Marcelo Carneiro & Colorado: um papo com o dono da cerveja do ursinho (parte dois)

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texto e edição: Cilmara Bedaque

fotos: Cilmara Bedaque e Marcelo Carneiro

Vamos à segunda parte da entrevista que fiz com Marcelo Carneiro, dono da Cervejaria Colorado, conhecida por todos pelo mascote do ursinho. Não leia esta segunda parte sem ter lido a primeira para captar a fluidez do papo.
Cilmara – Você falou que compra quantas toneladas de rapadura atualmente?
Marcelo – Uma tonelada.

Cilmara – Quantos litros você produz hoje e quais são os planos pra 2015 porque eu sei que você está expandindo a fábrica… Aí na mesma pergunta, tudo junto, hoje a empresa não é mais familiar, você deu uma profissionalizada na empresa. Fala sobre tudo isso, Marcelo…

Marcelo – A Colorado faz de 150 a 200 mil litros num mês bom. Nós terceirizamos a produção em mais duas indústrias, a Cevada Pura e a Lund. Tudo isso tem uma história bacana e eu sou orgulhoso dela. Por que eu terceirizo na Cevada Pura? O Alexandre, dono da Cevada Pura, foi o primeiro estagiário da Colorado. A Colorado é também uma incubadora de outras empresas. O Rodrigo, da Invicta, começou como motorista da Colorado. Foi prático, cervejeiro da Colorado, hoje tem sua própria cervejaria. A Lund é uma cervejaria bem pequena de Ribeirão, tem os tanques que a gente precisa pra algumas tiragens e a gente faz com eles, também porque são da nossa cidade. Em Ribeirão Preto a gente tem uma cena cervejeira muito bacana porque todo mundo se ajuda. Às vezes falta fermento, ou falta garrafa e a gente tenta sempre, dentro do possível, se ajudar um ao outro. Estamos sempre nos encontrando, bebendo juntos. É muito importante que nas outras cenas cervejeiras, porque a gente tem outros focos, tem Curitiba, tem Minas Gerais, é importante haver esse entendimento. E eu acho que isso está acontecendo nas outras cidades do país.

Quanto a se profissionalizar, não tem jeito, gente, eu fico falando isso. Ficamos muito contentes de ganhar medalha, mas mais bacana é você conseguir fazer uma cerveja com repetibilidade todo o dia, entregar, pagar os seus impostos… Isso é uma coisa dura de dizer porque é muito fácil ficar falando que vivemos num país injusto… Eu comecei a me rebelar contra os impostos, mas eu vi que quando você não paga, você não tem direito nenhum. Então comecei aos trancos e barrancos a pagar o meu, eu meio que fui até voluntário para colocar o SICOBE na minha fábrica e isso me custou muito, mas por outro lado me fez aprender, me obrigou a me profissionalizar, porque quando você tem o SICOBE você está pagando imposto até pela garrafa quebrada, por todos os seus amadorismos.

dica para o leitor: SICOBE é um sistema que a Receita Federal coloca na fábrica que fotografa cada garrafa e manda para a própria Receita online. É um sistema de controle que a indústria de armas no Brasil não tem.

Marcelo – Eu achava uma coisa totalmente orwelliana, mas se for um instrumento de justiça não me incomoda ter. A gente foi falar com o governo, quando eu era presidente da ABRACERVA (Associação Brasileira de Cerveja Artesanal), fui falar pelos menores e pelos maiores que eu. Estávamos conversando e o governo foi bem claro: se vocês não se legalizarem não vai ter conversa, não vai ter diminuição de imposto, vocês precisam ser vistos como pessoas sérias. Aí a gente propôs para eles um sistema em que o produtor que faz até 100 mil litros de cerveja vai ter um selo na garrafa, igual tem a cachaça e o vinho. Até 100 mil litros, que é a grande maioria do mercado. E os maiores vão ter o SICOBE.

Cilmara – Essa é a pergunta que eu ia fazer para você na seqüência. O mercado de artesanal está crescendo em todo o mundo. Agora, eu sei também que em vários lugares, sei mais dos Estados Unidos, existe uma isenção de impostos fantástica até o primeiro milhão de litros.

Marcelo – Lá é muito mais do que isso. O primeiro milhão de litros foi o que a gente conseguiu aqui. O primeiro milhão tem 10% de abatimento, o que ainda é pouco. Lá eles têm proteção até 3% do mercado e ninguém ainda chegou em 3%. A Samuel Adams, que é a maior micro cervejaria americana, tem 2 virgula alguma coisa do mercado. E é a maior cervejaria puramente americana. Isso é para mostrar que todos os governos estão preocupados com esse fenômeno da concentração do mercado cervejeiro. Por quê? Eu não quero assim criticar só a desigualdade, eu não sou contra a desigualdade desde que ela sirva a um bem comum. Essa fala não é minha, é do Thomas Piketty, esse cara que escreveu aí o “Capital no século 21”. Tem que haver um espaço para a livre iniciativa. Porque senão é ruim para o agricultor que está lá embaixo, é ruim para a grande indústria também porque ela acaba sucumbindo diante do peso dela mesma. Ela acaba mal vista. Ela é culpada de todos os males do álcool, ela não pode produzir, por exemplo, todos esses bens culturais que as pequenas podem vir a criar. A cerveja tem que ser equiparada ou fazer um trabalho melhor do que o do vinho. Eu acho que o vinho é mais bem visto como produto. Nós, pequenos, temos que trabalhar também nessa parte de responsabilidade social e alçar bandeiras maiores, como mobilidade urbana e embates intelectuais maiores do que a grande indústria.

Cilmara – Você foi o primeiro presidente da ABRACERVA que, finalmente conseguiu se formar. Muito se lutou para que ela conseguisse existir até.
Marcelo – Isso
Cilmara – Vocês chegaram a Brasília e começaram a argumentar as leis que seriam aprovadas ou não. Eu queria que você contasse pra gente qual foi a vitória e qual foi a maior derrota da associação e qual a grande dificuldade que você vê na aprovação das idéias que a associação defende lá dentro do governo

Marcelo – A maior vitória foi, nessa legislação que esta para vir, ser reconhecido finalmente como um animal diferente. Não é possível que o governo não estivesse vendo que no Brasil tem um mercado só com quatro empresas. E as que fazem cerveja especial têm por volta de 1% deste mercado. Aí tem 300 empresas, 100% nacionais, sem motor de banco, que são iniciativa da classe media brasileira, que justamente é o pessoal que montou, ao longo dos últimos anos, e que quer ter acesso. Não quer só consumir, quer produzir também.

Cilmara – Empregam quantas pessoas, Marcelo, você tem essa noção?
Marcelo – Muito mais pessoas por hectolitro do que uma grande cervejaria. Eu não tenho essa noção exata.
Cilmara – Porque é menos automatizada?
Marcelo0 – Exatamente, eu posso falar por mim, eu emprego 70 famílias. Se for extrapolar a Colorado para as grandes, é muito, muito, muito mais. Vai alem da questão do imposto. Vai para a questão da livre escolha do consumidor, o consumidor tem direito de escolher o que quer beber. A classe média tem direito a querer ter a sua indústria. Por que o cara que tem seu dinheirinho pode abrir uma padaria, mas não pode abrir uma cervejaria? Porque há uma legislação que foi desenhada só pros grandes. São exatamente os mesmos ingredientes. Não tem lógica. E somos nós que podemos quebrar a hegemonia que existe no consumo do álcool se a gente trabalhar direito.

