Vem aí o dia da Cerveja Impura e a não-cerveja

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texto e fotos: Cilmara Bedaque e divulgação

Os cabeçudos da Cervejaria 2cabeças vieram ao mundo para questionar, provocar e pensar junto ao fato de fazerem cerveja. Com o pessoal da Morada Cia. Etílica resolveram fazer um belo dum agito, aqui no Brasil, colocando em cheque uma das premissas da cerveja: a famosa Reinheitsgebot! Mas o que é isso?

Em 23 de abril de 1516, o duque da Bavaria promulgou a Reinheitsgebot, ou Lei da Pureza Alemã, limitando os ingredientes da cerveja a malte de cevada, lúpulo e água, focando no controle tributário e comercial da época. Hoje, esta lei é colocada como referência de qualidade da cerveja, o que em nada tem a ver com o histórico e o texto da lei. Privilegiando a liberdade criativa, o cervejeiro da alemã Freigeist, Sebastian Sauer, convocou seus amigos de todo o mundo. A resposta brasileira foi a criação do Dia da Cerveja Impura.

No dia 23 de abril, data em que a Lei de Pureza Alemã completa 500 anos a 2cabeças, Morada Cia Etílica, Maltes Catarinense e Freigeist Bierkultur proclamam o Dia da Cerveja Impura, anunciando diversos eventos espalhados pelo Brasil, incluindo o lançamento de uma cerveja (cerveja?) inédita. Batizada de Bizarro, a bebida fermentada não leva água, malte de cevada nem lúpulo.

“Sempre buscamos usar os ingredientes que imaginamos fazer a cerveja ficar melhor. Não faz sentido valorizar e se prender a uma diretriz que nunca se destinou a preservar a qualidade. O próprio Sebastian relata a dificuldade que é para o alemão aceitar estas inovações, o que é uma luta diária dele por lá”, afirma Bernardo Couto, da 2cabeças.

A Bizarro é uma anti-cerveja, desenvolvida para contestar os limites, com ingredientes como chimarão, água de coco e sidra de maçã no lugar da água. O malte de cevada foi totalmente substituído por malte de arroz e malte de aveia, especialmente desenvolvidos para este projeto pela Maltes Catarinense. O lúpulo não entra na receita, que conta com losna, semente de coentro, zimbro e erva mate torrada. Uma bela adição de mel para provocar e para finalizar, apenas leveduras selvagens: French Saison e Brettanomyces.

“O processo criativo para chegar a esta anti-cerveja foi muito divertido. Entendemos que era o momento de nos posicionarmos a favor da liberdade acima de tudo. Nos dias de hoje a cerveja está mais viva, jovem e ousada do que nunca. Precisamos contribuir para que ela continue evoluindo”, celebra André Junqueira, da Morada Cia Etílica.

A anti-cerveja será lançada no dia 23 de Abril, em diversos eventos pelo Brasil. Já estão confirmadas ações em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre. Os eventos serão divulgados nesta página do Feice

O manifesto e as dicas de como participar deste evento você encontra neste site

Ah! e eles não esqueceram de providenciar um vídeo  é claro ;)

No Rio
O casarão Ameno Resedá será o palco deste evento regado a muita cerveja com diversos cereais, frutas, especiarias e maturação em madeira. A degustação será liberada, com mais de 15 rótulos disponíveis de nomes como 2cabeças, Penedon,
Invicta, 3cariocas, Morada, Freigeist, Treze, Three Monkeys e Hocus Pocus, que rasgaram a Reinheitsgebot e abusaram da criatividade e ingredientes inusitados na criação de suas receitas. Para acompanhar, o evento contará com diversas opções
gastronômicas.

“É um dia para celebrar a diversidade e a criatividade sem limites. Contamos com a participação de diversas excelentes cervejarias para juntar uma seleção incrível de rótulos impuros”, comenta Maíra Kimura, da 2cabeças.

Dia da Cerveja Impura
23/04, das 14h às 20h
Casarão Ameno Resedá ­ Rua Pedro Américo, 277. Catete
Ingressos: R$ 130 (primeiro lote)
Degustação liberada, convite dá direito a um copo da 2cabeças

 

 

Vamos repensar a cerveja? Mais uma boa idéia dos cabeçudos da 2cabeças

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2cabeças e 3cariocas.Ttá faltando 1 carioca...

texto: Bernardo Couto & Cilmara Bedaque

fotos: peguei no blog da 2cabeças ;)

A Cervejaria 2cabeças já é conhecida pelos leitores deste blog pelas boas cervejas que faz e também pelo seu bom humor e atitude. Para provar o que falo, olha a idéia que Maíra Kimura e Bernardo Couto, cervejeiros da 2cabeças, tiveram: o Repense Cerveja! Hummm… Interessante… Mas o que é isso?

Há um mês a 2cabeças caiu na estrada durante duas semanas para testar novas receitas em parceria com vários amigos da região Sudeste. São cinco estilos diferentes, que serão lançados no Festival Repense Cerveja, que acontecerá no próximo dia 26 no Rio de Janeiro e dia 3 de Outubro em São Paulo.

A primeira cerveja produzida nessa caravana foi uma potente American Wheat Wine com a 3cariocas. Ela terá 10% de álcool e 83 IBUs, com maltes de cevada e trigo, e mais flocos de trigo. Ainda leva doses generosas de Columbus, Citra e Amarillo para aroma. Uma cerveja especial de trigo? Pela nossa legislação, não, pois ela tem mais de 25% de trigo, o que tira essa delícia da categoria especial. Então ela se chamará #SQN, aquela hashtag de ironia que significa “só que não”.

Depois os cervejeiros da 2cabeças foram rumo a Belo Horizonte. Em Contagem produziram a Gol da Alemanha, uma German IPA com 7,1% e 71 IBUs, com sete ingredientes alemães e água brasileira. Os lúpulos Smaradg e Mandarina Bavária dominam o aroma da cerveja, adicionados na fervura e no dry hopping. Desnecessária qualquer explicação sobre as quantias usadas. Pura coincidência essas repetições de 7 e 1 /o\

Dois dias depois, era hora de produzir com a Capa Preta e a Koala San Brew, ambas de Nova Lima, ainda em Minas Gerais. A cerveja escolhida foi uma Sour Ale com Mirtilo. Com 6% de álcool, ela foi produzida com fermento saison e lactobacilos, trazendo acidez e complexidade para a cerveja.

Dali, os cervejeiros pegaram a estrada rumo a São Paulo. Na Cervejaria Nacional, surgiu uma California Common defumada. O estilo híbrido é feito com fermento lager, mas em temperatura de fermentação mais alta, típica de uma ale. Nos maltes, foram usados pilsen, caramelo e 15% defumado, dando um toque diferente para esta cerveja. O lúpulo Nothern Brewer completa a lista de ingredientes desta cerveja que terá 4,8% de álcool e 38 IBUs.

