organizado pelo Rafa Moschetta. O St. Patrick's Day de 2013 aqui em Ribeirão Preto teve exatamente o mesmo problema, filas intermináveis e gente indo embora insatisfeita porque não conseguia tomar um chopp, ou quando conseguia era quente. Nada contra o Rafa, que inclusive é um grande cervejeiro e tem feito grandes cerveja frente a Weird Barrel, mas está mais do que na hora de investir no aprendizado para organização de grandes eventos.
amadores
Os caras não são amadores, fazem isso a muito tempo. Eles foram gananciosos, visaram o lucro acima de tudo.
Fui em 2014 uma vez; unica e ultima. Parece que não aprenderam a lição.