Cilmara – E qual foi a maior derrota?
Marcelo – A maior derrota é as pessoas que me perguntam qual é o maior concorrente da Colorado. É o mesmo, é o maior concorrente de todas as pequenas. É a concorrência da ignorância. É as pessoas acharem que a cerveja e uma coisa monolítica, que não tem nada por trás da cerveja, que só tem gente querendo ganhar dinheiro. Que a cerveja não tem história, que a cerveja é uma bebida amarela com um pouco de malte e só gente ambiciosa por detrás. Não, a cerveja tem muita riqueza por trás, a cerveja tem muita história. A cerveja não estaria do lado da humanidade há oito mil anos se não tivesse essa vantagem. Até às pessoas que têm uma objeção religiosa quanto ao consumo, eu queria lembrar a essas pessoas que o primeiro milagre que Jesus Cristo fez foi multiplicar a bebida alcoólica. É lógico que aqui a gente não está defendendo o excesso, existem as famílias que são destruídas pelo excesso de álcool… A gente está defendendo que a cerveja aproxima as pessoas. Mas isso acontece com todas as coisas, às vezes você dá um carro para uma pessoa e ela fica se sentindo a rainha do mundo e atropela outra. Então vamos proibir os carros? Vamos olhar as coisas sob a perspectiva apropriada.
Na Europa, vários mosteiros fazem cerveja e os monges bebem.

Cilmara – Tive o prazer de visitá-los com a Vange, foi ótimo. Inclusive os ciclistas bebem. Era muito engraçado, a gente na Bélgica, em um restaurante de mosteiro, de repente uma turma de ciclistas, todos paramentados, entram, tomam uma tacinha e continuam o passeio de domingo, a viagem que eles estavam fazendo…

Marcelo – A cerveja não iria estar com a gente há tanto tempo se não fizesse bem. Eu li um livro francês que um médico compara todas as causas possíveis de morte em gente que bebe e em gente que é abstêmia. E provava que os abstêmios morrem mais de causas diversas tudo, inclusive, infelicidade, tensão, stress, suicídio, que os que bebem moderadamente.

Cilmara – A Colorado vai crescer em 2015? Vai ter fábrica nova?
Marcelo – Vai ter fábrica nova. Crescer é importante, mas crescer sem perder a ternura. (risos)
Cilmara – vocês vão duplicar a produção? Quais são os números?
Marcelo – Olha eu não sei, porque a gente não tem motor de banco, não sou um grande financista. Vou crescer na medida em que a minha grana der. Eu agora tenho espaço, disso estou gostando muito. Vou ter meu poço de água próprio, estou muito contente com isso, lá em Ribeirão.

Cilmara – Isso é ótimo, porque é uma água boa também, né?
Marcelo – Vem do Aqüífero Guarani direto. Estou numa pegada ecológica também na fábrica. Enfim, estou muito animado porque fiquei muitos anos nesse lugar pequeno, batalhando, muita gente lançando coisa nova e a Colorado ali, grande no nome, mas pequenininha na fábrica e agora esse ano, puf, a gente vai ter espaço de novo!

Cilmara – Pra 2015 então continuam os quatro rótulos fixos, a Indica…
Marcelo – A Appia, a Demoiselle, a Cauim e a Vixnu que agora entrou também nas fixas. A gente vai fazer algumas colaborativas e tal. A Colorado não lança muitos rótulos. Ela tem uma coisa diferente, que ela acha que cada cerveja é como se fosse um filho. Isso é uma filosofia nossa, combinada com o Randy, desde o começo. Ele disse “cada cerveja tem que ter um nome e uma história” e a gente acredita nisso. A gente não lança muito, somos um clássico das cervejarias.
Cilmara (rindo) – São os Paralamas das artesanais…
Marcelo – Isso. A gente não lança muita coisa, mas tenta lançar coisas boas.

Cilmara – Para o ano virão algumas sazonais então. Não necessariamente as mesmas deste ano?
Marcelo – Está vindo a colaborativa que a gente fez com a Tupiniquim e a norueguesa Nogne Ø, que tá muito boa, uma Saison, a Ybá-Ia, com adição de uvaia. Com a St. Feuillien, lá da Bélgica, fizemos outra Saison, a Marguerite que, inclusive, homenageia a contribuição feminina para a história da cerveja. Isso tudo pra gente é um aprendizado porque a gente está querendo fazer a nossa própria Saison. Usamos esse conhecimento dos outros porque mais tarde a gente vai fazer a nossa. Talvez ela entre em linha, talvez ela seja uma sazonal como o próprio nome diz. O futuro vai dizer…

E aí continuamos nosso papo, mas adentramos outros assuntos que não têm nada a ver com a pauta desta entrevista. E, dessa maneira, pude conhecer mais demoradamente e entender porque Marcelo é um dos lideres do movimento da cerveja artesanal brasileira. Pude ver também como a experiência nos transforma em dinos, mas com inteligência e mobilidade a renovação está na virada da esquina. Longa vida a Colorado!

P.S.: No meio cervejeiro todos sabem que a Ambev está cercando as cervejarias de Ribeirão Preto. A gigante quer ter uma base nesta região que é rica em tradição e em fábricas importantes. O Lupulinas bebe e observa… ;)

 

Marcelo Carneiro & Colorado: um papo com o dono da cerveja do ursinho

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texto e edição: Cilmara Bedaque
fotos: Cilmara Bedaque e divulgação
transcrição: Luciana Moraes

Dia desses marquei um encontro com Marcelo Carneiro, dono da Cervejaria Colorado, para falarmos sobre ele, o começo da fábrica e os planos para 2015. O papo correu cariocamente amigável e solto como se nos conhecêssemos há muito tempo. Vamos saber um pouco da história de uma das maiores micro cervejarias do Brasil.

Marcelo – Eu queria comparar o que está acontecendo com a cerveja artesanal com o que aconteceu com a música, com o rock, há alguns anos atrás.
A música hoje em dia se financiou e virou um negócio. É uma coisa amorfa e não tem um espaço de contestação como tinha antigamente. Por outro lado, o mundo da cerveja artesanal está virando uma espécie de um rock engarrafado.

Cilmara – É engraçado você falar isso porque o Lupulinas era feito pela Vange e por mim e sempre nos atraiu, quando a gente começou a entrar nesse universo de cerveja artesanal, uma espécie de clima de ‘rock de garagem’ que a gente viveu nos anos 80. Sentimos de cara essa similaridade. Os “grandes”, os que continuaram alternativos…Tem um monte de coisas que a gente pode colocar como muito parecidas…

Marcelo – É verdade. É totalmente essa briga contra o mainstream, contra a mesmice. Com as vaciladas que os artistas também davam, antigamente.

Cilmara – Conta para o nosso leitor, que já deve reconhecer a Colorado nas prateleiras dos supermercados e dos armazéns especializados, como você teve a idéia de montar uma cervejaria e como foram os primeiros anos. A Colorado é de 1995, né?

Marcelo – Isso, 95. Vinte anos já! Eu nem sabia o que eu estava fazendo direito, na verdade. Quem botou a gente nessa onda foi o Cesáreo Melo Franco, esse meu amigo que fez a comparação há poucos dias no Facebook dos dois movimentos do rock e da cerveja e eu achei que era muito pertinente a história. Mas eu também não sabia que estava fazendo rock. Eu achei que estava fazendo uma coisa muito fácil, tomar cerveja… Fui para a Califórnia, eu me lembro da primeira Indian Pale Ale que eu tomei: a Blind Pig, Porco Cego. Achei o nome muito engraçado e essa cerveja até hoje existe. Fui lá e comecei em Ribeirão num modelo muito diferente do que estava sendo feito no Brasil. Na época, estavam abrindo várias cervejarias fazendo cerveja Pilsen, filtrada e não filtrada, ou cerveja Bock, não sei que e tal. Eu vim e trouxe todos aqueles sabores diferentes, influenciado pelo que estava acontecendo lá fora.