A última parada foi em Penedo, Rio de Janeiro, para a produção de uma Brown Ale em parceria com a Penedon. Ela ficou com 6,1% de álcool e 35 IBUs. A coloração é marrom escuro, com maltes escolhidos para ressaltar aromas de nozes e chocolate ao leite.

Agora, todas essas cervejas estão em fase de maturação e vão estrear nos Festivais Repense Cerveja. No Rio, no próximo dia 26, o evento acontece na Casa da Glória, com ingressos disponíveis na Bilheteria Digital, no segundo e último lote a R$ 135,00. Em SP, no dia 3 de outubro, o festival acontece dentro do Butantan Food Park, com entrada franca. Além das cervejas, barracas de comidinhas e a nova linha de camisetas dos cabeçudos.

Casa da Glória – Ladeira da Glória, 98, Glória.
Dia: 26 de setembro
Horário: 14h às 20h
Ingressos: Bilheteria Digital

Butantan Food Park: Rua Agostinho Cantu, 47 – Butantã
Dia: 3 de outubro
Horário: 11h às 22h
Além das cinco colaborativas inéditas estarão por lá as convidadas 3Cariocas, Capa Preta, Koala San Brew, Penedon, Aeon e Cervejaria Nacional.
As cervejas serão pagas em suas barracas.

E a 2cabeças ainda avisa que todo o festival será documentado em tempo real no site 2cabecas , Instagram e Feice . Prometem também entrar ao vivo no Periscope da 2cabeças. A largada vai ser dada no Twitter

Se quiserem ler um diário da produção das colaborativas acessem o blog da 2cabeças

Se joguem!

P.S.: lista das cervejas do Repense Cerveja
- Gol da Alemanha (Aeon Cervejaria + 2cabeças)
- Fogo de Palha (Cervejaria Nacional + 2cabeças)
- Debrownismo (Penedon + 2cabeças)
- #SQN (3cariocas + 2cabeças)
- Lactobluicilos (Koala San Brew + Capa Preta + 2cabeças)
- Capa Preta ESB
- Koala San Brew Bad MotorFinger (Imperial porter envelhecida em carvalho)
- 3cariocas Session IPA Nema
- 3cariocas Saison du Leblon
- Mula (American IPA)
- Mangifera IPA – Penedon Helles
- Penedon Bauréti
- Penedon Serra da Índia – Maracujipa
- Hi5
- Rio de Colônia
- Funk IPA

Comidas Confirmadas (RJ)
- Du Jour
- Project Burger
- DoBacon
- Big Head

#Mimimilho: A tortuosa questão do milho na cerveja

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espiga milho compac

texto e fotos: Cilmara Bedaque e divulgação

Já há algum tempo, o Lupulinas quer falar sobre a adição de milho (e arroz) na cerveja. Isso porque este assunto virou uma grande oportunidade para todos estudarmos, aprendermos e não sairmos por ai repetindo as coisas de orelhada.

Sim, porque neste mundo da cultura da internet™ grandes mentiras viram verdades e grandes verdades viram piadas. O milho, depois de usado pelas grandes cervejarias para baratear seu custo, produzir teor alcoólico e, além de tudo, ser escondido nos rótulos sob o cognome de “cereal não maltado” foi chicoteado, esquartejado e ofendido em sua nobreza de grão. O problema não é o milho, mas sim o uso que essa indústria fez dele. Aí começou essa ignorância que só malte de cevada era cerveja e que outras experiências procurassem outro nome. O grau de ataque é nível torcida de futebol enfurecida.

Todos têm que ter opinião para tudo? Vamos lá. Fui averiguar o assunto. Oh! A mais antiga “cerveja” encontrada na China era feita de arroz? Os rígidos alemães usaram milho para retirar a opacidade de suas cervejas? Muitos iniciantes no consumo da cerveja artesanal aceitam com felicidade as cervejas de trigo? Os andinos faziam sua cervejinha (chicha) mastigando milho? Existe um estilo de IPA chamado Rye IPA que usa até 20% de centeio? Experimentei outro dia uma deliciosa cerveja peruana feita de quinoa?

Aí veio a AMBEV e se associou à Wäls e à Colorado e muitos ~entendedores~ começaram a falar que todo produto que estas pioneiras cervejarias artesanais produziriam seria feito com milho. Nesse tipo de raciocínio há muita culpa da própria Ambev que, pelo jeito, aprendeu com a Kirin que não precisa fazer a política da terra arrasada. Até a Stella Artois feita aqui pela Ambev foi “abrasileirada” e perdeu seu marcante aroma ainda encontrado pelo resto do mundo. Isso sem falar na Original, Serramalte e outras cervejas “adaptadas”. Parece que nessas recentes associações há um novo espírito dentro da grande indústria. Óbvio que essa intenção precisa ser comprovada ao longo do tempo.

Mas aí já que virou o #Mimimilho, os irmãos Carneiro – da Wäls – partiram pra ousadia. Já que estavam acusando suas cervejas com argumentos tão falsos, eles lançaram semana passada e, em breve, deve estar nos supermercados, a Wäls Hop Corn IPA com 15% de milho anunciado no rótulo! (Transparência, que beleza!) Na verdade é usado um xarope chamado de High Maltose que fermenta ajudando a dar teor alcoólico à cerveja. Como a paixão por lúpulos está em alta *-* eles abusaram da quantidade e da variedade (Columbus, Cascade e Amarillo e finalizada com um dry hopping de Centennial). A Hop Corn tem 6.7% de teor alcoólico, 70 IBUs e uma leveza que garante sua bebalidade por um bom tempo.

Pra completar o serviço, os irmãos Zé Felipe e Tiago Carneiro, junto com a Bohemia, colocaram no rótulo saquinhos de pipoca cheios de lúpulo e conclamaram todos nós a derrubar um muro de falso conhecimento que só faz mal para a evolução da cerveja.

Outra bem humorada cervejaria brasileira – a 2cabeças – também entrou na pretensa polêmica do #Mimimilho e produziu, em colaboração com a cervejaria dinamarquesa Amager Bryghus, a Marry Me in Rio, uma Cream Ale com lúpulos Simcoe, Sorachi Ace e Centennial e 10% de flocos de milho e arroz. O Lupulinas adorou que no rótulo o casamento retratado fosse o de duas mocinhas \o/ E como a 2cabeças capricha, as mocinhas são uma loira, outra morena, são peitudonas e ainda têm o Cristo Redentor acima de braços abertos :D

Então é isso: muitas vezes a piada e o sectarismo escondem a verdade e a melhor coisa pro consumidor é beber a cerveja que gosta, ler em seu rótulo do que ela é feita e brindar com seus amigos.