Cilmara – Na Califórnia principalmente.
Marcelo – Isso. Há 19 anos eu já tinha Indian Pale Ale, eu já tinha Red Ale, eu já tinha uma Stout, eu tinha uma California Steam… Eu tinha uns estilos totalmente esquisitos e usava às vezes uns lúpulos que hoje nem são tão esquisitos, mas na época eram desconhecidos por aqui. E Ribeirão Preto ainda era interior, sem informação, todo mundo achava aquilo muito esquisito, muito estranho. Tinha uma fábrica grande com uma tradição grande lá, que era a fabrica da Antártica, o orgulho municipal.

Cilmara – E você escolheu Ribeirão por quê?

Marcelo – Eu escolhi Ribeirão porque eu ia pra lá, meu pai tinha uma terrinha lá, eu passava minhas férias lá, eu gostava da vida do interior

Cilmara – Não foi nada que te levou da fama da cerveja lá, nada…

Marcelo – Eu era diferente, eu era um carioca lá, era novo, tinha vinte anos, nossa, eu agradava…

Cilmara – Carioca em Ribeirão (risos). No início a Colorado era uma empresa familiar também…

Marcelo – Totalmente, era eu e minhas irmãs

Cilmara – E aos poucos você se tornou o único dono…

Marcelo – Isso, porque eu vi que fiquei totalmente infectado com o vírus da cerveja, que não é a cerveja, é mais que a cerveja. É um produto muito forte a cerveja. Ela une os povos. Se você pensar que construíram as pirâmides pagando os funcionários com cerveja…

Cilmara – É uma das bebidas mais antigas da humanidade, está por trás de tudo.

Marcelo – Isso, ela é uma das mais antigas. Na guerra, nas revoluções, sempre tinha a ração de cerveja para os soldados.

Cilmara (se entusiasmando risos) – Na arte. O que seria do pintor sem cerveja!

Marcelo (rindo muito) – Tem pintores regados a cerveja! Tem Bruegel! A cerveja é uma coisa muito forte senão ela não estaria na história da humanidade há oito mil anos! E ela surgiu espontaneamente em vários lugares do mundo! E a gente tem uma pegada, só um olhar europeu, mas os índios faziam a sua cerveja, os chineses faziam cervejas, têm uma história só deles. Nós no Brasil temos uma história só nossa, os índios faziam cerveja de mandioca e, infelizmente, não deixaram vestígio escrito… Essas bebidas fermentadas estão junto da humanidade há muito tempo, alguma razão evolutiva tem para isso acontecer.

Cilmara – Quando você incorporou nos rótulos que estão agora no mercado os produtos nacionais, a mandioca, o mel, a rapadura, tudo que você usa nos seus rótulos fixos, você quis de certa maneira conseguir fazer uma cerveja brasileira?

Marcelo – Isso. Foi assim “bacana, até agora eu copiei, eu aprendi bastante, tal. Agora chega, vamos fazer o nosso.” Porque é a cara do Brasil, nós também somos um país de imigração, todos nós temos um pé na Europa, e a partir de certo momento, a gente decidiu ser brasileiro aqui. A Colorado decidiu “vamos fazer cerveja com o que a gente tem em volta”. Os EUA fizeram assim e a Europa fez assim também. Os belgas fazem cerveja com açúcar de beterraba porque lá tem beterraba, os alemães têm a lei de pureza porque lá tem muito malte e lúpulo. Os ingleses fazem a cerveja deles muito maltada porque o malte deles tem algumas características e a gente tem que fazer a nossa cerveja com a nossa cara. A partir deste momento, em cada produto que a gente faz, tem um produto brasileiro, uma matéria prima local.

Cilmara – Você falou em fazer uma cerveja com a nossa cara. A Colorado tem uma das maiores marcas do mercado. A programação visual é muito boa, aquele ursinho é um sucesso quando aparece nas feiras e festivais, todo mundo quer tirar uma foto com aquele ursinho, que é um ursão na verdade… Eu queria que você falasse um pouco disso, como foi o desenvolvimento da marca e os rótulos, quem fez etc.

Marcelo – Quem fez foi o Randy Mosher.
Cilmara – Que é um dos maiores designers de rotulo do mundo.
Marcelo – E que eu descobri por acaso na internet. Eu já tinha lido os livros dele e estava falando com ele na internet sem me tocar que ele era o Randy que eu lia. O que foi uma vergonha porque eu quis ensinar padre nosso ao vigário, tentando explicar o que era uma India Pale Ale para ele… Mas aí…
Cilmara – Você encomendou o desenvolvimento da marca?
Marcelo – Dos rótulos. Falei pra ele que tinha essa idéia de colocar as coisas brasileiras, ele me deu outras idéias. Ajudou no desenvolvimento da rapadura me perguntando: “por que você não usa aquele açúcar brasileiro?”

Cilmara – Aaaahhh, ele entrou até no desenvolvimento da cerveja?
Marcelo – Sim, foi fundamental. Ele falou “aquele açúcar brasileiro” e eu “pô, qual açúcar brasileiro?” “rap rap rap.. rapadura!” “rapadura, cara, porra, genial! é mesmo!” (risos) Hoje um dos orgulhos da Colorado é que a gente comprava rapadura de 30 em 30 kg e hoje compramos 1ton de rapadura da mesma família, do mercadão municipal. A gente não compra de uma grande indústria, a Colorado é super ligada nessas coisas. A Colorado ajuda também a sustentar um cinema, que é o Cineclube Cauim de Ribeirão Preto, um cinema de uma tela de 35m, que é um cinema que tem sessão de graça pra criança, quatro vezes por dia, pra rede municipal de escolas da região. Este é um lado desconhecido da Colorado, que a gente nem se jacta muito disso.

Cilmara – Mas faz parte dos mandamentos do que seria a cultura da cerveja artesanal, né? A valorização da cultura local, do produtor local, os princípios básicos mesmo desse movimento, porque é um movimento.

Marcelo – Exatamente. A gente faz parte desse movimento. O Cineclube Cauim já existia antes da gente. Deixar isso claro, o Cauim é uma organização que existe em Ribeirão Preto há 25 anos. Eles têm um bar na porta do cineclube, tem vários movimentos culturais que vão lá, do cinema brasileiro, geralmente tem várias estréias lá, e os diretores debatem com o público depois do filme assistido.

Cilmara – Vange e eu fomos à Dogfish Head, no estado americano de Delaware, e em volta, na cidade toda, eles promovem peça de teatro, cinema, feira, showzinho, gente famosa em um palquinho bem pequeninho dentro do bar. Um clima super maneiro assim, de cultura e produção local.

Marcelo – É por isso que a cerveja é o rock de hoje em dia, é por isso que tem que haver as novidades, a gente não pode deixar vulgarizar. A cerveja artesanal tem que ter essa função social.

Cilmara – Eu sei que a Colorado sempre apoiou as Acervas e os paneleiros. É essa idéia de apoio geral de toda a teoria que existe nesse movimento

Marcelo – Em novembro, durante o Mundial de La Bière, a gente tava lá no Rio, mas mandamos vários barris vazios pro evento que estava tendo na Bahia, dos cervejeiros caseiros, para serem cheios em outras cervejarias, para poder ter cerveja de micro no evento dos nanos. E agora a gente tá marcando no aniversário da Colorado fazer outro encontro de caseiros e micreiros cozinhando juntos.

Cilmara – Legal. Você falou que compra quantas toneladas de rapadura atualmente?
Marcelo – Uma tonelada.
Cilmara – Quantos litros você produz hoje e quais são os planos pra 2015 porque eu sei que tem planos de expansão da fábrica, aí na mesma pergunta, tudo junto, hoje a empresa não é mais familiar, você deu uma profissionalizada na empresa. Fala sobre tudo isso, Marcelo…

E Marcelo vai falar. No próximo post… Não perca.

(continua no próximo post)

 

Festival Brasileiro da Cerveja 2015

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Novidades e Lançamentos

texto de Cilmara Bedaque com colaboração de Luciana Moraes

Começa hoje, dia 11, e vai até dia 14 de março, em Blumenau, o Festival Brasileiro da Cerveja. Considerado o maior do país, ele reúne, na Vila Germânia, as maiores cervejarias do país além de produtores, jornalistas, especialistas e consumidores que podem beber mais de 600 rótulos. Paralelamente acontece o Concurso Brasileiro de Cerveja que elege as melhores entre seus estilos e o II Concurso Randy Mosher de Design de Rótulos, criado pela Colorado.

Muitos lançamentos estão programados para estes dias de muita festa e trabalho acompanhados de uma rica programação artística e cultural, palestras e ótima gastronomia.

Conheça então alguns dos lançamentos que serão feitos em Blumenau:

Bodebrown
Terceiro lançamento da linha Wood Aged Series, a edição limitada da Belgium Tripel Montfort foi envelhecida por 12 meses em barricas de carvalho norte-americano, anteriormente utilizadas em vinhos Merlot. São somente 3 mil garrafas, safradas, numeradas e com a assinatura dos irmãos Paulo e Samuca Cavalcanti.

A receita original, criada pela Bodebrown em homenagem ao cervejeiro belga Jacques Bourdouxhe, ao passar pelas barricas de carvalho, usadas em vinhos da Serra Gaúcha, ganha corpo e estrutura, ideais para a guarda longa, de até 10 anos. As garrafas já estão à venda no site da cervejaria.

Para o FBC, a Bodebrown vai levar 27 tipos de chopp diferentes, mas a Cupulate Porter é a novidade da Bodebrown, uma colaboração com a Amazon e a De Bora Bier.
No estilo Porter, a bebida escura recebe adição de Cupulate da Amazônia, espécie de chocolate feito com semente de cupuaçu, no lugar do tradicional cacau.

DUM Cervejaria
A DUM apresentará uma série especial da Petroleum, com maturação em barricas de Amburana, Castanheira do Pará e Carvalho Francês. A série será vendida em chope e num kit com quatro garrafas – uma da tradicional e três que repousaram em diferentes madeiras. Esta série é uma parceria com a cachaçaria Porto Morretes, sediada no litoral do Paraná.

Serão colocados à venda no Festival apenas 100 kits. Após o evento, outros 900 serão comercializados em todo o país, pela distribuidora Beer Maniacs.

A DUM também trará ao evento sua coleção de copos de cristal, feitos artesanalmente na Cristal Blumenau, com quadro modelos, um para cada cerveja – Grand Cru, Karel IV, Petroleum e Jan Kubis.

O merengue de Petroleum, um doce criado em dobradinha pela Gelataio, marca de gelatos italianos conhecida pelo namoro com o mundo cervejeiro, traz recheio de claras em neve batidas com Petroleum e cobertura de chocolate belga.

Para completar, haverá uma coleção de 5 camisetas, decoradas com artes que prestam homenagem às quatro cervejas de produção constante da cervejaria, bem como uma da marca com o mote que a DUM adotou: “Aqueles que tiverem paciência serão recompensados”

Das Bier
Para o Festival Brasileiro da Cerveja, a Das Bier levará um lote pasteurizado, com edição limitada da Stark Bier, cerveja premiada em 2014.

Way Beer
A Way Imperial Mangue Stout, com 84 IBU’s (Unidade de Amargor), 10,7% de teor alcoólico, 6 meses de maturação e muitos quilos de malte torrado em sua receita.

Tormenta
Será apresentada no Festival a Tormenta Wit Bear, uma witbier clássica com 15 IBU (Unidade de Amargor) e 5% de teor alcoólico, que leva na receita trigo não maltado, cascas de laranja frescas e coentro.

Bamberg
A cervejaria de Alexandre Bazzo, de Votorantim em São Paulo, vai apresentar a Weizenbock Helles, maturada por 5 anos em barris de vinho tinto.

Invicta
A novidade é a Transatlântica Sour. Ela tem 6% ABV e leva cajá-manga na receita.

Weird Barrel 
Os paulistas apresentarão a Weird Barrel Bad Luck, uma fruit beer com frutas vermelhas. Será a estréia da cervejaria no Festival.

Experimento Beer
Um lançamento que não estará no FBC, mas vale ser comentado é a Saison Umbu, resultado da associação da Experimento Beer com a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), através do estúdio DoDesign-s

A Saison Umbu tem 10% da fruta em sua composição e 6,2% de álcool. A acidez, doçura e perfume do umbu equilibram-se com os aromas e sabores frutados, cítricos e condimentados desta refrescante Saison – estilo de cerveja originado na Bélgica que, tradicionalmente, inclui em sua produção ingredientes como sementes, especiarias e frutas. Lançada no 7° Festival Regional do Umbu, em Uauá/ BA, dias 6 e 7 de março de 2015, a cerveja está disponível, por enquanto na Coopercuc.

Fazendo Cerveja na Calçada

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O Projeto Cerveja em Dupla é uma iniciativa da Acerva Paulista (Associação dos Cervejeiros Artesanais Paulistas) e do bar Empório Alto dos Pinheiros (EAP) que convida dois cervejeiros para inventar uma receita e fazer uma brassagem na calçada do bar. O clima é sempre divertido pela situação surpreendente e didático porque todos frequentadores podem chegar perto e ver o que está acontecendo.

Mas o que é uma brassagem? A brassagem nada mais é do que o cozimento do malte para extrair os açúcares necessários à fermentação da cerveja. Tem que ser feito o controle da temperatura do cozimento para uma melhor extração dos açúcares do malte. O grão moído é misturado com água quente num recipiente grande. Neste recipiente, o grão e a água são misturados para criar um mosto de cereais. Este líquido rico em açúcar ou mosto é então filtrado através da parte inferior do recipiente num processo conhecido como drenagem. Mas vamos conversar com a dupla convidada de novembro: Maíra Kimura, sócia da 2Cabeças e Fernanda Ueno, da Colorado.

Lupulinas – Qual estilo de cerveja vocês vão produzir?
Maíra – Uma Black Saison com Umê, que é uma frutinha japonesa…
Lupulinas – Que é a do umeboshi!
Maíra – Sim, que é a do Umeboshi!
(Umeboshi é uma espécie de ameixa japonesa em conserva muito ácida e salgada. É usado na cozinha e a ela se atribui vários poderes curativos)

Lupulinas – Descrevam para o leitor do nosso blog o processo que foi feito até agora e o que vem na seqüência, para que essa cerveja seja consumida.
Fernanda – A gente chegou aqui e já estavam arrumados o fogão e as panelas e já tinham moído o malte.
Colocamos a quantidade certa de água para esquentar e aí, quando chegou na temperatura adequada, a gente acrescentou o malte e ficou cozinhando por mais ou menos uma hora. Depois começamos a recirculação. No início o mosto está turvo, então precisa fazer a recirculação.
(Para fazer a recirculação, vamos extrair parte do líquido pela válvula extratora na parte inferior da panela e devolvê-lo à panela pela parte de cima, tentando mexer o mínimo possível na camada de malte. Assim esta camada de malte vai se transformar em um filtro natural, onde as cascas do malte vão ajudar no processo de contenção das partículas do líquido.)
Depois então fizemos a filtração do mosto primário e depois a filtração do mosto secundário, o enxágüe. Então colocamos em outra panela para ferver. Durante a fervura, adicionamos o lúpulo e, no final da fervura, o lúpulo de aroma, um lúpulo japonês chamado Sorachi Ace e também o Umê, ambos nos 5 minutos finais da fervura.