PS.: Agradeço a todos os colegas blogueiros ou produtores de cerveja que me elucidaram, através de leituras ou de bons papos, sobre os vários aspectos desta questão.

 

Fazendo Cerveja na Calçada

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Ume

O Projeto Cerveja em Dupla é uma iniciativa da Acerva Paulista (Associação dos Cervejeiros Artesanais Paulistas) e do bar Empório Alto dos Pinheiros (EAP) que convida dois cervejeiros para inventar uma receita e fazer uma brassagem na calçada do bar. O clima é sempre divertido pela situação surpreendente e didático porque todos frequentadores podem chegar perto e ver o que está acontecendo.

Mas o que é uma brassagem? A brassagem nada mais é do que o cozimento do malte para extrair os açúcares necessários à fermentação da cerveja. Tem que ser feito o controle da temperatura do cozimento para uma melhor extração dos açúcares do malte. O grão moído é misturado com água quente num recipiente grande. Neste recipiente, o grão e a água são misturados para criar um mosto de cereais. Este líquido rico em açúcar ou mosto é então filtrado através da parte inferior do recipiente num processo conhecido como drenagem. Mas vamos conversar com a dupla convidada de novembro: Maíra Kimura, sócia da 2Cabeças e Fernanda Ueno, da Colorado.

Lupulinas – Qual estilo de cerveja vocês vão produzir?
Maíra – Uma Black Saison com Umê, que é uma frutinha japonesa…
Lupulinas – Que é a do umeboshi!
Maíra – Sim, que é a do Umeboshi!
(Umeboshi é uma espécie de ameixa japonesa em conserva muito ácida e salgada. É usado na cozinha e a ela se atribui vários poderes curativos)

Lupulinas – Descrevam para o leitor do nosso blog o processo que foi feito até agora e o que vem na seqüência, para que essa cerveja seja consumida.
Fernanda – A gente chegou aqui e já estavam arrumados o fogão e as panelas e já tinham moído o malte.
Colocamos a quantidade certa de água para esquentar e aí, quando chegou na temperatura adequada, a gente acrescentou o malte e ficou cozinhando por mais ou menos uma hora. Depois começamos a recirculação. No início o mosto está turvo, então precisa fazer a recirculação.
(Para fazer a recirculação, vamos extrair parte do líquido pela válvula extratora na parte inferior da panela e devolvê-lo à panela pela parte de cima, tentando mexer o mínimo possível na camada de malte. Assim esta camada de malte vai se transformar em um filtro natural, onde as cascas do malte vão ajudar no processo de contenção das partículas do líquido.)
Depois então fizemos a filtração do mosto primário e depois a filtração do mosto secundário, o enxágüe. Então colocamos em outra panela para ferver. Durante a fervura, adicionamos o lúpulo e, no final da fervura, o lúpulo de aroma, um lúpulo japonês chamado Sorachi Ace e também o Umê, ambos nos 5 minutos finais da fervura.

Lupulinas – Maíra, fala pra mim o que vai ser feito depois disso e especifica o tipo da cerveja, teor alcoólico, etc
Maíra – A gente vai agora resfriar o mosto com o uso de um chiller (máquina frigorífica). Colocamos o mosto ali dentro e vamos passando água gelada para resfriar até atingir a temperatura ideal para inocular a levedura. Se inoculamos a levedura com o mosto nessa temperatura, a levedura, que é um ser vivo, morre. Temos que baixar para menos de 30 graus. A levedura que vamos usar é específica para esse estilo de cerveja que queremos produzir, a Saison. Ela geralmente é clara, mas a gente fez uma escura. Para isso usamos uma fração do malte torrado. Portanto vai sair uma Saison Black com Umê que vai dar um toque bem ácido. Vai ser quase uma Sour. Queremos que ela fique bem seca.

Lupulinas – E quem teve a idéia de fazer essa cerveja?
Fernanda – A gente que pensou aqui.

Lupulinas – E ela nunca foi feita antes?
Maíra – Não, nunca.

Lupulinas – E depois desta brassagem como o processo continua?
Fernanda – Depois daqui, vamos resfriar, colocar a levedura e vai ficar um tempo fermentando. Pelo menos uma semana, mais de uma semana talvez. A gente quer que ela fique bem seca, tire todo o açúcar. Depois vamos colocar para maturar e na próxima Brassagem em Dupla, aqui no EAP, com outros dois cervejeiros convidados e a galera vamos beber. Fizemos 20 litros que vão ser engarrafados em garrafas de 500 ml.

Lupulinas – Maíra, é a primeira vez que você faz uma brassagem na rua?
Maíra – É, na rua é.
Lupulinas – E você, Fernanda?
Fernanda – Também. Assim na calçada, com todo mundo passando… É! Gostei!

Lupulinas – Fernanda, qual a sua experiência? O que você fez antes?
Fernanda – Eu comecei a fazer cerveja em casa em 2009, faz bastante tempo. Agora eu trabalho diretamente na produção na Colorado. Mas continuo na panelinha até hoje, eu adoro. A gente tem uma cozinha de 50 litros na Colorado para testes e quatro tanquinhos. Meus tanquinhos estão sempre cheios porque eu gosto bastante. É a parte que eu acho mais interessante fazer, receita nova, testar ingrediente novo…

Lupulinas – E você já é uma mestra cervejeira?
Fernanda – Ainda não, estou indo agora em janeiro para escola, em Daves, na California. Vou ficar 6 meses lá para fazer o curso de mestre. Em julho serei!

Lupulinas – Eu tô querendo implantar uma nova nomenclatura, a MestrA Cervejeira! (risas)

Lupulinas – E você, Maíra? Fala um pouco pros nossos leitores quem é você.
Maíra – Eu não trabalhava com cerveja. Minha formação acadêmica é de publicitária. Aí quando fui morar na Europa eu queria fazer uma coisa diferente, eu sempre gostei de cerveja e fui estudar na Inglaterra. Fiz um curso lá de quatro meses. Não sou mestrA-cervejeira, fiz um curso técnico. E eu me apaixonei, comecei a fazer um monte de cursos. Apareceu um curso de sommelier, eu fiz também. Aí quando eu voltei para cá, fiz o curso do SENAI também, de Tecnologia Avançada Cervejeira e to aí.

Lupulinas – Qual a sua função na 2Cabeças?
Maíra – Eu sou proprietária, uma das sócias. E sou cervejeira também.

Lupulinas – Você não fica com o departamento de publicidade da 2Cabeças?
Maíra – Na verdade a gente é muito pequeno, então todo mundo faz tudo.

Agora é esperar o resultado desta especialíssima Saison Black com Umê que vai receber um rótulo bem legas desenvolvido por Alexandre Nani, do ICBDesign.