Lupulinas – Maíra, fala pra mim o que vai ser feito depois disso e especifica o tipo da cerveja, teor alcoólico, etc
Maíra – A gente vai agora resfriar o mosto com o uso de um chiller (máquina frigorífica). Colocamos o mosto ali dentro e vamos passando água gelada para resfriar até atingir a temperatura ideal para inocular a levedura. Se inoculamos a levedura com o mosto nessa temperatura, a levedura, que é um ser vivo, morre. Temos que baixar para menos de 30 graus. A levedura que vamos usar é específica para esse estilo de cerveja que queremos produzir, a Saison. Ela geralmente é clara, mas a gente fez uma escura. Para isso usamos uma fração do malte torrado. Portanto vai sair uma Saison Black com Umê que vai dar um toque bem ácido. Vai ser quase uma Sour. Queremos que ela fique bem seca.

Lupulinas – E quem teve a idéia de fazer essa cerveja?
Fernanda – A gente que pensou aqui.

Lupulinas – E ela nunca foi feita antes?
Maíra – Não, nunca.

Lupulinas – E depois desta brassagem como o processo continua?
Fernanda – Depois daqui, vamos resfriar, colocar a levedura e vai ficar um tempo fermentando. Pelo menos uma semana, mais de uma semana talvez. A gente quer que ela fique bem seca, tire todo o açúcar. Depois vamos colocar para maturar e na próxima Brassagem em Dupla, aqui no EAP, com outros dois cervejeiros convidados e a galera vamos beber. Fizemos 20 litros que vão ser engarrafados em garrafas de 500 ml.

Lupulinas – Maíra, é a primeira vez que você faz uma brassagem na rua?
Maíra – É, na rua é.
Lupulinas – E você, Fernanda?
Fernanda – Também. Assim na calçada, com todo mundo passando… É! Gostei!

Lupulinas – Fernanda, qual a sua experiência? O que você fez antes?
Fernanda – Eu comecei a fazer cerveja em casa em 2009, faz bastante tempo. Agora eu trabalho diretamente na produção na Colorado. Mas continuo na panelinha até hoje, eu adoro. A gente tem uma cozinha de 50 litros na Colorado para testes e quatro tanquinhos. Meus tanquinhos estão sempre cheios porque eu gosto bastante. É a parte que eu acho mais interessante fazer, receita nova, testar ingrediente novo…

Lupulinas – E você já é uma mestra cervejeira?
Fernanda – Ainda não, estou indo agora em janeiro para escola, em Daves, na California. Vou ficar 6 meses lá para fazer o curso de mestre. Em julho serei!

Lupulinas – Eu tô querendo implantar uma nova nomenclatura, a MestrA Cervejeira! (risas)

Lupulinas – E você, Maíra? Fala um pouco pros nossos leitores quem é você.
Maíra – Eu não trabalhava com cerveja. Minha formação acadêmica é de publicitária. Aí quando fui morar na Europa eu queria fazer uma coisa diferente, eu sempre gostei de cerveja e fui estudar na Inglaterra. Fiz um curso lá de quatro meses. Não sou mestrA-cervejeira, fiz um curso técnico. E eu me apaixonei, comecei a fazer um monte de cursos. Apareceu um curso de sommelier, eu fiz também. Aí quando eu voltei para cá, fiz o curso do SENAI também, de Tecnologia Avançada Cervejeira e to aí.

Lupulinas – Qual a sua função na 2Cabeças?
Maíra – Eu sou proprietária, uma das sócias. E sou cervejeira também.

Lupulinas – Você não fica com o departamento de publicidade da 2Cabeças?
Maíra – Na verdade a gente é muito pequeno, então todo mundo faz tudo.

Agora é esperar o resultado desta especialíssima Saison Black com Umê que vai receber um rótulo bem legas desenvolvido por Alexandre Nani, do ICBDesign.

PS – gracias a Luciana Moraes pela transcrição da entrevista

Fotos de Cilmara Bedaque

 

#VaiTerCopo

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mynameisze

Ainda é cedo e muitos outros mistérios devem pintar por aí. Mas algumas cervejarias artesanais brasileiras já estão fabricando suas beberagens em homenagem à Copa do Mundo 2014 e que serão lançadas durante o evento. Se, por um lado, a Copa é patrocinada por um Gigante da Indústria, os pequenos produtores se mexem para colher novos fãs e divisas do turismo que será gerado nas cidades-sede da Copa.

A cervejaria carioca 2Cabeças fez um gol de placa ao firmar uma parceria com a escocesa Brewdog, uma das artesanais mais descoladas da Europa. Juntas, elas estão fabricando uma Passion Fruit IPA chamada Hello, My Name is Zé e que será distribuída apenas no Brasil e para os sócios do programa Equity for Punks, da Brewdog. A “Hello, My Name is Zé”, apesar dos toques de maracujá, será bem diferente da já conhecida MaracujIPA, da 2Cabeças. Segundo Bernardo Couto, cervejeiro da brasileira, “Zé” difere da MaracujIPA em tudo: nos maltes, teor alcoólico e terá uma lupulagem bem mais agressiva. As Lupulinas aguardam ansiosas \o/

Outra parceria internacional é das cervejarias Bierland (SC, Brasil) e Antares (Argentina), provando que os maiores rivais do futebol sul americano podem se juntar pra fazer uma boa cerveja. Ainda sem nome, a parceria Bierland/Antares será uma cerveja do estilo American Pale Ale, produzida com lúpulos da Patagônia Argentina e extrato de guaraná brasileiro. Pra deixar todo mundo ligadinho no jogo.

A cervejaria mineira Falke Bier, por sua vez, resolveu homenagear os ingleses, que farão um jogo em Belo Horizonte, lançando uma cerveja (ainda sem nome) com maltes e lúpulos ingleses e a adição da nossa única, particular e brasileiríssima jabuticaba. Além do rótulo comemorativo, Marco Antonio Falcone, um dos sócios da Falke, disse estar preparado para receber os turistas em sua fábrica-bar, que fica bem próxima da capital e está mapeada nos beertours oficiais da cidade. Falcone disse que a produção da Falke será sextuplicada no período da Copa e que a fábrica-bar está investindo na capacitação dos funcionários para atender o público estrangeiro. Uma nova lojinha de souvenirs da cervejaria será criada. Porque todo mundo gosta de levar lembrancinhas pra casa.

Para saudar a seleção francesa de futebol que se hospedará em Riberão Preto, a local Colorado irá lançar uma variação de sua conhecida Cauim, mas com lúpulos franceses: a Allez les Bleus, grito da torcida francesa para empurrar sua seleção. A cerveja comemorativa será comercializada no Brasil e na França e a Colorado, para este fim, fez um comercial provocativo e de gosto duvidoso, explorando o corpo nu e o suvaco peludo da mulher francesa. Nós, Lupulinas, feministas, ficamos #chatiadas com essa nudez desnecessária (qual a necessidade disso?) usada na promoção de uma cervejaria que jamais colocou mulheres nuas ou sexies em seus rótulos (apenas o ursinho que amamos tanto). Por outro lado, gostamos de sovaco peludo, que não é prerrogativa exclusiva das francesas. Como faz parte da ação uma resposta dos franceses ainda não veiculada, aguardemos os desdobramentos desta campanha.

Além dos rótulos comemorativos (esses são apenas alguns que pescamos para vocês), algumas cervejarias artesanais estarão oferecendo tours para visitação e degustação em suas fábricas. Uma delas é a Bamberg, que fica em Votorantim (40 minutos de São Paulo) e que abrirá suas portas aos sábados para a turistada, a partir das 11 da manhã, por 30 reais e com guias que falam inglês (além dos de língua nativa). Fora da Copa, o dono da cervejaria, Alexandre Bazzo, também oferece estes tours em português. O passeio dá direito a uma degustação das cervejas produzidas pela Bamberg. O agendamento pode ser feito pelo e-mail contato@cervejariabamberg.com.br e maiores informações no www.cervejariabamberg.com.br

Daqui até ao início da Copa, devem surgir mais cervejas especiais e sazionais  e mais eventos cervejeiros relacionados ao evento. Estaremos acompanhando e contando pra vocês \o/\o/\o/

Diário de Bordo – Festival da Cerveja parte 1

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bodebrown stande

O Festival da Cerveja, em Blumenau, começou para nós na noite anterior com o lançamento da incrível Frosty Bison, a primeira American IPA da cervejaria local Eisenbahn. O novo rótulo é uma receita ganhadora do 4º Concurso de Mestre Cervejeiro, realizado anualmente pela cervejaria que, desta maneira, apresenta novos e promissores profissionais ao mercado.

A Frosty Bison foi criada pelo cervejeiro Fabert Araújo, presente ao evento, um cara simpático que costumava fazer suas receitas em casa..

Para acompanhar a nova American IPA a Eisenbahn lançou um copo especial, semelhante ao ~copo mágico~ da Dogfish Head porém um pouco menor. O copo ressalta as qualidades das IPAs e esta deve ter sido a razão para seguir os passos da cervejaria americana. Infelizmente os copos não estarão à venda. Mas atendendo a pedidos dos consumidores, a Eisenbahn resolveu envasar sua Frosty Bison em garrafas de 500ml: mais sabor em maior quantidade. Elas chegarão ao mercado ao preço de 16 dilmas.

O aroma dos lúpulos americanos da Frosty logo aparece. A espuma da cerveja é boa, consistente, o sabor é amargo-cítrico e corpo, leve e sem arestas. Mais uma ótima IPA artesanal brasileira para festejarmos.

Ah, e vale destacar o bar-fábrica da Eisenbahn. Comprada pela Kirin Brasil, a cervejaria mantém a filosofia das artesanais. Do bar, através de um vidro, podemos acompanhar todo o processo de feitura de suas cervejas. Se for a Blumenau, não deixe de visitá-la. Imperdível.

No dia seguinte fomos convidadas para o almoço no The Basement Pub que apresentou seu novo cardápio de burgers e hot-dogs. O bar pertence aos ex-proprietários da Eisenbahn, que agora se dedicam a produzir os tradicionais queijos fundidos de Pomerode. Deliciosos, aliás. Adoramos os hambúrgers, os queijos e as artesanais que os acompanharam. Outro pico para explorar em Blumenau.

O Primeiro dia do Festival

As Premiadas

Às 21 hs, muita alegria e comemoração com a premiação das 23 cervejas que receberam medalhas de ouro. Elas passaram de 80 pontos na avaliação geral e foram coroadas como melhores do Brasil nos seus estilos. A Stout Açaí, da Amazon Beer, recebeu 91 pontos entre os 100 possíveis e foi eleita a melhor cerveja do país.

Outro resultado muito comemorado foi o bicampeonato da Bodebrown, de Curitiba, que foi eleita de novo a melhor cervejaria do país. Foram 10 medalhas:  uma de ouro, seis de prata e três de bronze. Em segundo lugar ficou a Brasil Kirin com os premios da Eisenbahn e Baden Baden. E em terceiro a Gauden Bier, com os rótulos da Dum, Morada Etílica, Pagan e seus proprios de fábrica.

A cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto (SP), foi a que mais acumulou medalhas de ouro. Foram três: Colorado Ithaca, Colorado Vixnu e Colorado Ithaca Oak Aged.

Os lançamentos

A Baden  Baden, de Campos do Jordão, lançou uma levíssima Witbier. Com toques de coentro e aroma de laranja, estilo belga, esta Witbier é bem refrescante.

A cervejaria Wäls, de Belo Horizonte, preparou uma cerveja para nossa temperatura tropical: a Session Citra com um rótulo bem esperto.

A Schornstein, de Pomerode, apresentou a Blanche de Maison, uma Witbier clássica com coentro, laranja, tangerina e limão siciliano. De cara, arrebatou a medalha de prata de seu genero. Aliás, a Schorstein ganhou ouro com a sua magnifica IPA, já no mercado.

A Morada Cia Etílica, de Curitiba, mostrou a Hop Arábica, unindo o melhor da cerveja e do café.

A Dama Bier, de Piracicaba apresentou a Imperial Coffee IPA, com 9% ABV e adição de café de São Paulo.

A Way Beer, de Curitiba, levou a linha Sour me Not, composta inicialmente por três cervejas com frutas (morango, acerola e graviola).

A Baldhead, de Porto Alegre, fez sucesso com a Kojak IPA.

A Bamberg, de Votorantim, levou barris de  Franconian Raphsody, uma gostosa helles defumada.

A gaúcha Seasons agraciou os amantes de lúpulo com a XXXPA servida em chope. Nosso olhar também foi atraído pelas descoladas camisetas da cervejaria que – parabéns, Leo! – levou ouro pela Cirillo, prata pela Pacific e bronze pela Holy Cow.

Outro estande que nos chamou a atenção foi o da Lake Side, cervejaria que trabalha sem glúten e faz diversos tipos de cerveja. De cara levou o Ouro pela Crazy Rye. Em breve faremos um post só sobre esta cervejaria corajosa e criativa.

A campeã Bodebrown, de Curitiba, lançou um vídeo mostrando tudo o que vai levar para o festival. São 2 mil litros de cerveja em 18 rótulos, sendo que 5 deles envelhecidos em barris por até 18 meses. Assista ao vídeo:

 Destaques

Mais uma delícia que degustamos: a Coruja Labareda, que o talentoso Rafael Rodrigues nos apresentou com sua simpatia característica. Uma cerveja com pimenta, complexa, que traz alegrias aos sentidos e pede outro gole na sequência.

A alegria de beber mais uma vez a maravilhosa Funk IPA, da Cervejaria 2Cabeças, só não é maior que a de encontrar Maira Kimura e Bernardo Couto. Alias, parabéns pelas Medalhas de Bronze recebidas pela  Hi5 e a propria Funk IPA

Uma delícia também os sorvetes, feitos com cerveja é lógico!, da Gelataio de Curitiba.

Enfim, são muitos rótulos diferentes e nunca conseguiriamos provar todos apenas numa noite. O festival prossegue até dia 15 e no próximo post comentaremos sobre seu desfecho e as eleições para a Associação Brasileira das Microcervejarias.

Festival Brasileiro da Cerveja
Data/horário: 12 a 15 de março de 2014 (de 12 a 14 a partir das 19h e no dia 15 a partir das 15h)
Local: Parque Vila Germânica, em Blumenau (SC)
Mais informações: www.festivaldacerveja.com

O maior encontro da cerveja artesanal brasileira

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festblumenau

O mundo cervejeiro está em expectativa e trabalhando para tudo dar mais que certo no Festival Brasileiro da Cerveja, no Parque Vila Germânica, em Blumenau, entre os dias 12 e 15 de março. Além do crescimento em número de estandes e publico esperado, o Festival é o lugar onde lançamentos são feitos, palestras ampliam o conhecimento dos iniciados, shows garantem a diversão e prêmios são disputados.