PS – gracias a Luciana Moraes pela transcrição da entrevista

Fotos de Cilmara Bedaque

 

#VaiTerCopo

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mynameisze

Ainda é cedo e muitos outros mistérios devem pintar por aí. Mas algumas cervejarias artesanais brasileiras já estão fabricando suas beberagens em homenagem à Copa do Mundo 2014 e que serão lançadas durante o evento. Se, por um lado, a Copa é patrocinada por um Gigante da Indústria, os pequenos produtores se mexem para colher novos fãs e divisas do turismo que será gerado nas cidades-sede da Copa.

A cervejaria carioca 2Cabeças fez um gol de placa ao firmar uma parceria com a escocesa Brewdog, uma das artesanais mais descoladas da Europa. Juntas, elas estão fabricando uma Passion Fruit IPA chamada Hello, My Name is Zé e que será distribuída apenas no Brasil e para os sócios do programa Equity for Punks, da Brewdog. A “Hello, My Name is Zé”, apesar dos toques de maracujá, será bem diferente da já conhecida MaracujIPA, da 2Cabeças. Segundo Bernardo Couto, cervejeiro da brasileira, “Zé” difere da MaracujIPA em tudo: nos maltes, teor alcoólico e terá uma lupulagem bem mais agressiva. As Lupulinas aguardam ansiosas \o/

Outra parceria internacional é das cervejarias Bierland (SC, Brasil) e Antares (Argentina), provando que os maiores rivais do futebol sul americano podem se juntar pra fazer uma boa cerveja. Ainda sem nome, a parceria Bierland/Antares será uma cerveja do estilo American Pale Ale, produzida com lúpulos da Patagônia Argentina e extrato de guaraná brasileiro. Pra deixar todo mundo ligadinho no jogo.

A cervejaria mineira Falke Bier, por sua vez, resolveu homenagear os ingleses, que farão um jogo em Belo Horizonte, lançando uma cerveja (ainda sem nome) com maltes e lúpulos ingleses e a adição da nossa única, particular e brasileiríssima jabuticaba. Além do rótulo comemorativo, Marco Antonio Falcone, um dos sócios da Falke, disse estar preparado para receber os turistas em sua fábrica-bar, que fica bem próxima da capital e está mapeada nos beertours oficiais da cidade. Falcone disse que a produção da Falke será sextuplicada no período da Copa e que a fábrica-bar está investindo na capacitação dos funcionários para atender o público estrangeiro. Uma nova lojinha de souvenirs da cervejaria será criada. Porque todo mundo gosta de levar lembrancinhas pra casa.

Para saudar a seleção francesa de futebol que se hospedará em Riberão Preto, a local Colorado irá lançar uma variação de sua conhecida Cauim, mas com lúpulos franceses: a Allez les Bleus, grito da torcida francesa para empurrar sua seleção. A cerveja comemorativa será comercializada no Brasil e na França e a Colorado, para este fim, fez um comercial provocativo e de gosto duvidoso, explorando o corpo nu e o suvaco peludo da mulher francesa. Nós, Lupulinas, feministas, ficamos #chatiadas com essa nudez desnecessária (qual a necessidade disso?) usada na promoção de uma cervejaria que jamais colocou mulheres nuas ou sexies em seus rótulos (apenas o ursinho que amamos tanto). Por outro lado, gostamos de sovaco peludo, que não é prerrogativa exclusiva das francesas. Como faz parte da ação uma resposta dos franceses ainda não veiculada, aguardemos os desdobramentos desta campanha.

Além dos rótulos comemorativos (esses são apenas alguns que pescamos para vocês), algumas cervejarias artesanais estarão oferecendo tours para visitação e degustação em suas fábricas. Uma delas é a Bamberg, que fica em Votorantim (40 minutos de São Paulo) e que abrirá suas portas aos sábados para a turistada, a partir das 11 da manhã, por 30 reais e com guias que falam inglês (além dos de língua nativa). Fora da Copa, o dono da cervejaria, Alexandre Bazzo, também oferece estes tours em português. O passeio dá direito a uma degustação das cervejas produzidas pela Bamberg. O agendamento pode ser feito pelo e-mail contato@cervejariabamberg.com.br e maiores informações no www.cervejariabamberg.com.br

Daqui até ao início da Copa, devem surgir mais cervejas especiais e sazionais  e mais eventos cervejeiros relacionados ao evento. Estaremos acompanhando e contando pra vocês \o/\o/\o/

Diário de Bordo – Festival da Cerveja parte 1

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bodebrown stande

O Festival da Cerveja, em Blumenau, começou para nós na noite anterior com o lançamento da incrível Frosty Bison, a primeira American IPA da cervejaria local Eisenbahn. O novo rótulo é uma receita ganhadora do 4º Concurso de Mestre Cervejeiro, realizado anualmente pela cervejaria que, desta maneira, apresenta novos e promissores profissionais ao mercado.

A Frosty Bison foi criada pelo cervejeiro Fabert Araújo, presente ao evento, um cara simpático que costumava fazer suas receitas em casa..

Para acompanhar a nova American IPA a Eisenbahn lançou um copo especial, semelhante ao ~copo mágico~ da Dogfish Head porém um pouco menor. O copo ressalta as qualidades das IPAs e esta deve ter sido a razão para seguir os passos da cervejaria americana. Infelizmente os copos não estarão à venda. Mas atendendo a pedidos dos consumidores, a Eisenbahn resolveu envasar sua Frosty Bison em garrafas de 500ml: mais sabor em maior quantidade. Elas chegarão ao mercado ao preço de 16 dilmas.

O aroma dos lúpulos americanos da Frosty logo aparece. A espuma da cerveja é boa, consistente, o sabor é amargo-cítrico e corpo, leve e sem arestas. Mais uma ótima IPA artesanal brasileira para festejarmos.

Ah, e vale destacar o bar-fábrica da Eisenbahn. Comprada pela Kirin Brasil, a cervejaria mantém a filosofia das artesanais. Do bar, através de um vidro, podemos acompanhar todo o processo de feitura de suas cervejas. Se for a Blumenau, não deixe de visitá-la. Imperdível.

No dia seguinte fomos convidadas para o almoço no The Basement Pub que apresentou seu novo cardápio de burgers e hot-dogs. O bar pertence aos ex-proprietários da Eisenbahn, que agora se dedicam a produzir os tradicionais queijos fundidos de Pomerode. Deliciosos, aliás. Adoramos os hambúrgers, os queijos e as artesanais que os acompanharam. Outro pico para explorar em Blumenau.

O Primeiro dia do Festival

As Premiadas

Às 21 hs, muita alegria e comemoração com a premiação das 23 cervejas que receberam medalhas de ouro. Elas passaram de 80 pontos na avaliação geral e foram coroadas como melhores do Brasil nos seus estilos. A Stout Açaí, da Amazon Beer, recebeu 91 pontos entre os 100 possíveis e foi eleita a melhor cerveja do país.

Outro resultado muito comemorado foi o bicampeonato da Bodebrown, de Curitiba, que foi eleita de novo a melhor cervejaria do país. Foram 10 medalhas:  uma de ouro, seis de prata e três de bronze. Em segundo lugar ficou a Brasil Kirin com os premios da Eisenbahn e Baden Baden. E em terceiro a Gauden Bier, com os rótulos da Dum, Morada Etílica, Pagan e seus proprios de fábrica.

A cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto (SP), foi a que mais acumulou medalhas de ouro. Foram três: Colorado Ithaca, Colorado Vixnu e Colorado Ithaca Oak Aged.

Os lançamentos

A Baden  Baden, de Campos do Jordão, lançou uma levíssima Witbier. Com toques de coentro e aroma de laranja, estilo belga, esta Witbier é bem refrescante.

A cervejaria Wäls, de Belo Horizonte, preparou uma cerveja para nossa temperatura tropical: a Session Citra com um rótulo bem esperto.

A Schornstein, de Pomerode, apresentou a Blanche de Maison, uma Witbier clássica com coentro, laranja, tangerina e limão siciliano. De cara, arrebatou a medalha de prata de seu genero. Aliás, a Schorstein ganhou ouro com a sua magnifica IPA, já no mercado.

A Morada Cia Etílica, de Curitiba, mostrou a Hop Arábica, unindo o melhor da cerveja e do café.

A Dama Bier, de Piracicaba apresentou a Imperial Coffee IPA, com 9% ABV e adição de café de São Paulo.

A Way Beer, de Curitiba, levou a linha Sour me Not, composta inicialmente por três cervejas com frutas (morango, acerola e graviola).

A Baldhead, de Porto Alegre, fez sucesso com a Kojak IPA.

A Bamberg, de Votorantim, levou barris de  Franconian Raphsody, uma gostosa helles defumada.

A gaúcha Seasons agraciou os amantes de lúpulo com a XXXPA servida em chope. Nosso olhar também foi atraído pelas descoladas camisetas da cervejaria que – parabéns, Leo! – levou ouro pela Cirillo, prata pela Pacific e bronze pela Holy Cow.

Outro estande que nos chamou a atenção foi o da Lake Side, cervejaria que trabalha sem glúten e faz diversos tipos de cerveja. De cara levou o Ouro pela Crazy Rye. Em breve faremos um post só sobre esta cervejaria corajosa e criativa.

A campeã Bodebrown, de Curitiba, lançou um vídeo mostrando tudo o que vai levar para o festival. São 2 mil litros de cerveja em 18 rótulos, sendo que 5 deles envelhecidos em barris por até 18 meses. Assista ao vídeo:

 Destaques

Mais uma delícia que degustamos: a Coruja Labareda, que o talentoso Rafael Rodrigues nos apresentou com sua simpatia característica. Uma cerveja com pimenta, complexa, que traz alegrias aos sentidos e pede outro gole na sequência.

A alegria de beber mais uma vez a maravilhosa Funk IPA, da Cervejaria 2Cabeças, só não é maior que a de encontrar Maira Kimura e Bernardo Couto. Alias, parabéns pelas Medalhas de Bronze recebidas pela  Hi5 e a propria Funk IPA

Uma delícia também os sorvetes, feitos com cerveja é lógico!, da Gelataio de Curitiba.

Enfim, são muitos rótulos diferentes e nunca conseguiriamos provar todos apenas numa noite. O festival prossegue até dia 15 e no próximo post comentaremos sobre seu desfecho e as eleições para a Associação Brasileira das Microcervejarias.

Festival Brasileiro da Cerveja
Data/horário: 12 a 15 de março de 2014 (de 12 a 14 a partir das 19h e no dia 15 a partir das 15h)
Local: Parque Vila Germânica, em Blumenau (SC)
Mais informações: www.festivaldacerveja.com

HoHoHo – Papai Noel de bermudas

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renas beer

 Desde os tempos pagãos, em que celebrávamos o solstício de inverno, beber cerveja durante a noite mais longa do ano é tradição.Cristãos souberam aproveitar a deixa e a feitura de cervejas especiais continuou firme e forte. Até hoje mosteiros fabricam suas especiais de Natal e algumas microcervejarias artesanais aderiram com tudo à idéia.

As chamadas sazonais enriquecem o cardápio de tipos produzidos pelas cervejarias. Natal no hemisfério norte é época em que o frio começa a pegar e, por isso, muitas Xmas Ales são fortes e encorpadas. Aqui no Brasil, embora vivamos num país tropical, temos o costume de consumir perus e outros assados bem calóricos. Mas podemos ser mais espertos e passar a colocar na mesa pratos mais tenros e leves. E, para revolucionar de vez, deixar nosso Papai Noel de bermudas e beber uma cerveja feita aqui, com nosso clima em sua receita.

Nós, Lupulinas, fizemos um apanhado de algumas cervejas de Natal fabricadas por cervejarias artesanais brasileiras. Incluímos na lista algumas cervejas fabricadas com o método champenoise que são feitas o ano todo porque o espoucar de rolhas nos remete às festas e comemorações.

Brasileirinhas

A cervejaria Schincariol, que está investindo em algumas artesanais que ela comprou, apresenta dois rótulos para o Natal: a Eisenbahn Weihnachts Ale, produzida pela primeira vez em 2003, e a Baden Baden Christmas Beer que está em sua sexta edição. Infelizmente, a Schincariol só garante sua distribuição pelas regiões Sul e Sudeste e enquanto durarem seus estoques.
Einsenbanh Weihnachts Ale – cerveja de estilo belga, com sabor encorpado e marcante. Seu teor alcoólico é de 6,3% um pouco acima dos 4,5% de uma pilsen normal e possui paladar acentuado de lúpulo.
Baden Baden Chrismas Beer – foi feita pensando numa ceia mais leve e é uma cerveja de trigo tipo Ale, refrescante, um pouco frisante, clara, de corpo leve, de aroma frutado e com um sabor levemente seco. Mesmo um peru assado fica, por contraste, muito bem acompanhado.

Bamberg Weihnachts – Alexandre Bazzo, um dos donos da Bamberg, pensou em fazer uma sazonal totalmente diferente das que têm no mercado. Sua receita não é baseada em nenhuma outra existente. Diz Alexandre que só quis fazer uma cerveja que combinasse com nosso clima e a ocasião. Originalmente ela não é de nenhum tipo, mas é avermelhada, cristalina, levemente frutada, com 30 de IBU, 6% de teor alcoólico e destaca o malte, seguindo uma tradição alemã. Ela é comercializada em garrafas de 600 ml e é deliciosamente refrescante graças ao lúpulo alemão da região de Hallertauer.