Na programação das sete palestras e dois debates deste ano, a organização fez uma parceria com a Escola Superior de Cerveja e Malte, lançada nas últimas semanas na cidade e primeiro curso de nível superior da América Latina. A legislação das microcervejarias e as tendências do mercado são alguns dos assuntos que serão discutidos. A programação completa das palestras e debates você encontra aqui.

A premiação principal – II Concurso Brasileiro de Cerveja – será apresentada pelo Sady Homrich, baterista do Nenhum de Nós, e conhecido no mundo cervejeiro pelo seu amor e conhecimento às artesanais.  Este ano, 414 rótulos de 83 cervejarias disputam os prêmios, 92% a mais do que na primeira edição em 2013. Estes números mostram o crescimento do mercado, da própria indústria e o reconhecimento desta pelo evento. Trinta jurados farão esta escolha e sete profissionais são estrangeiros vindos do Chile, Argentina, Uruguai, Alemanha e Itália. Os 23 demais são brasileiros e se dividem entre sommeliers de cerveja, mestres cervejeiros e especialistas.

Mas não é só este prêmio que está sendo disputado este ano. A AcervA Catarinense e o Beer Judge Certification Program (BJCP) realizarão três exames para certificar juízes internacionais de cerveja. Essa certificação amplia o profissionalismo nas competições brasileiras.

A Cervejaria Colorado entregará o prêmio Randy Mosher de Design de Rótulos colocando em foco um dos aspectos mais interessantes desta indústria: a não padronização e a criatividade que este mercado aprecia. Serão dois prêmios: rótulos de linha e de bandas. Randy Mosher é um dos mais importantes designers de rótulos do mundo e é o responsável pelo famoso urso da Colorado e estará no Brasil presidindo este júri.

Dois palcos foram montados para receber 26 grupos de variados estilos musicais que têm ligação com o mundo cervejeiro. A programação está aqui. Oito pontos gastronômicos disputarão também a preferência do público servindo petiscos, pratos e salgadinhos que combinam com os tipos de cerveja que estarão no festival. Os restaurantes e pratos que poderão ser saboreados estão nesta lista aqui.

Em Blumenau também será o lançamento da Eisenbahn American IPA, com receita dos mineiros Fabert Araujo e André Canuto, vencedores do IV Concurso Mestre Cervejeiro Eisenbahn, novo rótulo que estará à venda nos mercados em abril. Num evento paralelo e aproveitando a presença de todos em Blumenau a nova Eisenbahn será degustada e festejará a parceria entre cervejeiros caseiros e a indústria.

Outro evento que não é aberto ao público, mas é um dos mais importantes que acontecerão estes dias em Blumenau, é a eleição da primeira diretoria da novíssima Associação Brasileira de Microcervejarias. A união de todos os produtores numa associação só fortalece negociações que terão que ser feitas visando a diminuição do preço das artesanais brasileiras e outras questões que cercam os microcervejeiros brasileiros.

Enfim, Blumenau será a capital das artesanais brasileiras entre o 12 e 15 de março e o publico pode comprar seu ingresso antecipado na internet evitando filas neste site. O preço de 12 reais inclui um copo e menores de 18 anos só entram acompanhados pelos pais.

As Lupulinas estarão em Blumenau e vão contar na semana que vem tudo o que rolou por lá.

Festival Brasileiro da Cerveja
Data/horário: 12 a 15 de março de 2014 (de 12 a 14 a partir das 19h e no dia 15 a partir das 15h)
Local: Parque Vila Germânica, em Blumenau (SC)
Mais informações: www.festivaldacerveja.com

 

 

Chuva, Suor e Cerveja: as boas deste carnaval

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boteco com way

O Carnaval tai e folionas e foliões já começam a ocupar alegremente as ruas. Esta é a época do ano em que Os Grandes da Indústria Cervejeira investem pesado no marketing da festa, na mulherada com bunda de fora, em blocos de rua, camarotes e associam suas marcas ao hedonismo e à zueira. Essas cervejas abundam no Carnaval e nós, Lupulinas, não estamos interessadas nelas.

Nós, que gostamos de cervejas artesanais e também de carnaval, precisamos lançar mão de alguns truques e recursos para aproveitar a festa com cervejas mais ao nosso gosto. Aqui vão umas dicas:

1. Aproveite a moda dos rolês do isoporzinho e leve suas favoritas para a rua, devidamente refrescadas num cooler ou isopor. Carregue-as para o bloco, pra dividir com amigos e amigas. Deposite os cascos vazios em local apropriado para reciclagem. Limpe depois toda sua sujeira.

2. Cole em algum bloco que passe perto de bares que vendam cervejas artesanais e assim se abasteça no meio da folia. Não mije na rua.

3. Se for assistir desfiles pela TV, encha a geladeira com delicinhas artesanais, convide a galera (e que ela venha também com cervejas boas) e seja você o rei do seu camarote. Trate bem os convidados e sirva petiscos pro pessoal não queimar a largada.

4. Se você for fugir da folia e se isolar num sítio, não se esqueça de levar caixas e caixas de artesanais para viagem e não as deixe sofrer com o sol e o calor. E se beber, não dirija.

5. Se for fazer um churrasco, peça chopp artesanal para sua festa. Há micro-cervejarias que distribuem seus barris também para pessoas físicas, como a Bamberg Express, aqui em SP.

6. Muitos supermercados de rede vendem artesanais, inclusive geladas. Se você der sorte, pode achar algumas nas prateleiras enquanto dá aquela escapadinha da folia para dentro do mercado. Rótulos como Eisenbanh, Colorado e Baden Baden são os mais fáceis de encontrar.

Por fim, recomendamos os estilos mais leves e menos alcoólicos, ideais para quem vai passar o dia inteiro bebendo, provavelmente, sob forte calor. Lagers, Pilseners, Weizen/Weiss e Pale Ales. Ah! E não esqueçam da água que dá aquela qualidade de cervejeiro fundista.

 

Sugestões : (escolhemos cervejas mais fáceis de encontrar nas prateleiras dos supermercados – somente brasileiras)

Eisenbahn Pilsen (latão especial de 473ml)
Way Pale Ale
Way Premium Lager
Bamberg Kolsch (sazonal de carnaval)
Bamberg Camila Camila
Colorado Appia
Baden Baden Cristal
Amazon Taperebá Witbier

 

Lager: a favorita da galera

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Muita gente fica confusa quando o assunto é o tipo da cerveja que bebemos ou queremos beber. Básicamente as cervejas podem ser lagers ou ales. Vamos, neste post, falar só das lagers que são as cervejas mais consumidas do mundo. No Brasil, só pra dar idéia da popularidade, 99% das cervejas consumidas são do tipo lager (e industrializadas, já que o hábito de beber artesanais, embora cresca ano a ano, ainda não faz parte do dia a dia do brasileiro, por inumeros motivos que ainda abordaremos aqui no Lupulinas).

Basicamente, o que diferencia uma ale de uma lager é o processo de fermentação das cervejas. As ales passam por um processo de alta fermentação em temperatura ambiente. As lagers são menos fermentadas e o processo ocorre sob temperaturas frias. Graças a este processo de (baixa) fermentação, as cervejas estilo lager resultam geralmente mais límpidas e menos opacas. Quanto à coloração as lagers variam, de amarelo claro até completamente pretas e, em geral, são menos alcoólicas que as ales. Outra diferença entre os dois tipos é que a levedura é colocada acima do mosto nas ales e abaixo dele nas lagers.

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Outro ponto é que, graças sua leveza, as lagers pedem para ser bebidas refrigeradas, enquanto as ales devem ser servidas em temperatura ambiente. Obviamente essa observação é um tanto eurocêntrica. Aqui no Brasil, a verdade é que refrescamos as ales e gelamos as lagers porque o calor de verão assim exige. Tudo é adaptação.