2cabeças + Mistura Classica + Have a Nice Beer = Have a Nice Saison – Esta inovação será degustada exclusivamente pelos associados do clube Have a Nice Beer: a Have a Nice Saison, desenvolvida numa parceria entre as cervejarias  2cabeças e a Mistura Clássica. Clara e refrescante, ela traz aromas cítricos e florais, com final seco. Ideal para uma noite de Natal em pleno verão, garantindo um bom acompanhamento para aves.

Gringas

Nas prateleiras das lojas especializadas pode-se achar também cervejas sazonais de natal gringas como Delirium Christmas, BrewDog Hoppy ChristmasGouden Carolus Christmas e outros rótulos. Todas na tradição do Hemisfério Norte, bem encorpadas e alcoólicas.

Rolhas para que te quero

Mas há também cervejas de produção contínua, não-sazonais, que casam muito bem com ceias e almoços de Natal de todos os tipos. Feitas através do método champenoise (onde se refermenta a cerveja na garrafa tapada com uma rolha), temos à venda no Brasil, entre outras, as gringas DeuS Brut des Flandres, La Trappe e Malheur Brut.  As brasileiras Wals Brut e Eisenbahn Lust também farão bonito na mesa com um peru, um tender e etc. Por serem cervejas de fabricação lenta e sofisticada, seus preços são bem altos.

É isso. Pre-para e põe pra gelar moderadamente.

Mensagem na Garrafa vol. 1

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gonzo capa

Quem aprecia cervejas artesanais já reparou no capricho dos rótulos. Nós, Lupulinas, vamos além e somos apaixonadas também por alguns contra-rótulos e textos que acompanham as estampas, explicando a origem e a inspiração das cervejas que vamos beber. Alguns são engraçados, outros são curiosos e informativos e há também os que beiram o pedantismo. Tudo motivo para um sorriso, um assunto, uma distração à mesa.

Este post é apenas o primeiro de uma série falando sobre contra-rótulos que achamos interessantes. Para os próximos, aceitamos colaborações. É só mandar a foto e dizeres da cerveja para o email lupulinas@lupulinas.com.br

St. Rogue Red Ale – Dry Hopped (Rogue Brewery, Oregon, Estados Unidos)
“Fukutsuru (1992-2002) R.I.P.
Por trás de uma grande cerveja existe um mestre cervejeiro e por trás de um grande bife há um touro. Fukutsuru (Fuku para os íntimos) é este touro. Primeiro do ranking norte-americano no quesito marmoreio*, Fuku é um touro wagyu japonês que deixou uma imensa prole responsável pelo fornecimento da melhor carne Kobe dos EUA e que vai bem com a St Rogue Red.
Mais de 50.000 amostras do sêmen de Fuku estão congeladas para futuras inseminações. Em seus últimos dias de vida, deram a Fuku a chance de “socializar” com algumas vacas mais novas. Em vez disso, ele preferiu tirar uma soneca.
Nós dedicamos esta cerveja a Fuku – um desajustado (rogue) até o final.”

Wasatch Evolution Amber Ale (Utah Brewers Cooperative, Estados Unidos)
“Esta cerveja é parte do nosso protesto contra a tentativa da Assembléia Legislativa de Utah de obrigar o ensino do criacionismo nas escolas públicas. Acreditamos que Igreja e Estado devem permanecer separados, até mesmo em Utah. Esta amber ale apresenta um agradável início maltado, bem equilibrado com uma dose saudável de lúpulos Tettnanger. Foi engarrafada pela primeira vez em 2002 como cerveja não-oficial dos Jogos Olímpicos de Inverno.”

Paqui Brown (Cerveceria Tyris, Valencia, Espanha)
“Paquita Brown vive al limite. Sólo bebe cerveza sin filtrar, directa del fermentador. Paqui pasa lúpulo de contrabando, sólo las mejores cosechas. Esta botella contiene su receta favorita. Una brown ale, dulce, cremosa e intensa, monovarietal de Simcoe, sin tontérias. Paqui desfruta de cada cerveza como si fuera la última.”

X Black IPA / Hi5 (Cervejaria 2cabeças, RJ, Brasil)
“Sabe aquele dia que você quer receber uma porrada no paladar? Lembra daquelas cervejas sem graça que você conhece? Agora esqueça! Esta é uma cerveja escura e intensa, com doses cavalares de lúpulo americano e um toque de malte torrado que criam uma cerveja refrescante e única. NÃO É PARA OS FRACOS.”

Green Cow IPA (Seasons Craft Brewery, RS, Brasil)
“- de doce já basta a vida -
Arte e revolução em estado líquido. Uma American India Pale Ale feita com quantidades absurdas de lúpulo, produzida para quem gosta de amargor com frescor e sem frescura. Abrir em momentos onde tudo que você quer é fazer cara de “meu deus do céu, o que é isso!?”

Gonzo Imperial Porter (Flying Dog Brewery, Maryland, Estados Unidos)
“Certa vez Hunter S. Thompson disse “Quando a parada fica estranha, o estranho vira profissa”. Taí nossa versão profissa da Gonzo Imperial Porter. Envelhecida e maturada por três meses em barris de madeira de uísque, esta ale tem um sabor bem equilibrado e um exagero de personalidade. (…) Gente boa bebe cerveja boa.”

Tokyo (Brewdog Brewery, Escócia)
“Esta cerveja é inspirada no arcade Space Invaders, de 1980, sucesso na capital japonesa. A ironia do existencialismo, a paródia do ser e as contradições inerentes ao pós-modernismo sugeridas por esse game de ação foram cuidadosamente recriadas no conteúdo desta garrafa.

Biritis (Brassaria Ampolis, RJ, Brasil)
“Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, seria um dos maiores brasileiros vivos se não nos tivesse deixado para se tornar um dos maiores brasileiros da História. Toda essa importância nunca foi ‘devidamente’ reconhecida. Até agora. A Biritis é mais que uma cerveja, é uma homenagem e um presente da família do Mussum – que tem cerveja na veia – para os apreciadores de uma boa risada e uma bela cerveja.”

Maria Degolada (Cervejaria Anner, RS, Brasil)
“Esta cerveja faz uma homenagem ao local onde a cervejaria Anner teve origem: a vila Maria da Conceição, em Porto Alegre, sul do Brasil, conhecida pela lenda da Maria Degolada. Maria Francelina Trenes foi degolada por ciúmes em 12 de dezembro de 1899 pelo seu namorado, um policial militar. No local de sua morte foi colocada uma lápide, onde ao redor cresceu a vila da Maria Degolada, protetora dos que tem problemas com a polícia e considerada uma santa pela população local.
- Agradeço pelas graças alcançadas – ”

2cabeças: a cervejaria louca por lúpulo

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Trocamos a marca por mais lúpulo.

Com esta frase a 2cabeças começou um lance original no mundo cervejeiro artesanal do Brasil. Devemos confessar: a palavra lúpulo nos é muito cara ;) e fomos ver o que está acontecendo naquelas cabeças.

A cervejaria já havia antecipado a surpresa no seu site , mas foi no Mondial de La Bière, no Rio de Janeiro, que o estande e as novas idéias chamaram a atenção da galera. Vale lembrar que originalidade é marca da 2cabeças: sua primeira cerveja produzida foi uma black IPA e não a costumeira blonde que todo micro cervejeiro faz para agradar ao mercado.

Outro aspecto inusitado é que a 2cabeças não tem fábrica própria e sempre faz sua produção – depois de inventada nos “laboratórios” da empresa – em parceria com outra cervejaria amiga. Com a Brewpub Penedon lançou no Mondial a sazonal X-Imperial Lager. Antes já havia feito a Saison à Trois com a cervejaria Invicta. No Mondial foi apresentada também a X-SessionIPA – que entra em produção contínua - com 4,7% de álcool, como as cervejas industrializadas, mas com 45 IBU (unidade de amargor) trazendo a potência de uma American IPA, deixando-a ainda mais refrescante e aromática, ideal para o clima em nosso país.

Fizemos uma entrevista com a 2cabeças para saber mais de sua história e seus planos. Um prazer termos no mercado gente que ousa, faz de seu sério trabalho uma provocação e se diverte com isso \o/

 

Lupulinas – A 2cabeças marcou sua história pela ousadia e quebra de paradigmas que cercam o mundo cervejeiro artesanal. Conte um pouquinho sobre o inicio da empresa e a função de cada um da diretoria da 2cabeças.

2cabeças – A 2cabeças surgiu com dois cervejeiros caseiros, Bernardo Couto e Salo Maldonado, e no início de 2012 lançamos o primeiro lote de Hi5 no mercado. O sucesso foi grande, e aí começamos a nos estruturar melhor. Depois de algum tempo, conseguimos estabilizar a produção, lançar a Hi5 e a Maracujipa em garrafas. Mas nunca queremos perder a alma do cervejeiro caseiro, que é de inovar e ter compromisso apenas com qualidade. No início de 2013 tivemos a entrada da cervejeira Maíra Kimura, o que nos ajudou a crescer mais e deixou nosso time mais forte. Então, hoje dividimos muito as funções e tentamos agir o mais coletivamente que podemos, mas podemos dizer, em linhas gerais, que o Salo cuida da área comercial, financeira e novos projetos; Maíra da operação, logística e gestão e Bernardo da produção de cervejas e comunicação da 2cabeças.

Lupulinas – Afinal são três ou duas cabeças?

2cabeças – Duas cabeças pensam melhor que uma! Acreditamos no coletivo, na combinação de elementos, no equilíbrio. O nome veio disso, nunca foi por sermos duas pessoas a fundar a cervejaria. Mesmo no começo, houve a possibilidade de entrar um terceiro elemento, e não foi cogitado mudar o nome. Há uma associação às pessoas, que é natural, mas esperamos que ela perca força pois, como falei, o coletivo sempre vence. Uma empresa não é apenas o espelho dos fundadores, dos sócios ou de quem for. É o resultado de um trabalho de várias pessoas, que vão passando pela empresa.

Lupulinas – Vocês foram muito ousados em destruir a marca 2cabeças, que já começava a se firmar no mercado cervejeiro alternativo, para adotar o X (sem marca). Por que essa decisão?

2cabeças – A gente não matou o nome 2cabeças, apenas a logomarca e os rótulos. Achamos que era o momento de mudar, de buscar outros caminhos em termos visuais, e ainda há novidades que vem por aí. Aguardem cenas do próximo capítulo.

Lupulinas – Vocês vão dar novos nomes às suas já consagradas garrafinhas. O quê vai virar o quê, quais as novidades e qual tipo de cerveja não vai mais ser feita por vocês.

2cabeças – Dentro desse conceito de não marca, deixamos as cervejas com nomes genéricos, como X Black IPA. É, também, uma homenagem aos cervejeiros caseiros que não batizam suas cervejas, muitas vezes, assim como não rotulam. Mas, naturalmente, não vamos abandonar os nomes das cervejas definitivamente. Hi5 e Maracujipa tem uma história muito importante e verdadeira para a gente. Fora elas, lançamos nossa X Session IPA, que está inserida neste momento sem marca e depois entra em nova fase. Ela é uma versão de IPA mais leve, com foco em drinkability, mas sem perder o caráter de lupulagem extrema que uma IPA pede. Ela será mantida na nossa linha fixa. Já era uma receita que planejávamos lançar há meses e finalmente conseguimos!

Lupulinas – “Trocamos a marca por mais lúpulo” é o slogan da mudança da empresa. Vocês acham que esta paixão pelo lúpulo veio pra ficar no mercado cervejeiro artesanal?

2cabeças – Acho que o lúpulo representa a quebra de paradigma das cervejas de massa. A atitude, a vontade de ser diferente. Dentro deste segmento, ele é muito importante, e está cada vez mais em alta. Ele é o tempero da cerveja, e muita gente não gosta de comidas insossas como as congeladas de produção de larga escala. Muito melhor a lasanha da vovó, cheia de recheio e temperos, do que algo genérico para microondas, massificado e feito com foco em critérios como baixar custo, ser o mais neutro possível e ter um índice de rejeição mais baixo possível. Buscamos o melhor, e o melhor para mim pode desagradar a muitas pessoas. E isso é ótimo, viva a pluralidade! Não acreditamos apenas no lúpulo, mas na diversidade e na ousadia. A acidez é algo que virá, assim como a utilização de insumos locais em maior quantidade.

Lupulinas – Qual o principal entrave para baratear as cervejas artesanais brasileiras?

2cabeças – O imposto é cruel e não faz distinção do tamanho das empresas. Então, produtos mais caros de se produzir geram impostos mais altos e assim chegam ainda mais caros para o consumidor final. Para vender uma long neck de cerveja artesanal, uma cervejaria acaba pagando, muitas vezes, só de imposto mais que o preço de uma cerveja de massa custa no mercado. E aí, temos outros impostos embutidos no custo, como questões trabalhistas (há muitos mais funcionários por litro produzido em relação às grandes), custo de importação de insumos, fundamental já que não há lúpulos nem maltes especiais de origem. Temos a famigerada ST, que gera uma bitributação quando o produto sai do estado produtor. O custo de frete é alto no país. É uma bola de neve.

Lupulinas – Qual a principal dificuldade para distribuir suas cervejas?