Para melhor explicar os tipos e subtipos de cerveja lager, resolvemos emprestar esse infográfico bacaninha do livro “Brasil Beer – O guia das cervejas brasileiras“.

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Pois então, camaradas, temos lagers escuras (bocks e dunkels), douradas (vienna) e as claríssimas (dortmund e pilseners). Elas variam também na adição de lúpulos, com o amargor variando de 8 a 35 IBU (exceto as tchecas, mais lupuladas, que alcançam 45 IBU).

Talvez o mais conhecido subtipo de lager dos brasileiros seja a pilsener (também chamada de pilsen), bem clara, não muito amarga e levemente aromática. Ela deve seu nome a cidade de Pilsen, República Tcheca, onde foi criada em 1842 por um cervejeiro local, da região da Bohemia. Mas o que as indústrias no Brasil afirmam ser pilsen soaria como insulto entre os tchecos. A mistura de milho descaracteriza totalmente a pilsen brasileira industrial.

Nós, Lupulinas, gostamos especialmente das tchecas. Fomos até Praga em busca de suas famosas lagers. No Pivovarský Dům (literalmente, “Casa do Cervejeiro”), bar-cervejaria não muito longe do centro, experimentamos duas clássicas lagers tchecas: a clara e a escura (há também a opçao de misturar as duas). Bebidas assim, fresquíssimas, direto da torneira onde os caras fabricam a cerveja, é uma experiência única. A cervejaria não envasa, mas você pode levar um growler pra casa ou para o hotel (falaremos mais de Praga em outro post).

Outra famosa e deliciosa cerveja que provamos em Praga foi a lager do U Fleku, bar-cervejaria perto do Teatro Nacional. A U Fleků Flekovský Tmavý Ležák 13° (sim, é este o nome da cerveja) é bem escura, límpida, redondíssima, leve e só encontrada em suas torneiras (eles não engarrafam).

A verdade é que há um mundo de lagers a ser explorado e para isso selecionamos algumas artesanais brasileiras para a galera:

LAGERS ARTESANAIS BRASILEIRAS (tipo e estado em que são porduzidas)

Biritis – Vienna Lager – RJ
Way Premium Lager – Premium American Lager – PR
Way Beer Amburana Lager – maturada em barril de amburana – PR
Schornstein Pilsen – American Lager – SP
Backer Capitão Senra – Amber Lager – MG
Baden Baden Crystal – American Lager – SP
Bamberg Camila Camila – Bohemian Pilsen – SP
Colorado Cauim Pilsen – Pilsener com féculas de mandioca – SP
Coruja Extra Viva – Lager Premium – RS
Jan Kubis – Amber Lager – PR
Eisenbahn Pilsen – Lager – SC
Eisenbahn 5 – Amber Lager com dry hopping – SC
Falke Bier Red Baron – Vienna Lager – MG
Invicta – German Pilsener – SP
Mistura Clássica Mary Help – Vienna – RJ
Morada Double –  Vienna – PR
WÄLS Pilsen – Pilsen Bohemia – MG
WÄLS X-Wals – American Lager – MG

Cerveja de Trigo: suave e macia como os campos de lá

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campo de trigo 1888

A cerveja de trigo é a porta de entrada para novos consumidores de cerveja artesanal. Provavelmente porque, sem muito lúpulo, ela não se caracteriza pelo amargor pronunciado, facilitando o paladar do querido novato (beijo, Pedro Alex :)) Nascida e consumida principalmente na região sul da Alemanha, a famosa Baviera, ela foi apelidada de Weissbier (cerveja branca) por ser mais clara que as Ales consumidas na Idade Média, mas também atende pelo nome de Weizenbier (cerveja de trigo). Dá tudo na mesma. Ela veio pra ficar, ganhou o velho mundo, atravessou oceanos e chegou às Américas.

Para nosso clima ela é excelente. Primeiro, porque é uma cerveja refrescante e seus componentes cítricos, com toques de banana e laranja, combinam com o clima tropical. Mas não é só isso: elas casam muito bem com peixes ou frutos do mar, com pratos apimentados ou petiscos picantes, sendo uma companhia perfeita para a vida praiana. Considerando que temos oito mil quilômetros de litoral, sua carreira promissora está apenas começando no Brasil.

Além da cevada, usual em outros tipos de cerveja, a Weissbier (chamada também de Hefeweizen, Weizenbier ou Hefeweissbier) contém malte de trigo, o que lhe confere um aspecto turvo porque o trigo não é tão facilmente filtrável. Mas não se importe com sua aparência opaca: é nela que reside toda a graça e complexidade das Weiss. E é no fundo da garrafa – que deve ser guardada de pé na geladeira e não balançada antes do consumo – que fica o depósito espesso de leveduras que deve ser misturado ao copo na hora de servir. Como geralmente as cervejas de trigo vêm em ampolas de 500 ml é recomendado aquele copo alongado, para o aproveitamento deste néctar depositado no fundo da garrafa. Se você não o tiver à mão ou for dividir, basta compartilhar também a levedura, fraternalmente.

As marcas alemãs mais conhecidas ao redor do mundo são Paulaner, Erdinger, Schneider Weisse, Weihenstephan e Franziskaner, sendo esta última a preferida das Lupulinas. Tivemos também o prazer de experimentar a Watou’s Wit, uma belga fabricada em Poperinge, a capital do lúpulo. Bem refrescante e com um toque de limão maravilhoso. Uma boa relação custo-benefício aqui no Brasil é a lata da Oettinger Hefeweizen, honesta e equilibrada.

Mas a delícia mesmo é que as cervejas de trigo começaram a ser fabricadas no Brasil por cervejarias artesanais que têm oferecido uma variedade incrível. Misturando ingredientes locais, como pede a tradição do artesanal, listamos abaixo algumas de nossas preferidas (lembrando que, assim como novas marcas saem e entram no mercado, estamos em constante atualização).

As Brasileirinhas

- Eisenbahn Weizenbier (Cervejaria Eisenbahn, Blumenau, SC) – bem aromática é nossa brasileira de trigo preferida. Bem mais densa e encorpada do que as similares nacionais, tem boa acidez, com acentos de banana e cravo. É naturalmente turva, além de possuir uma linda cor dourada. É bastante refrescante também. ABV 4,8

- Hop Weiss (Cervejaria Bodebrown, Curitiba, PR) – o mestre cervejeiro conseguiu adicionar mais lúpulo (inclusive fresco, através de dry hopping) a esta cerveja de trigo de maneira bastante equilibrada. Nem o frutado e nem o amargor se sobressaem, sobrando frescor. Adoramos porque apreciamos adição de lúpulos (tradicionais amantes de Weiss podem estranhar, contudo).  ABV 4,9 IBU 34,1

- Bamberg Weizen (Cervejaria Bamberg, Votorantim, SP) – bastante leve, refrescante, com banana discreta (mais no aroma que no sabor) e sutil amargor e boa acidez que a deixam menos frutada. ABV 4,8

- Appia – (Cervejaria Colorado, Ribeirão Preto, SP) – o diferencial é a utilização de mel em sua composição. ABV 5,5

- Wäls Witte (Cervejaria Wäls, Belo Horizonte, MG) – refrescante, de receita belga, traz ao paladar gosto de laranja e especiarias. ABV 5 IBU 20

- Witbier Taperebá (Cervejaria Amazon, Belém, PA) que como o nome indica leva em sua receita a fruta amazônica taperebá, também conhecida como cajá. Bem refrescante, ela segue a tradição das receitas belgas. ABV 4,7

 

P.S.: Não incluímos a Hoergaarden nesta lista porque ela tem uma fabricação diferenciada e ganhará um post só dela. #kiridinha