2cabeças – Ter uma produção regular, já que não temos cervejaria própria, e acompanhar mais de perto a distribuição fora do Rio de Janeiro. Somos pequenos ainda, então acabamos não tendo braços para estarmos mais próximos. Mas temos distribuição hoje em cinco estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Já houve interessados em distribuir para outros estados, mas por enquanto estamos focando nestes para manter um controle melhor. Elas acabam chegando a alguns outros estados através de clientes que compram direto da gente, mas é algo pequeno ainda.

Lupulinas – Quem faz a distribuição da X para todo o Brasil?

2cabeças – Da 2cabeças, né? :) Não temos distribuição nacional, como falei acima. No Rio, temos a nossa distribuidora. Nos estados citados, temos representantes regionais que fazem este trabalho em parceria com a 2cabeças. Nos estados onde não temos distribuição, nossa atuação se resume a compra direta da nossa distribuidora no Rio de Janeiro. Desta forma, hoje há cervejas da 2cabeças no Mato Grosso e no Piauí.

Lupulinas – Finalmente, agora, aquele “furo de reportagem” para as Lupulinas… ;)

2cabeças – Estamos preparando mudanças e tudo isto foi planejado. Trocamos a marca por mais lúpulo por que nós quisemos. Não fomos processados, como muitos falaram. Não brigamos entre nós. O Eike não comprou a 2cabeças. Não vamos mudar as receitas das nossas cervejas que estão no mercado… ufa!

Bier Diversidade

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caminhao

Afinal, como podemos chamar essas cervejas diferentonas aí que vocês gostam? São especiais, premium, gourmet? Essas perguntas sempre acompanham quem gosta de cervejas artesanais. Mas, por mais difícil que seja definir, sabemos o que elas não são: não são gourmet, nem especiais e muito menos premium.

Cervejas artesanais são geralmente produzidas por micro cervejarias, fora do esquema da Grande Indústria. Elas, em sua grande maioria, não usam malte de milho ou arroz nas suas receitas, ao contrário das cervejas “normais” da Grande Indústria. As cervejarias artesanais apostam na variedade de estilos, de receitas milenares a novas misturas, sempre fugindo da padronização da Grande Indústria que só consegue dividir suas garrafas entre louras, ruivas e morenas.

Micro cervejeiros no mundo inteiro tentam encontrar uma definição exata para poderem se organizar e enfrentar no mercado a Grande Indústria. O consenso sobre o que é afinal uma cervejaria artesanal (craft brewery) ainda não foi alcançado. Isso porque as bebidas, os processos de feitura e o tamanho dos negócios variam muito e nem sempre uma regra pode ser estendida a todas às artesanais (algumas belgas excelentes como a Gouden Carolous Classic, por exemplo, levam milho na sua composição).

Nós, Lupulinas, como roqueiras que somos, amamos as artesanais pelo seu espírito de cerveja de garagem, cerveja de raiz, cerveja moleque, independente e underground. Sim, existem artesanais que são produzidas no método champenoise usando rolhas e, por serem muito caras, acabam cultuadas como símbolos de status. Mas existem aquelas como as da Caracole, que conhecemos no interior da Bélgica, baratas (para o padrão europeu) e consumidas por camponeses locais. São fabricadas ali mesmo, numa micro cervejaria de beira de estrada e com rótulos criativos e lisérgicos.

Cerveja Artesanal também é Rock

A garagem e o underground estão completamente entrelaçados na mais recente cultura cervejeira artesanal. Já é praxe lançarem rótulos homenageando bandas como AC/DC, Iron Maiden, Pearl Jam, Sepultura,Raimundos, Ozzy, Wander Wildner, entre muitas nacionais e gringas. Não é raro encontrar um roqueiro entre os apreciadores ou fabricantes de cervejas artesanais, como o baterista da banda Nenhum de nós, Sady Homrich, que assina uma coluna e organiza eventos sobre a cultura cervejeira.

Cerveja Artesanal também é Arte, Literatura e Nerdice, tudo junto.

Não bastasse a Flying Dog ter sido fundada por um astrofísico aventureiro, George Stranaham, a cervejaria homenageou o escritor Hunter Thompson na sua Gonzo, uma Imperial Porter bem preta e forte. Para quem não sabe, Thompson inaugurou um tipo de jornalismo, apelidado de Gonzo, em que a imparcialidade e a objetividade são completamente abandonadas e o autor se mistura à história contada. Ídolo de toda uma geração de jornalistas e escritores, Hunter Thompson conheceu o dono da cervejaria Flying Dog quando se mudou para uma fazenda vizinha à de George, no Colorado. Segundo o site da cervejaria, eles “tornaram-se grandes amigos e conversavam  sobre explosivos, armas avançadas, política, futebol, uísque e cerveja”. Completando a parceria pop-rock-literária, a Flying Dog investe na arte dos rótulos – outra característica das artesanais – e todos eles são assinados, desde 1997, pelo artista gráfico Ralph Steadman.

Cerveja Artesanal também é Cultura Local

Outra boa idéia das artesanais é incorporar alimentos e iguarias locais e/ou sazonais às suas receitas. Aqui no Brasil, isso tem resultado em muitas e agradáveis surpresas. As cervejas paraenses Taperebá Witbier e IPA Cumaru, da Amazon, contém cajá e baru, respectivamente. A Cauim, da Colorado, leva mandioca e a MaracujIPA, da carioca 2Cabeças, usa maracujá na fase do dry-hopping.

Nosso destaque neste quesito vai para a Cacau IPA, feita pela curitibana Bodebrown, do pernambucano Samuca Cavalcanti, um apaixonado pela cultura artesanal cervejeira. Para começar, o logo da cervejaria é um bode, animal que as Lupulinas curtem bastante. Mas não é só isso: a micro cervejaria tem feito algumas de nossas artesanais brasileiras preferidas, entre elas a Perigosa, a Hop Weiss e a Cacau IPA, eleita a melhor India Pale Ale do Brasil durante o IPA Day Brasil de Riberão Preto em 2013 (estivemos lá e provamos da bica). Feita em parceria com a americana Stone Brewing (sim, parcerias entre artesanais também são comuns), a Cacau é escura e densa. A ela é adicionado cacau de Ilhéus em “nibs” (flocos da amêndoa do cacau seca e torrada), mas não tema: os lúpulos cítricos não deixam a cerveja ficar doce ou enjoativa. Pelo contrário, a Cacau IPA é amarga na medida, aveludada e perfeitamente equilibrada.

Estas são algumas das características da cerveja artesanal. A diversidade é a chave contra a padronização. Querer comparar uma pilsen industrializada com uma artesanal é como dizer que uma porção de chicken nuggets equivale a uma galinhada caipira. Preferimos galinhada.